Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 35

Cheguei em casa com o corpo cansado e a mente girando em mil direções. Assim que empurrei a porta da sala, dei de cara com Alessandro jogado no sofá. Estava de camiseta preta, calça de moletom e com um ar... abatido. Ele apoiava a cabeça na mão e tinha os olhos meio fechados, como se estivesse tentando manter o foco em alguma coisa na TV, mas sem sucesso.

Ele levantou o olhar por um segundo quando ouviu a porta. Nossos olhos se cruzaram, mas eu não disse nada. Só continuei andando, direta rumo às escadas.

— Larissa — ele murmurou, mas sua voz estava rouca e fraca demais.

Fingi que não ouvi. Segui meu caminho, pé ante pé, até que, no meio da escada, escutei ele começar a tossir. Forte. Daquele jeito que eu já conhecia.

Parei no segundo degrau antes do topo e fechei os olhos.

"Não é problema meu. Não mais", pensei, tentando convencer meu coração.

Mas era estranho… Alessandro raramente ficava doente. Quando ficava, no entanto, era sempre daquele jeito: forte, intenso, teimoso demais pra aceitar que precisava de descanso.

Suspirei pesado e segui pro quarto.

***

Tomei um banho rápido, tentando me distrair, focar na viagem, no exame, nas coisas boas. Só que, mesmo com a água quente, minha cabeça voltava pro som da tosse dele. Naquele momento, ouvi passos no corredor... depois, mais tosse... e então a porta do quarto se abriu.

Me olhei no espelho, vendo ele pelo reflexo. Ele estava com os olhos vermelhos, a pele pálida e... parecia que tinha perdido uma noite de sono.

— Vai dormir aqui? — perguntei, tentando manter a voz neutra.

Ele apenas assentiu, tossindo de novo, e se jogou na cama, de costas.

Revirei os olhos e terminei de me vestir, decidida a descer e respirar um pouco de ar fresco antes de explodir com alguém que claramente não tem noção de espaço. Tinha prometido que evitaria me estressar por causa do bebê.

Desci devagar e encontrei a cozinha quase vazia, exceto pela Margarida, que finalizava o jantar com sua paciência habitual.

— Boa noite, Margarida.

— Boa noite, minha querida. — ela sorriu assim que me viu. — Como você está? Quer que eu prepare algo?

— Não, só vou fazer um chá mesmo. — fui até a prateleira e peguei gengibre, mel e limão.

Ela me observava com aquele jeitinho doce de quem sempre sabia quando algo não ia bem.

— Você parece preocupada. Aconteceu alguma coisa?

— Alessandro... tá estranho. Tá com uma cara horrível e tossindo daquele jeito. — suspirei enquanto colocava a água pra ferver. — Ele nunca pega gripe, mas quando pega, parece que vai morrer.

— Ah, ele sempre foi assim mesmo. Nunca cuida direito da saúde. Homem teimoso.

— Teimoso é elogio — resmunguei, pegando uma caneca.

Ela deu uma risadinha.

— Vai levar pra ele?

— Não… — hesitei, mordendo o lábio. — Quer dizer… pode levar pra mim?

Margarida sorriu como se já soubesse que eu ia pedir isso.

— Claro, querida. Deixa comigo. Vai descansar um pouco. Ele tá com sorte de ainda ter alguém que se preocupa.

— Eu não me preocupo — falei rápido demais.

Ela apenas arqueou a sobrancelha, mas não respondeu.

Entreguei a caneca quente com cuidado.

— Diz que é só pra ajudar com a tosse. Só isso.

Ela assentiu e saiu devagar com o chá nas mãos. Fiquei ali parada por um momento, observando a porta da cozinha se fechar, e depois fui até a varanda.

A noite estava fresca. Sentei na poltrona e fechei os olhos, deixando o vento bagunçar meu cabelo ainda um pouco úmido.

***

Aproveitei o horário do almoço pra resolver logo uma das pendências que estavam me rondando desde ontem: roupas pra viagem. Não queria nada muito chamativo, só algo elegante, confortável… e que não apertasse minha barriga, porque os enjoos estavam de plantão ultimamente.

Depois de duas lojas e três vendedoras me olhando de cima a baixo como se eu tivesse cometido um crime por pedir um vestido simples, finalmente achei algo que combinava comigo — e com o evento.

Estava saindo da última loja, sacolas nos braços, pronta pra pegar o elevador e voltar pro carro, quando meu corpo inteiro gelou.

Chiara.

Ela estava do outro lado do corredor do shopping, rindo com uma amiga e mexendo no celular. Quis virar na hora, dar meia-volta e sair correndo pela escada de emergência, mas antes que eu tomasse qualquer decisão, a bolsa dela escorregou do ombro e caiu bem na minha frente.

Droga.

Ela se aproximou com um sorriso ensaiado, pegando a bolsa como se só então tivesse me notado.

— Larissa? Ah, que coincidência — ela disse, arrumando o cabelo com uma mão e segurando a bolsa com a outra. — Tudo bem?

Forjei um sorriso leve, respirando fundo.

— Tudo sim. Com licença...

Tentei seguir direto, mas ela começou a andar ao meu lado, colada feito sombra.

— Sabe… — começou ela, com aquele tom doce envenenado — eu e Alessandro vamos viajar nesse final de semana. Só pra você não se assustar se ele sumir por dois dias, tá? Mas imagino que você já esteja acostumada com a ausência dele... quase toda noite, né?

Aquela frase foi como uma facada. Ardia. Mas eu respirei fundo. Eu não ia dar esse gostinho pra ela.

Continuei andando sem responder, apertando o passo até alcançar o elevador. Quando a porta abriu, entrei e pensei que, finalmente, teria um minuto de paz.

Mas claro que não.

Chiara entrou atrás de mim com um sorrisinho satisfeito.

Mas ele ignorou, do jeito protetor que só ele sabia ser, e ficou ali comigo, falando baixo e tentando acalmar. Só que aí, como se o universo tivesse um talento especial pra ferrar minha vida… a voz dele apareceu.

— O que está acontecendo aqui?

Alessandro.

Virei o rosto devagar, e ele estava lá, parado, com os olhos apertados e o maxilar travado, observando a cena como se tivesse visto o maior crime do mundo.

— A Larissa caiu — Rafael respondeu, ainda com a mão nas minhas costas. — Eu tô ajudando.

— Eu tô vendo — Alessandro cruzou os braços, a voz carregada de irritação. — Pode sair. Eu cuido disso.

— Não. Ela tá machucada, e eu tô com ela — Rafael rebateu sem hesitar, olhando pra ele com firmeza. — Você não precisa bancar o chefe agora.

— Eu sou o chefe, Rafael. E tô mandando você sair.

— Não enquanto ela estiver machucada. Com licença, Alessandro, mas você está mais preocupado com o que parece do que com ela.

Eu fechei os olhos. Aquilo. De novo. A mesma cena, o mesmo clima carregado... como quando Diogo brigou com Alessandro por minha causa. A mesma sensação de ser uma bola de fogo prestes a explodir entre dois homens que não entendem que eu posso resolver meus próprios problemas.

— Chega — murmurei, tentando me levantar.

Rafael tentou me segurar, mas eu levantei o braço e senti a fisgada na mão.

— Ai... droga.

Mesmo com a dor, toquei o braço de Rafael com a outra mão e olhei pra ele.

— Tá tudo bem, Rafael. Eu agradeço, de verdade... mas não precisa se preocupar, nem discutir por minha causa.

Ele me olhou com os olhos apertados, sem gostar da ideia, mas assentiu devagar.

Virei o rosto pra Alessandro, endireitando a postura. Eu sabia que ali ele era meu chefe, e me obriguei a manter o tom neutro.

— Foi só um acidente. Não precisa se preocupar. Eu tô bem.

Ele ficou parado por um momento, me encarando como se quisesse dizer mil coisas, mas não disse nenhuma. Só respirou fundo, virou as costas e saiu pisando forte no corredor.

Suspirei, sentindo o alívio misturado com a dor no pulso.

— Você tem certeza que não quer ir ao hospital? — Rafael perguntou, me ajudando a dar os últimos passos até a cadeira mais próxima.

— Tenho. Já passou o susto. Daqui a pouco melhora.

— Você é teimosa demais, sabia?

— Eu sei — sorri fraco. — Mas obrigada por estar aqui.

Ele deu um sorrisinho leve e sentou ao meu lado, enquanto eu respirava fundo, tentando ignorar a dor no braço... e no coração. Mas eu sentia que tanto eu quanto meu filho, estávamos bem.

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