Eu fiquei muda por um instante. Ele tinha razão. E isso doía mais do que eu queria admitir.
— Não é culpa sua — falei, rápido demais. — Rafael, você não fez nada de errado. Eu que… — engoli seco. — Eu que devia ter sido mais sincera com você.
Ele me olhou, confuso.
— Sincera sobre o quê?
— Sobre mim… sobre o que tá acontecendo entre mim e o Alessandro. Ou o que aconteceu. — Desviei o olhar, sentindo meu rosto esquentar. — É tudo uma bagunça. E eu… eu não quis te colocar no meio disso.
Rafael soltou uma risada irônica, mas não havia alegria nenhuma nela.
— Já tô no meio, Larissa. Desde o momento em que ele entrou naquela sala me expulsando como se eu fosse um estagiário qualquer.
— Eu sei. — Abaixei a cabeça. — E eu sinto muito por isso.
— Sabe, eu nunca imaginei que ele fosse desse tipo. Tão controlador… tão mesquinho. — Ele passou a mão pelos cabelos, irritado. — Sempre achei que o problema fosse entre vocês dois, mas agora parece que o problema… sou eu. Só por estar perto de você.
— Não é você — eu insisti. — É ele.
Rafael me encarou.
— Então vocês realmente tem alguma coisa?
Travei. Aquela pergunta me bateu em cheio. Eu queria negar. Queria dizer que não era mais nada, que estava tudo enterrado. Mas… não consegui. O contrato ainda estava valendo e se eu contasse e Alessandro descobrisse, teria sérios problemas. Então, o silêncio foi resposta suficiente.
Rafael soltou o ar com força.
— Entendi.
— Rafael…
— Tá tudo bem, Larissa. — Ele forçou um sorriso. — Quer dizer… não tá. Mas eu vou ficar bem. Só… precisava entender. Só isso. Quando você estiver pronta e quiser contar, é só me procurar.
O elevador chegou, e ele entrou sem dizer mais nada. Me deixou ali, sozinha no corredor, como se tivesse levado uma parte minha com ele.
E eu fiquei pensando… em como as coisas podiam ter sido diferentes, se eu tivesse tido coragem de ser sincera desde o começo.
Mas agora já era tarde. E alguém que eu me importava acabava de ser ferido, mais uma vez, por causa de algo que nem eu sabia nomear.
Encarei meu reflexo no elevador e suspirei sentindo o sangue ferver. Entrei no elevador e subi até o andar dele. Cada passo era como um tambor batendo no meu peito. A secretária do Alessandro, aquela loira sem sal que mal me olhava na cara, se levantou assim que me viu cruzando o corredor.
— Dona Larissa, o senhor Alessandro está em uma reunião, não sei se agora é um bom momento…
— Sai da frente. — Eu nem olhei pra ela direito, só empurrei a porta com força e entrei.
E foi aí que o baque veio.
Chiara.
Sentada na cadeira em frente à mesa dele, toda arrumadinha, como se tivesse acabado de sair de um editorial de revista.
Ela me olhou surpresa, e Alessandro levantou o olhar na mesma hora.
A raiva que já estava em mim explodiu.
— Cuida melhor dele, Chiara — soltei, a voz embargada de ódio e ironia. — Porque ele parece ter dificuldade em manter distância quando a gente termina. Fica me perseguindo, me atormentando… e agora, como cereja do bolo, acabou de mandar o Rafael pra Alemanha. Por quê? Porque viajamos juntos. Por pura birra.
— Como é? — Chiara olhou pra Alessandro, confusa. — Isso é verdade?
Alessandro ficou tenso. Nem tentou disfarçar.
— As coisas não foram dessa forma
— Você me disse que a transferência era uma decisão estratégica!
— Depois a gente conversa.
— Alessandro… — ela sussurrou, com os olhos marejando.
Chiara se levantou da cadeira fingindo estar chateada, mas não me importei e passei por ela. Minha mãe ergueu no ar e com toda a minha força acertei um tapa no rosto de Alessandro. Seco, forte, com tudo que eu estava sentindo preso no peito. Ele virou o rosto, mas nem recuou.
Chiara deu um gritinho agudo e se enfiou entre nós dois, me empurrando com as duas mãos.
— Sua louca! Não encosta nele!
— Sai da frente! — rebati, tentando me controlar. — Ou a próxima será você.
— Chiara! — Alessandro disse, frio. — Vai embora.
Ela parou. Piscou umas vezes, tremendo, e olhou pra ele como se não estivesse acreditando no que estava ouvindo.
— Você tá mesmo me mandando embora?
— A gente conversa depois. Agora, vai, por favor.
A voz dele foi dura. Seca. Sem espaço para dúvidas.
Chiara saiu chorando, batendo os saltos no chão como se aquilo fosse a última cena de uma peça mal ensaiada.
E então ficamos só nós dois. Eu respirava pesado. O tapa ainda ardia na minha mão, mas o que doía mesmo era por dentro.
Ele deu um passo na minha direção, mas eu ergui a mão, mandando ele parar.
— Você é patético, de verdade. Um homem digno de pena.
Ele franziu a testa, mas não falou nada.
Ela suspirou fundo, olhando pra mim com ternura. Depois sussurrou, quase para si mesma.
— Aquele idiota… ainda vai perder tudo de bom que tem na vida, e nem vai perceber.
Sentei mais fundo no sofá, e ela me abraçou. Um abraço de verdade, apertado, com aquele calor de colo de vó que parecia capaz de colar os pedaços do meu peito.
— Você pode ficar aqui o tempo que quiser, Larissinha. Não se preocupa com nada. Aqui você tá segura, tá bem?
Assenti, ainda com a garganta fechada.
— Obrigada… — consegui dizer, mesmo que minha voz estivesse quase sumida.
Ela me ajudou a subir, com aquele cuidado delicado que só uma senhora amorosa saberia ter. Me deixou na porta do quarto que era do Alessandro e que ficamos quando estamos aqui.
Entrei sem falar nada e ela saiu, me deixando sozinha. Tirei os sapatos, entrei no banheiro e deixei a água quente cair sobre mim, lavando não só o corpo, mas a alma. Deixei as lágrimas caírem de novo, misturadas com o vapor do banho.
Depois, coloquei uma camisola que estava numa das gavetas e me deitei naquela cama enorme. Cheirosa e silenciosa. Me afundei no travesseiro com o coração espremido, mas aliviado. Ali eu podia desmoronar sem que ninguém exigisse nada de mim.
Fechei os olhos e talvez movida por todo o cansaço, apaguei em poucos minutos.
E só o fato de não ter que olhar pra ele de novo naquele dia… já me dava um respiro de paz. Mesmo que a dor ainda estivesse ali, doendo pra caramba.
Desci as escadas com o cabelo ainda úmido e o rosto cansado. Mas, pela primeira vez em dias, eu não sentia aquele peso esmagador no peito. A mansão era silenciosa, exceto pelo som distante de talheres sendo organizados na sala de jantar.
Foi quando vi o senhor Lúcio entrando na sala com os óculos na ponta do nariz e uma expressão surpresa no rosto.
— Ora, ora… — ele ajeitou os óculos e franziu o cenho. — Larissa? É você mesmo?
— Oi, Lúcio — tentei sorrir, mas minha voz saiu arrastada.
— O que houve? Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou, já tirando o celular do bolso do paletó. — Aquele neto te fez alguma besteira, foi?
— A gente brigou — falei, sincera.
Ele apertou os olhos, e o dedo já ia tocando na tela pra ligar, provavelmente pra soltar uns bons palavrões no ouvido do Alessandro, mas eu levantei a mão depressa.
— Por favor… não liga pra ele. — Falei rápido. — Se ele souber que eu tô aqui, ele vai vir atrás de mim. E aí a gente vai acabar brigando mais ainda. A cabeça dele tá cheia e a minha também.
Lúcio hesitou por um segundo, depois baixou o celular lentamente.
— Então tá. — Ele suspirou. — Mas eu vou te dizer uma coisa: aquele moleque tem a cabeça dura igual ao pai. E se fez alguma merda com você, vou dizer poucas e boas quando tiver a chance.
— Eu só… queria descansar um pouco de tudo isso. Só isso — falei, olhando para o chão.
— Tudo bem, minha filha. — Ele sorriu com ternura, depois fez um gesto com a mão. — Vamos jantar. Teresa fez frango assado. E tem arroz com alho e batata gratinada, do jeito que você gosta.
Eu sorri. Dessa vez de verdade.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...