Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 40

(Larissa)

O quarto estava meio escuro, só com a luz do abajur no canto. Eu tentava tirar os brincos, com o corpo todo pedindo arrego. A cabeça latejava, não só pelo cansaço, mas por tudo que aconteceu nas últimas horas.

Joguei a echarpe por cima da poltrona e comecei a abrir os botões da blusa quando ouvi três batidinhas na porta.

— Pode entrar — falei, sem nem tentar disfarçar o cansaço na voz.

Margarida apareceu. Sempre tão serena, mas hoje... tinha algo diferente no olhar dela. Trazia uma bandeja simples nas mãos, com uma xícara de chá soltando aquele vaporzinho quente e acolhedor.

— O senhor Alessandro pediu pra eu trazer isso — ela disse, entrando devagar. — É chá de camomila... para ajudar a senhora a relaxar um pouco.

Fiquei surpresa. Peguei a xícara com cuidado, sentindo o calor nas mãos, e aquilo me deu um leve conforto.

— Obrigada, Margarida… — murmurei, tentando não deixar a emoção transparecer demais. — Achei que ele estivesse ocupado demais pra se importar.

Ela fechou a porta com delicadeza e foi até a poltrona perto da cama. Sentou ali com aquele jeitinho dela, como quem queria conversar, mas ainda tateava as palavras.

— Ele… perguntou da senhora ontem — começou, com os olhos nas próprias mãos. — Veio até aqui. Parou na porta, ficou ali, quieto. Ele dormiu na cama da senhora.

Soltei um suspiro. Dei um gole no chá, tentando bancar a indiferente, mas a garganta apertou. Eu sabia que Margarida só queria ajudar. Sempre quis.

— Margarida… — falei baixo, olhando pra xícara antes de encará-la. — Eu sei que você torce por nós dois. Que queria que as coisas voltassem a ser como antes. Mas não vai. A verdade é que eu e o Alessandro… a gente não tem mais solução.

Ela franziu a testa. Como se minhas palavras fossem um tapa, daqueles que doem mais por dentro do que fora.

— Ah, dona Larissa… a senhora sabe que eu não sou de me meter. Mas às vezes o que parece sem solução é só orgulho demais dos dois lados.

— Não é só orgulho — interrompi, com a voz baixa, cansada. — É desgaste. É mágoa. É coisa que não dá pra desdizer. A gente se perdeu no meio disso tudo… e agora cada um tenta seguir como pode, sem esbarrar demais no outro.

O quarto ficou em silêncio. Margarida me olhou com aquele carinho de sempre, como se enxergasse além do que eu mostrava.

— A senhora esteve em Chicago, né? — soltou de repente.

Eu congelei por um segundo. Não disse nada. Só desviei o olhar. E isso já bastou. Ela não insistiu, só assentiu, com um jeito compreensivo.

— Só achei a senhora mais calada hoje. E triste. Mais do que costuma deixar transparecer.

Soltei um riso curto, sem vida.

— É, tô tentando esconder. Mas tem hora que transborda, né?

Ela se levantou, veio até mim e ajeitou uma mecha do meu cabelo.

— Vai descansar, dona Larissa. O corpo pede pausa… mas o coração também precisa de cuidado.

Sorri, pequeno, mas verdadeiro.

— Obrigada, Margarida. Pelo chá. Pela preocupação. Por tudo, de verdade.

Ela foi até a porta, mas antes de sair, olhou pra mim uma última vez.

— Ele ama a senhora. Mesmo que não saiba mais como dizer isso.

Não respondi. Só fechei os olhos, sentindo o peso dessas palavras caírem sobre mim. Quando ouvi a porta se fechar, deixei a xícara na mesinha de cabeceira e me joguei na cama, ainda vestida, agarrando o travesseiro como se fosse a única coisa capaz de me manter inteira.

***

Na manhã seguinte, coloquei uma camisa azul clara, simples, e prendi o cabelo num coque baixo meio improvisado. Tinha dormido mal, mas pelo menos o chá de camomila me segurou até o meio da noite. E agora eu só queria que o dia passasse rápido.

O elevador parou no 11º andar, e eu saí com a pasta na mão e uma xícara de café na outra. Rafael já me esperava encostado na porta da sala do senhor Oliveira, todo arrumadinho como sempre, com aquele sorriso fácil e o blazer alinhado.

— Dormiu bem? — ele perguntou, me acompanhando com o olhar.

— Bem o suficiente pra estar aqui de pé — respondi com uma meia risada. — E você?

— Dormir eu dormi… o problema foi acordar, né? Depois daquele congresso, só por Deus. Vamos lá?

Assenti e entramos na sala do senhor Oliveira, que nos recebeu com aquele entusiasmo sereno de sempre.

— Larissa, Rafael, bom dia! Estava ansioso por esse relatório. Fiquei sabendo que a apresentação de vocês foi muito elogiada.

— Foi sim, senhor Oliveira. — respondi, sentando ao lado de Rafael. — Trouxemos os relatórios atualizados e algumas propostas de parceria com três empresas que demonstraram interesse direto.

— Perfeito. Podem começar.

Eu fiquei ali, estática. Olhei pra Alessandro com uma raiva que me subiu pelas veias.

— Você tem noção do que acabou de fazer?

— Tenho. Protegi os interesses da empresa.

— Não. Você atacou um dos poucos que ainda estavam do seu lado. Só porque não aguenta ver as pessoas próximas a mim?

— Ele tava ficando próximo demais — ele disse, sem disfarçar. — E você sabe disso.

— Você é inacreditável — soltei, dando dois passos até ele. — Não consegue lidar com seus próprios sentimentos, então faz birra como se o mundo fosse teu brinquedo.

— E você? Vai ficar do lado dele agora?

— Eu tô do lado de quem não usa poder pra manipular os outros!

Alessandro me olhou por um segundo, firme.

— Eu não manipulo. Eu decido. E você, Larissa… ainda não entendeu a diferença.

Fiquei sem resposta. Ele saiu da sala com a mesma intensidade com que entrou. Fiquei ali, sozinha, com o gosto amargo da injustiça na boca e uma vontade absurda de gritar.

Saí da sala logo depois dele. Meus passos eram apressados, quase ansiosos. Sabia que ia encontrá-lo no corredor, talvez bufando de raiva ou tentando controlar a frustração como sempre fazia.

E lá estava ele. Encostado na parede perto do elevador, com os olhos fechados e os punhos cerrados.

— Rafael… — chamei, mais suave do que pretendia.

Ele abriu os olhos devagar e me olhou com uma expressão que me cortou por dentro. Um misto de decepção e mágoa.

— Eu não entendo — ele disse de cara, sem me dar tempo de falar nada. — Sério, Larissa… eu não entendo o que eu fiz pra ele me tratar assim.

Me aproximei, hesitante, sentindo o peso do que viria.

— Eu também não entendo, Rafael. Quer dizer… — respirei fundo. — Ele tá completamente fora de si. Não tinha o direito de fazer isso com você.

— Mas é só comigo? Ou é quando eu tô com você? — ele perguntou direto, e me pegou desprevenida. — Porque, vamos ser honestos… a mudança dele vem toda vez que a gente começa a se aproximar mais.

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