(Alessandro)
Eu já estava a caminho do restaurante, mas ainda com a cena presa na cabeça: Rafael ajoelhado do lado de Larissa, segurando ela com aquele olhar preocupado como se fosse o homem certo na hora certa. Eu respirei fundo e desviei o olhar antes de fazer uma besteira. Queria ir até ela. Queria ter sido eu ali. Mas não podia. Não hoje.
Hoje era dia de encarar outra verdade — ou pelo menos tentar descobrir uma.
O restaurante era afastado, discreto, com pouca gente nas mesas. Cauã já estava lá, sentado num canto com a mesma jaqueta surrada de sempre e aquele jeito de quem observa o mundo mais do que fala com ele. Me aproximei e ele levantou o queixo em cumprimento.
— Alessandro.
— Cauã. — Sentei. — Pediu alguma coisa?
— Ainda não. Queria esperar você.
Chamamos o garçom, pedimos dois cafés e algo leve pra comer.
— Tá, fala. O que é tão importante?
Ele tirou uma pasta fina da bolsa lateral e colocou sobre a mesa três fotos reveladas. Peguei uma delas. Era Chiara. Entre dois homens.
Franzi o cenho reconhecendo os dois de cara. Os filhos do ex-marido dela. Gêmeos. Idênticos, mas com um olhar diferente. O da direita tinha algo mais... sombrio no rosto. Ou talvez fosse só a minha cabeça vendo coisa.
— Eles? O que tem eles? — perguntei.
Cauã apontou com o dedo pra um dos gêmeos.
— Antes do velho morrer, teve uma briga feia com um deles. Gritaria, ameaça. Parece que o velho tinha descoberto alguma coisa e mandou chamar os advogados.
— Descoberto o quê? — perguntei, ainda encarando a foto.
— Ainda não sei. Mas... — Ele se inclinou um pouco. — O velho contratou um detetive. Antes de morrer. Queria que seguissem os próprios filhos. Ele desconfiava de algo e estava disposto a descobrir.
Fiquei em silêncio por um tempo. A imagem de Chiara sorrindo entre os dois me incomodava. Me dava calafrios.
— Você acha que foi um deles? Que um deles matou o próprio pai?
— Não posso afirmar. Mas é o que parece. Agora precisamos descobrir qual. São gêmeos, compartilham tudo, até os álibis são embaralhados. Um protege o outro. No dia da discussão, a testemunha disse que os dois estavam no quarto com o velho, não dava para saber sobre quem ele falava.
Passei a mão no rosto, cansado. O gosto do café pareceu amargo demais. Chiara no meio de tudo isso... e eu tentando protegê-la, sem nem saber de quem.
— E a Chiara? Ela tem alguma relação com isso? — perguntei, mesmo sem querer ouvir a resposta.
— Não encontrei nada direto ligando ela. Mas... ela também era vigiada pelo pai dos meninos. O detetive dele disse que o velho andava desconfiado de todo mundo. Inclusive dela. — Cauã me olhou sério. — Você pode perguntar pra ela? Sobre o relacionamento deles com o pai?
Neguei com a cabeça de imediato.
— Não. Chiara ainda tá... sensível. Ela tá fragilizada desde que tudo aconteceu. Tocando na ferida assim... não vai dar certo.
— Alessandro, a gente precisa de alguma entrada. Qualquer coisa. Ela pode saber de detalhes importantes.
— Não dá — repeti, firme. — A gente vai ter que descobrir por conta própria.
Ele suspirou e assentiu.
— Tá. Então vou puxar mais fundo a ficha dos gêmeos. Um deles tá escondendo algo grande, eu sinto isso. Já consegui acesso a alguns e-mails antigos, mas vou precisar de tempo. E talvez... de proteção. Eles são perigosos.
— Você acha que a Chiara corre risco?
— Não sei ainda. Mas se o pai dela achava que sim... é melhor não dar sorte ao azar.
Fiquei em silêncio. O mundo parecia mais pesado a cada nova informação. E mesmo assim, no fundo da minha cabeça, a imagem que se repetia era a de Larissa no chão, Rafael do lado... e eu longe.
Entre cuidar da mulher que me diz que me ama e aquela que eu... não sei mais como viver sem, eu tava me perdendo.
— Me avisa assim que tiver qualquer coisa. — Disse por fim, pegando as fotos.
Cauã assentiu.
— Pode deixar. E, Alessandro...
— Fala.
— Você vai ter que escolher em quem confia. E logo.
Engoli seco. Essa era exatamente a parte que eu não queria ouvir.
Cheguei em casa mais tarde do que queria. A cabeça tava uma bagunça. As fotos, os gêmeos, Chiara... e Larissa. Sempre Larissa, mesmo quando eu tentava não pensar.
Joguei a chave sobre o aparador e fui em direção à sala. A luz da cozinha estava acesa, e o som dos talheres sendo organizados me guiou até lá. Foi aí que a vi.
Ela tava ali, de costas, com o cabelo preso num coque simples, vestindo uma camisa larga e calça de moletom. A imagem dela sempre me acalmava, mesmo quando o coração tava em guerra.
Me sentei no sofá e esfreguei o rosto com as duas mãos.
Por que ainda doía como se ela fosse minha sendo que eu nunca a quis dessa maneira?
***
Aquela manhã já estava insuportável desde cedo. O barulho das notificações no celular me irritava mais do que o normal, e minha cabeça ainda estava presa na imagem de Larissa subindo as escadas com o pulso enfaixado. Mas o que realmente me fez bufar foi a ligação da equipe jurídica.
— O contrato com a ZetaCorp tem uma cláusula de rescisão que pode afetar a joint venture com a empresa do senhor Diogo. Precisamos alinhar uma posição conjunta, ou vai sobrar para os dois lados — explicou Camila, a advogada.
Respirei fundo. Diogo. Justo ele.
Fiquei alguns minutos encarando a tela do celular. Meu orgulho gritou pra eu deixar isso de lado, fingir que não era tão urgente. Mas era.
E deixar que essa bomba explodisse só porque a gente teve um desentendimento idiota? Não era inteligente.
Disquei o número e ele atendeu no terceiro toque.
— Alessandro? — a voz veio carregada de surpresa. E de algo mais... distância.
— Eu não queria ter que te ligar, Diogo.
— E ainda assim ligou... O que aconteceu?
— Tem a ver com aquele contrato da ZetaCorp. Se não agirmos juntos, os dois vamos sair perdendo.
Silêncio. Tenso. Quase consegui ouvir ele respirando do outro lado.
— Engraçado... nunca pensei que a gente voltaria a conversar por causa de números.
— Os números não se importam com orgulho ferido, Diogo. Se essa cláusula for acionada, a empresa dos dois vai sangrar.
— Qual o plano?
— Preciso que você venha até aqui. Reunião em trinta minutos. Sala 4B.
— Tô indo.
Desliguei e joguei o celular na mesa com força. Já bastava tudo o que eu estava lidando — Larissa se afastando, a preocupação com Chiara e o assassino do ex-marido dela e agora isso.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...