Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 36

(Alessandro)

Eu já estava a caminho do restaurante, mas ainda com a cena presa na cabeça: Rafael ajoelhado do lado de Larissa, segurando ela com aquele olhar preocupado como se fosse o homem certo na hora certa. Eu respirei fundo e desviei o olhar antes de fazer uma besteira. Queria ir até ela. Queria ter sido eu ali. Mas não podia. Não hoje.

Hoje era dia de encarar outra verdade — ou pelo menos tentar descobrir uma.

O restaurante era afastado, discreto, com pouca gente nas mesas. Cauã já estava lá, sentado num canto com a mesma jaqueta surrada de sempre e aquele jeito de quem observa o mundo mais do que fala com ele. Me aproximei e ele levantou o queixo em cumprimento.

— Alessandro.

— Cauã. — Sentei. — Pediu alguma coisa?

— Ainda não. Queria esperar você.

Chamamos o garçom, pedimos dois cafés e algo leve pra comer.

— Tá, fala. O que é tão importante?

Ele tirou uma pasta fina da bolsa lateral e colocou sobre a mesa três fotos reveladas. Peguei uma delas. Era Chiara. Entre dois homens.

Franzi o cenho reconhecendo os dois de cara. Os filhos do ex-marido dela. Gêmeos. Idênticos, mas com um olhar diferente. O da direita tinha algo mais... sombrio no rosto. Ou talvez fosse só a minha cabeça vendo coisa.

— Eles? O que tem eles? — perguntei.

Cauã apontou com o dedo pra um dos gêmeos.

— Antes do velho morrer, teve uma briga feia com um deles. Gritaria, ameaça. Parece que o velho tinha descoberto alguma coisa e mandou chamar os advogados.

— Descoberto o quê? — perguntei, ainda encarando a foto.

— Ainda não sei. Mas... — Ele se inclinou um pouco. — O velho contratou um detetive. Antes de morrer. Queria que seguissem os próprios filhos. Ele desconfiava de algo e estava disposto a descobrir.

Fiquei em silêncio por um tempo. A imagem de Chiara sorrindo entre os dois me incomodava. Me dava calafrios.

— Você acha que foi um deles? Que um deles matou o próprio pai?

— Não posso afirmar. Mas é o que parece. Agora precisamos descobrir qual. São gêmeos, compartilham tudo, até os álibis são embaralhados. Um protege o outro. No dia da discussão, a testemunha disse que os dois estavam no quarto com o velho, não dava para saber sobre quem ele falava.

Passei a mão no rosto, cansado. O gosto do café pareceu amargo demais. Chiara no meio de tudo isso... e eu tentando protegê-la, sem nem saber de quem.

— E a Chiara? Ela tem alguma relação com isso? — perguntei, mesmo sem querer ouvir a resposta.

— Não encontrei nada direto ligando ela. Mas... ela também era vigiada pelo pai dos meninos. O detetive dele disse que o velho andava desconfiado de todo mundo. Inclusive dela. — Cauã me olhou sério. — Você pode perguntar pra ela? Sobre o relacionamento deles com o pai?

Neguei com a cabeça de imediato.

— Não. Chiara ainda tá... sensível. Ela tá fragilizada desde que tudo aconteceu. Tocando na ferida assim... não vai dar certo.

— Alessandro, a gente precisa de alguma entrada. Qualquer coisa. Ela pode saber de detalhes importantes.

— Não dá — repeti, firme. — A gente vai ter que descobrir por conta própria.

Ele suspirou e assentiu.

— Tá. Então vou puxar mais fundo a ficha dos gêmeos. Um deles tá escondendo algo grande, eu sinto isso. Já consegui acesso a alguns e-mails antigos, mas vou precisar de tempo. E talvez... de proteção. Eles são perigosos.

— Você acha que a Chiara corre risco?

— Não sei ainda. Mas se o pai dela achava que sim... é melhor não dar sorte ao azar.

Fiquei em silêncio. O mundo parecia mais pesado a cada nova informação. E mesmo assim, no fundo da minha cabeça, a imagem que se repetia era a de Larissa no chão, Rafael do lado... e eu longe.

Entre cuidar da mulher que me diz que me ama e aquela que eu... não sei mais como viver sem, eu tava me perdendo.

— Me avisa assim que tiver qualquer coisa. — Disse por fim, pegando as fotos.

Cauã assentiu.

— Pode deixar. E, Alessandro...

— Fala.

— Você vai ter que escolher em quem confia. E logo.

Engoli seco. Essa era exatamente a parte que eu não queria ouvir.

Cheguei em casa mais tarde do que queria. A cabeça tava uma bagunça. As fotos, os gêmeos, Chiara... e Larissa. Sempre Larissa, mesmo quando eu tentava não pensar.

Joguei a chave sobre o aparador e fui em direção à sala. A luz da cozinha estava acesa, e o som dos talheres sendo organizados me guiou até lá. Foi aí que a vi.

Ela tava ali, de costas, com o cabelo preso num coque simples, vestindo uma camisa larga e calça de moletom. A imagem dela sempre me acalmava, mesmo quando o coração tava em guerra.

Me sentei no sofá e esfreguei o rosto com as duas mãos.

Por que ainda doía como se ela fosse minha sendo que eu nunca a quis dessa maneira?

***

Aquela manhã já estava insuportável desde cedo. O barulho das notificações no celular me irritava mais do que o normal, e minha cabeça ainda estava presa na imagem de Larissa subindo as escadas com o pulso enfaixado. Mas o que realmente me fez bufar foi a ligação da equipe jurídica.

— O contrato com a ZetaCorp tem uma cláusula de rescisão que pode afetar a joint venture com a empresa do senhor Diogo. Precisamos alinhar uma posição conjunta, ou vai sobrar para os dois lados — explicou Camila, a advogada.

Respirei fundo. Diogo. Justo ele.

Fiquei alguns minutos encarando a tela do celular. Meu orgulho gritou pra eu deixar isso de lado, fingir que não era tão urgente. Mas era.

E deixar que essa bomba explodisse só porque a gente teve um desentendimento idiota? Não era inteligente.

Disquei o número e ele atendeu no terceiro toque.

— Alessandro? — a voz veio carregada de surpresa. E de algo mais... distância.

— Eu não queria ter que te ligar, Diogo.

— E ainda assim ligou... O que aconteceu?

— Tem a ver com aquele contrato da ZetaCorp. Se não agirmos juntos, os dois vamos sair perdendo.

Silêncio. Tenso. Quase consegui ouvir ele respirando do outro lado.

— Engraçado... nunca pensei que a gente voltaria a conversar por causa de números.

— Os números não se importam com orgulho ferido, Diogo. Se essa cláusula for acionada, a empresa dos dois vai sangrar.

— Qual o plano?

— Preciso que você venha até aqui. Reunião em trinta minutos. Sala 4B.

— Tô indo.

Desliguei e joguei o celular na mesa com força. Já bastava tudo o que eu estava lidando — Larissa se afastando, a preocupação com Chiara e o assassino do ex-marido dela e agora isso.

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