Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 37

(Alessandro)

Meia hora depois, Diogo entrou na sala. Vestia aquele terno cinza escuro que ele usava em reuniões importantes, o cabelo penteado para trás como sempre. Mas o olhar... não era o mesmo. Frio. Contido. Diferente do Diogo de sempre.

— Sempre pontual — comentei, tentando soar casual.

— Sempre. Alguém tem que levar isso a sério, né? — respondeu, sem sequer esboçar um sorriso.

Sentou de frente pra mim, sem tirar o casaco, como se quisesse deixar claro que não pretendia ficar mais do que o necessário.

— O que a ZetaCorp fez agora?

Mostrei os documentos e expliquei o que Camila me contou. A cláusula dava brecha pra que qualquer das partes rescindisse unilateralmente se houvesse indício de má administração ou conflito societário. E uma denúncia anônima estava circulando entre acionistas.

— Se isso vai adiante, nosso projeto com eles vai por água abaixo — concluí.

Ele folheou os papéis, em silêncio. Mas o jeito como virava cada página — firme demais, sem pressa, mas com tensão nos dedos — dizia o que ele não colocava em palavras.

— Você acha que tem dedo de alguém nisso? Algum rival tentando sabotar?

— Não descarto. Mas por enquanto a gente precisa de uma resposta jurídica. Se estivermos alinhados, conseguimos barrar. Sozinhos, vamos afundar.

Ele fechou a pasta devagar.

— E eu achando que a única coisa que você ia destruir era sua própria vida amorosa.

Levantei os olhos devagar e o encarei.

— A gente vai mesmo entrar nesse assunto?

— Tô só observando, Alessandro. De longe... como você preferiu.

— Você não sabe de nada, Diogo.

Ele deu um sorriso sem humor, quase cínico, mas não respondeu de imediato. Apenas ajeitou a manga do terno e se recostou na cadeira.

— Eu sei o que vi. E sei o quanto você mudou.

— Chiara tá passando por muita coisa.

— E Larissa também passou, mas ninguém tava lá por ela, né?

Aquela frase me acertou como um soco no estômago. Mas mais que a frase, foi o tom. O jeito seco, controlado, de quem ainda guarda tudo que queria ter dito — e escolheu não dizer.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Depois, puxei os papéis de volta.

— A gente tá aqui pra resolver a ZetaCorp. Quer resolver ou não?

Ele assentiu, mas sem me olhar diretamente.

— Vamos resolver isso. Profissionalmente. Como dois sócios.

— Tá me dando uma lição agora?

— Não. Já passei da fase de tentar te convencer de qualquer coisa.

Ficamos os dois calados enquanto ele assinava o termo de contestação. Quando terminou, se levantou e ajeitou o paletó.

Ele estava pronto para sair, quando algo me atravessou a mente. A conversa com Cauã no restaurante. Ele disse que descobriu com alguns informantes que Diogo conhecia um dos gêmeos, eles já foram vistos em alguns eventos juntos.

— Espera um pouco — falei, antes que ele alcançasse a maçaneta.

Ele virou só o rosto, o corpo ainda de costas.

— O que foi agora?

— Fiquei sabendo que você conhece um dos gêmeos Lombardi.

Ele se virou devagar, arqueando uma sobrancelha.

—Sim, conheço o Matheus. Por quê?

— Só curiosidade — respondi, rápido demais.

Diogo pareceu notar o tom. Caminhou de volta devagar, as mãos nos bolsos do paletó.

— O Matheus é fechado, na dele. Trabalha na empresa do pai como advogado. Bem diferente do irmão. O Enzo... esse é o tipo que gostava de aparecer. Festas, mulheres, bebidas. Nunca fui próximo dele.

— Mas do Matheus, sim?

— Já faz uns anos. Conheci num curso sobre compliance empresarial. A gente se encontrou algumas vezes depois disso. Conversas casuais. Nada demais.

— E ele chegou a falar sobre o pai? Ou sobre a Chiara?

— Não. Matheus não é de falar da vida pessoal. Quase não toca no passado. Parece carregar um peso, mas nunca disse do quê. Por que essa pergunta agora?

— Já disse. Curiosidade.

Ele me encarou de leve, desconfiado. Eu mantive o olhar firme, sem dar brecha. Não podia revelar que estava tentando juntar peças do assassinato do ex-marido da Chiara.

— Você tá cavando alguma coisa. E conhecendo você... tem a ver com a Chiara, né?

Revirei os olhos.

— Não começa, Diogo.

— Só tô dizendo. Você vive tentando proteger essa mulher como se ela fosse uma causa nobre. Mas e a Larissa, hein?

Suspirei, cansado. Lá íamos nós.

— Diogo, não mistura as coisas.

Larissa.

Caminhava na direção do próprio carro, com o pulso ainda enfaixado. O cabelo preso de qualquer jeito, como quem não se importou em se arrumar. Parecia... esgotada. Ela falou algo ao celular, mas de onde eu estava não dava pra ouvir. Só dava pra sentir.

A distância. O jeito que ela apertava os olhos no fim da ligação. O ombro caído. Ela tava machucada por dentro também.

Meu peito apertou e fiquei imóvel por alguns segundos, observando ela destravar o carro, abrir a porta e hesitar um pouco antes de entrar. Parte de mim quis sair correndo, bater na janela e pedir pra ela ficar.

Mas aí lembrei: eu tinha uma reunião. Um cliente importante. Um negócio que, se não fechasse hoje, podia desmoronar com o da ZetaCorp.

Peguei o celular. Os dedos hesitaram sobre a tela, mas digitei mesmo assim:

“Precisamos conversar.”

Ela entrou no carro no exato segundo em que enviei a mensagem. O som do motor ligando pareceu mais alto do que deveria. Fiquei ali, olhando a tela, esperando.

Visualizado.

Só isso. Nada além disso, nenhuma resposta nem reação. Ela saiu devagar do estacionamento. Nem olhou pro lado.

Apertei o volante com força. Uma raiva misturada com impotência.

Bati a cabeça de leve no encosto e respirei fundo.

— Vai pro cliente... resolve isso... depois você tenta conve — falei pra mim mesmo, embora nem eu acreditasse nisso de verdade.

Engatei a marcha e saí, carregando comigo a sensação de que a única coisa que realmente importava... talvez estivesse indo embora pela última vez.

A reunião tinha acabado há pouco. Cliente satisfeito, contrato assinado. Eu deveria estar tranquilo, com a cabeça leve. Mas não tava.

O carro deslizava pelas ruas iluminadas, e tudo que eu conseguia pensar era na mensagem não respondida de Larissa. Aquela palavrinha azul embaixo — visualizado — me corroía mais do que qualquer silêncio.

Foi aí que o celular tocou. Olhei o visor: Mãe.

Atendi no viva-voz, sem muito ânimo.

— Alessandro, querido — a voz da minha mãe veio doce, quase ensaiada demais —, não esquece do jantar hoje, tá? A gente te espera às oito.

— Jantar? Que jantar? — franzi a testa.

— Não faz essa cara, eu sei que você tá fazendo essa cara. É só um jantar em família. Você precisa relaxar um pouco.

Desligou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Suspirei. Só um jantar, ela disse. Mas minha mãe não dá ponto sem nó. E eu já sabia que vinha coisa.

Cheguei por volta das oito e vinte. A porta estava aberta, como sempre. Entrei devagar, e bastou dar dois passos pra ver o cenário armado: Chiara na sala, de vestido claro, cabelo preso com uma trança lateral, rindo com minha mãe enquanto servia vinho. E ali, no canto, a mãe dela também — sempre com aquele ar de que tudo estava sob controle.

A primeira reação foi um aperto no estômago. A segunda foi raiva contida.

— Até que enfim! — Rosa se virou pra mim, toda sorridente. — Estávamos começando a achar que você tinha fugido.

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