Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 39

(Larissa)

Chicago

O frio batia leve no rosto, daquele jeito gostoso de outono, com o vento bagunçando um pouco meu cabelo e o cheiro de café e folhas secas invadindo o ar. Rafael e eu caminhávamos tranquilamente pelo Millennium Park. As árvores estavam todas em tons de laranja e dourado, como se a cidade tivesse passado um filtro vintage.

Quando paramos em frente ao “Bean”, tirei as mãos dos bolsos e olhei meu reflexo distorcido naquela escultura metálica. Por um instante, não me reconheci. E, sinceramente? Foi bom.

— Você sabe que foi a estrela da noite ontem, né? — Rafael falou, com aquele sorriso relaxado de sempre. — O pessoal estava babando na sua apresentação.

— Não exagera — respondi, meio sem graça. — Mas... foi bom. Sei lá. Me senti leve. Como se, por algumas horas, eu fosse só “Larissa”, entende? Sem rótulo, sem cobrança... sem...

Engasguei as palavras antes de completar a frase. Sem marido. Sem uma relação afundando.

Rafael me lançou um olhar de lado, curioso, mas não insistiu. Ele era assim. Tinha esse jeito discreto que me fazia sentir confortável.

— Talvez você devesse fugir mais vezes para congressos em Chicago — ele disse, provocando, e eu ri.

— Quem sabe, né?

Alguns minutos depois, ele decidiu entrar em uma cafeteria charmosa na esquina pra buscar cafés pra gente. Eu preferi ficar na calçada. Estava gostando de observar a vida ali, o vai-e-vem das pessoas apressadas e os artistas de rua tentando captar um pouco de atenção. Cruzei os braços, sentindo o calor do sol fraco no rosto.

Foi aí que senti o puxão.

Eu nem vi direito de onde o homem saiu, mas num segundo ele estava do meu lado e no outro, com a minha bolsa na mão.

— Ei! — gritei, quase por instinto, tentando puxar de volta. — Larga isso!

Ele me empurrou levemente pra desequilibrar, mas antes que eu caísse ou ele conseguisse fugir, alguém apareceu como um raio.

Um cara — alto, casaco escuro, olhar certeiro — correu em nossa direção e agarrou a bolsa com uma firmeza absurda. O ladrão hesitou, tentou resistir, mas desistiu e saiu correndo xingando em voz baixa.

Eu ainda estava com o coração na garganta quando o homem se virou pra mim.

— Você tá bem? — ele perguntou com um tom de voz calmo, mas firme.

Assenti, respirando fundo.

— Sim... eu... obrigada. Sério. Nem sei o que foi isso.

— Tentativa de roubo. Acontece. Mas você teve sorte. E bons reflexos. — Ele sorriu, e só então percebi o quão bonito ele era. Tinha traços marcantes, olhos escuros e um ar tranquilo, confiante. Seu sotaque era leve, talvez italiano?

— Obrigada por ter ajudado. De verdade. — Eu segurei a bolsa com força, como se ela pudesse sair voando de novo. — Você foi rápido.

— Costumo ser. — Ele fez uma leve reverência com a cabeça. — Enzo.

— Larissa — respondi, ainda um pouco ofegante.

— Você é turista? — ele perguntou, com aquele sorrisinho simpático no canto dos lábios.

— Estou a trabalho. Mas... sim, turista também.

Ele abriu a boca pra dizer algo, mas Rafael apareceu nesse momento com dois copos fumegantes na mão.

— Tá tudo bem? — ele perguntou, olhando entre mim e Enzo, claramente confuso.

— Agora tá — respondi. — Tentaram levar minha bolsa, mas o senhor Enzo aqui impediu.

Ele estendeu a mão pra Rafael, que aceitou o aperto com um olhar agradecido.

— Obrigado, cara. Isso é sério... ainda bem que você estava por perto.

— Eu que agradeço pela confiança — ele respondeu, soltando a mão de Rafael e voltando a olhar pra mim. — Achei que fossem um casal.

— Não! — eu e Rafael dissemos ao mesmo tempo.

A gente riu, meio sem graça.

— Só amigos. Colegas de trabalho — Rafael completou, erguendo um dos cafés na minha direção. Peguei com as mãos ainda meio trêmulas.

— Entendi. Bom... foi um prazer conhecer vocês. Espero te encontrar de novo, Larissa. Se o destino quiser. — Enzo piscou com leveza e começou a se afastar.

Fiquei observando ele sumir entre as pessoas, ainda com o coração acelerado.

— Você está colecionando admiradores internacionais agora? — Rafael provocou, com uma expressão debochada.

Revirei os olhos, dando um gole no café.

— Ai, Rafael...

Mas, mesmo rindo, minha mente ainda ficou ali, meio presa naquela cena. Enzo parecia ter saído de um daqueles livros que eu lia escondida na adolescência. Um desconhecido que apareceu, salvou e sumiu. Simples assim.

Cheguei em casa sentindo o cansaço agarrado aos meus ombros, como se o tempo tivesse me arrastado pelos dias em câmera lenta. A chave girou na fechadura com um clique seco, mais alto do que o normal, ou talvez fosse só meu coração acelerado, inquieto, avisando o que minha mente ainda não tinha aceitado por completo.

E lá estava ele.

Alessandro. Sentado na poltrona da sala, o blazer ainda nos ombros, como se tivesse acabado de chegar — mas o copo de uísque na mão, quase cheio, dizia outra coisa. Os olhos estavam escuros, atentos demais. O tipo de olhar que não se tem por acaso.

— Voltou cedo — ele comentou, a voz baixa, quase casual.

Tentei parecer natural, tirando o casaco e pendurando com calma.

— Guilherme chegou mais cedo.

— Uhum. E seu pai? Tudo certo com ele?

— Ah, não me deve? — Ele deu um passo à frente. — Engraçado, achei que quando se tá em um relacionamento, a gente ainda deve algum nível de respeito!

— Relacionamento? Você só lembra que a gente tá junto quando quer controlar alguma coisa. O resto do tempo tá muito ocupado tomando café com a Chiara ou se trancando no escritório como se eu fosse um incômodo!

— Isso é o que você pensa de mim?

— Isso é o que você mostra! Alessandro, eu não aguento mais essa guerra fria dentro de casa. Eu só queria um tempo, um respiro. Mas você transforma qualquer coisa numa arma!

— Porque você mentiu! — ele gritou. — Você pegou um voo com o Rafael, passou dois dias fora, e nem se deu ao trabalho de me dizer a verdade! O que você queria que eu pensasse?

— Que talvez eu só quisesse paz! — gritei de volta, a voz embargada. — Que talvez tudo o que eu queria era dois dias longe de você, longe dessa confusão, dessa tensão constante! Só isso! Dois malditos dias!

Ele me encarava como se eu tivesse lhe dado um tapa.

— Vai me dizer que não rolou nada entre vocês? — sussurrou.

— Quer saber? Eu não vou nem responder. Porque você não quer a verdade. Você só quer um motivo pra continuar esse jogo doentio.

Ele respirou fundo, a mandíbula tensa.

— Você me esconde, depois me culpa por desconfiar. Você mente, e diz que sou eu quem faz guerra.

— Porque é isso mesmo. E quer saber? Vai lá, Alessandro. Vai passar a noite com a Chiara. Com ela você não precisa fingir nada, né? Não precisa enfrentar, nem discutir. Vai lá… e me deixa em paz!

Meus olhos ardiam, o peito subindo e descendo de forma irregular. E antes que eu pudesse dar mais um passo, a tontura me atingiu.

O zunido no ouvido veio primeiro. Depois, o chão pareceu se afastar.

— Larissa?

A voz dele pareceu distante. Senti minhas pernas cederem, as mãos tentando se apoiar na parede, em vão.

Ele se aproximou, alarmado, tentando me segurar.

— Não encosta em mim — murmurei, tentando afastar a mão dele, mesmo fraca.

— Larissa, você tá pálida. Que merda é essa? Você tá bem?

— Só… só um pouco de tontura. É o estresse. Só preciso… dormir.

— Larissa, olha pra mim — ele pediu, mais calmo, a preocupação real nos olhos.

Mas eu só balancei a cabeça, afastando o corpo dele com a pouca força que me restava.

— Me deixa, Alessandro. Por favor.

E então fui pro quarto, deixando para trás não só a discussão, mas um pedaço de mim que ainda queria consertar as coisas.

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