Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 38

— Quase — murmurei, forçando um sorriso.

Chiara me olhou e sorriu também. Um sorriso leve, mas que não escondia o nervosismo nos olhos.

— Lembra do Natal de dois anos atrás? Quando seu avô deixou o peru no forno por seis horas? — Ela soltou uma risada. — Foi o dia em que minha mãe jurou nunca mais deixar ele cozinhar.

— Lembro — falei, pegando a taça da mão dela. Minha voz saiu sem muita emoção. Mas não era sobre o peru.

Sentamos. A comida tava boa, como sempre, mas o clima... parecia um teatro. As memórias felizes sendo jogadas na mesa como se pudessem colar de volta os cacos de alguma coisa que quebrou há muito tempo.

E aí veio o esperado.

— Alessandro — começou Rosa, mexendo na taça, — você precisa resolver logo essa situação com a Larissa. É só um papel. Você não pode continuar nessa indecisão pra sempre.

— Não é indecisão, mãe. Eu só tô respeitando o tempo do processo. — Respirei fundo. — Não é simples assim.

— Claro que é. Você e a Chiara têm história, têm planos. Ela está aqui, disposta a reconstruir isso com você.

— Mãe...

— Não, me escuta. Você sabe que eu sempre achei que ela era a mulher certa pra você. Ela é o tipo de esposa que qualquer homem bem-sucedido gostaria de ter. Estável, elegante, inteligente.

Olhei pra Chiara, que fingia não ouvir, mas tava escutando cada palavra. E aquilo me sufocava.

Ela me olhou, colocou a mão sobre a minha na mesa. Senti o calor dos dedos dela, suaves, trêmulos.

— Eu ainda acredito na gente, Alê — disse baixo. — A gente teve uma fase difícil, mas... eu tô aqui. Tentando.

— Eu sei — respondi. — Eu sei que você tá tentando.

E eu acreditava. Acreditava mesmo. Parte de mim ainda achava que eu devia isso a ela. Que voltar com a Chiara era o certo. Mas cada vez que alguém me empurrava nessa direção, eu sentia como se estivessem me jogando contra uma parede.

Minha mãe pigarreou, quase satisfeita. A mãe da Chiara sorriu como quem já dava aquilo como certo.

E foi aí que a raiva bateu.

— Vocês sabem que não gosto do que estão fazendo — falei de repente, me levantando. — Eu tô tentando resolver tudo da melhor forma, com respeito, com calma. Mas vocês não facilitam. Parece que ninguém entende que existe um tempo, um processo.

— Alessandro... — minha mãe começou.

— Não é só assinar um papel e apagar tudo. Não é assim.

Chiara se levantou também, assustada.

— Eu só vim porque achei que você... — disse ela, num sussurro. — Não quero forçar nada.

Olhei pra ela, com aquele nó no peito. Não queria machucá-la. Nunca quis. E por isso mesmo tudo doía.

— Você merece, Chiara. Mas não desse jeito. Não numa armadilha disfarçada de jantar.

Peguei o paletó da cadeira e fui até a porta.

Antes de sair, ainda falei sem encarar ninguém

— Quando eu estiver pronto... eu volto a esse assunto. Mas enquanto isso, parem de decidir por mim.

***

A casa estava num silêncio estranho. Aquele tipo de silêncio que parece pesar nas paredes, como se tivesse alguma coisa esperando para explodir.

Eu subi pro quarto — não pro meu. Para o dela.

Não sei por quê, só... fui. Talvez fosse o cheiro, a lembrança, o costume. Talvez fosse a saudade mal resolvida que me dava no estômago toda vez que eu ouvia o nome dela. Ou talvez fosse só culpa. Eu já nem sabia mais.

Abri a porta devagar. A luz do abajur ainda estava acesa, como se ela tivesse saído correndo no meio de um pensamento. A colcha estava bagunçada, mas com aquele jeitinho que só a Larissa tinha de deixar as coisas do jeito certo mesmo quando estava com pressa.

Sentei na beira da cama. Aquele cheiro. Um misto de amêndoas e alguma coisa doce que eu nunca soube o nome, mas que era só dela. Puxei o travesseiro e encostei o rosto ali por um segundo. Só pra sentir.

Foi quando a porta rangeu.

Levantei o olhar e lá estava Margarida. Parada, com uma toalha na mão, surpresa, como se eu estivesse invadindo um território sagrado.

— Desculpa — disse ela rápido. — Eu pensei que o senhor estivesse no seu quarto..

— Não, tudo bem. Pode entrar — respondi, ajeitando o travesseiro de volta no lugar.

Ela entrou devagar, sem saber se devia, e parou perto da cômoda.

— Tá tudo certo com a Larissa? — perguntei, quase num tom casual, mas com um aperto na garganta. — Quer dizer... ela tá estranha. Magra demais. Tá com aquele olhar que ela só tinha quando o pai dela ficou doente.

Margarida hesitou.

— Não sei de nada, senhor. A senhora Larissa não comentou comigo.

— E você? — insisti. — Acha que ela tá bem?

Ela pareceu pensar um pouco antes de responder.

— Sinceramente? Eu acho que ela tá... abalada.

Fiquei em silêncio por um instante.

— Mas ela não disse nada? Nem uma palavra sobre... sei lá, o divórcio?

Margarida balançou a cabeça devagar.

— Não, senhor. Só... anda mais calada. Mais no mundo dela. Mas isso é comum. A senhora Larissa sempre guardou muita coisa pra dentro. Só que agora... ela guarda mais ainda.

— Ela não contou pra você se tem alguém? Se aconteceu alguma coisa?

— Não. Nunca ouvi nada. — Margarida hesitou de novo. — Mas o senhor me permite dizer uma coisa?

O olhar dela se acendeu, meio com medo, meio com orgulho ferido.

— Eu não fiz nada de errado, senhor. Se tá me acusando de alguma coisa, não tem provas. Eu só trabalho aqui. E entendo perfeitamente que... talvez a sua curiosidade com a senhorita Larissa seja mais pessoal que profissional. Mas isso não é da minha conta, não é?

Aquela frase me fez respirar fundo. Ardia.

Eu me recomponho.

— São assuntos da empresa.

E saí. Não bati na porta de Oliveira. Entrei direto.

Ele quase pulou da cadeira.

— Sr. Alessandro! Bom dia!

— Onde está a Larissa?

Ele engoliu em seco, mexendo nos papéis como se fosse achar a resposta neles.

— Ela... ela viajou ontem. Para o evento em Chicago. Aquele congresso que teve ontem à noite.

Fiquei parado por um segundo. O estômago virou.

— Com quem?

Ele hesitou. A voz saiu num sussurro.

— Com... com o Rafael.

A raiva me subiu de um jeito que nem deu tempo de pensar. Atravessei a sala, segurei o colarinho da camisa dele com força.

— Por que diabos você não me avisou?

— Você... você disse que era pra eu resolver. Disse que estava cheio de coisas e que não queria mais ser interrompido com... com detalhes.

Fechei os olhos, respirei fundo. Tinha dito isso, sim. Mas não sobre Larissa.

Soltei a camisa dele com força, fazendo ele dar um passo pra trás.

— Quando eles voltam?

— O voo deles... parte de lá às vinte horas, senhor. Devem chegar aqui de madrugada.

Saí da sala sem dizer mais nada.

O barulho da minha própria respiração me irritava.

Ela mentiu. Disse que ia pra casa do pai. E foi para Chicago com o Rafael.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra