Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 33

(Alessandro)

Sentei na varanda dos fundos, apoiando o cotovelo no braço da cadeira e observando a taça de vinho que mal tinha tocado. O silêncio da noite era quase terapêutico, se não fosse o turbilhão de pensamentos que vinha junto.

Chiara apareceu com uma manta nos ombros e um olhar distante. Me sentei mais reto e bati ao lado da cadeira.

— Vem, senta aqui comigo. — falei baixo.

Ela hesitou por um segundo, mas acabou sentando. Ficamos em silêncio por um tempo. O vento bagunçava um pouco o cabelo dela e a luz do jardim fazia as sombras do rosto dela parecerem mais profundas.

— Chiara... — comecei, encarando as luzes da cidade. — Eu queria te perguntar uma coisa, mas não sei se é... confortável.

Ela virou o rosto devagar, como se já soubesse o que viria.

— Sobre o seu ex-marido. Como era... a vida com ele?

Chiara respirou fundo. Muito fundo. E ficou um tempo em silêncio, como se estivesse tentando encontrar a coragem que não queria ter.

— Por que quer saber disso agora?

— Só quero entender você melhor. Saber de onde vem essa força... ou essa dor. Não sei — falei, tentando ser mais direto do que gentil.

Ela abaixou a cabeça. Os dedos se entrelaçavam nervosos no colo.

— Ele era um homem... respeitado. Todo mundo dizia que eu tinha sorte. Mas ninguém sabia o que acontecia dentro daquela casa.

— Ele te batia? — minha voz saiu mais dura do que eu queria.

Chiara me olhou, os olhos brilhando com lágrimas contidas.

— Nunca com socos. Ele era mais inteligente que isso. Mas sabe o que é ser humilhada todos os dias? Ser chamada de inútil, ser traída descaradamente e depois ouvir que era culpa minha?

Fechei a mão em punho. A raiva subiu pelo meu peito como uma labareda. Ela continuou, agora com a voz trêmula.

— Os filhos dele... me odiavam. Me tratavam como se eu fosse a culpada pela morte da mãe deles. Nunca me aceitaram. Eu tentava... tentava mesmo... mas nada era suficiente.

As primeiras lágrimas escorreram pelo rosto dela e eu me levantei sem pensar. Me abaixei na frente dela e segurei suas mãos.

— Ei... — falei baixo. — Você não precisa reviver isso, não agora.

Ela soltou um pequeno soluço, e antes que eu percebesse, já estava nos meus braços. Chorou de forma quase silenciosa, mas cada tremor do corpo dela me fazia sentir um nó na garganta. Ela estava quebrada de um jeito que ninguém via.

— Eu odeio lembrar disso — ela sussurrou. — Me sinto tão pequena... tão fraca.

— Você não é fraca, Chiara. Ele era um covarde. Um maldito covarde.

Ela se afastou um pouco, limpando o rosto com as costas da mão.

— Eu nunca falei disso com ninguém. Todo mundo acha que ele foi um grande homem. Um exemplo. Mas ele destruiu tanta coisa em mim que às vezes nem sei mais quem eu sou.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo a raiva ferver. Como alguém assim podia ter saído impune? Como podia ser lembrado como um bom homem?

— Eu vou descobrir tudo sobre ele. — minha voz saiu firme, baixa. — Vou acabar com essa imagem que criaram. Ninguém vai mais venerar esse desgraçado como se ele fosse um santo.

Ela me olhou, surpresa e nervosa.

— Por quê? Por que faria isso? Deixa esse assunto para lá, já estou aqui com você. Vamos nos casar e viver felizes como sempre quisemos.

— Porque você merece justiça. Porque... você não devia carregar isso sozinha.

Chiara me olhou com uma expressão que eu não consegui decifrar.

Chiara ainda estava com os olhos úmidos quando segurou meu rosto entre as mãos. O toque dela era leve, mas firme. Ela me encarava com um misto de medo e ternura.

— Alessandro… deixa isso pra lá, por favor — ela pediu, baixinho, a voz ainda embargada. — Eu não quero mexer com o passado. Os filhos dele podem não gostar... e isso pode te prejudicar. E sinceramente, eu não quero ter mais nenhum contato com aquela família. Nenhum.

Fiquei olhando pra ela, absorvendo cada palavra. Ela parecia esgotada. E por mais que tudo dentro de mim gritasse por justiça, talvez agora não fosse a hora.

— Eu só quero ficar com você — ela sussurrou, chegando ainda mais perto.

O rosto dela estava a centímetros do meu. A respiração morna batia no meu queixo. Por um momento, achei que ela fosse me beijar. Senti meu corpo inteiro reagir, mas...

O celular começou a vibrar no meu bolso. Chiara bufou, revirando os olhos.

— Ah, não, agora não — ela resmungou. — Deixa isso pra lá...

Mas eu já estava pegando o aparelho. Me lembrei imediatamente que tinha pedido para Lucas, meu amigo do hospital, dar uma olhada no que tinha acontecido com Larissa naquele dia. Aquela queda repentina... a expressão pálida, a tontura... algo não tinha me parecido certo.

Abri a notificação. Era uma mensagem com uma foto em anexo. A ficha dela.

Dei um zoom na imagem e li devagar, cada linha. "Queda de pressão. Glicemia baixa. Medicada e liberada."

Suspirei, mais pesado do que queria.

Ela não estava se alimentando? Que tipo de tolice era essa? Como é que ela... como é que ela deixa as coisas chegarem nesse ponto? Larissa sempre foi teimosa, mas isso?

— Alessandro...? — Chiara se aproximou, tentando ver a tela. — Aconteceu alguma coisa?

Fiquei parado ali. Não sei quanto tempo. Um minuto? Cinco? Dez? Só sei que fiquei... travado. Olhando a porta como se ela fosse me responder alguma coisa.

Até que a luz se apagou.

E a música parou.

Soltei mais um suspiro e fui pro meu quarto. Empurrei a porta devagar, sem fazer barulho, mesmo que ninguém fosse ouvir. Entrei, fechei e encarei a cama.

Vazia.

Não sei por que aquilo me deu um soco no peito. Andei até o closet. Também vazio — pelo menos o lado que ela usava. O espaço onde ficavam os vestidos, os casacos jogados, as caixinhas de joias… tudo limpo. Tudo sem vida.

Revirei os olhos, irritado, e peguei algumas roupas minhas no cabide. Joguei ali no espaço dela. Como se isso fosse preencher.

Mas não era a mesma coisa. Nem de perto.

Fui pro banheiro. Tirei a camisa e encarei meu reflexo no espelho. Esfreguei o rosto com força, tentando apagar essa sensação estranha. Tentei pensar em Chiara. No jeito como ela chorou hoje... como me abraçou. Mas tinha alguma coisa ali que não batia. Alguma coisa que me incomodava e que eu não queria encarar de verdade.

O jeito como ela olhou pra mim quando falei do ex-marido dela... Aquilo não foi só dor. Teve... medo também. Defesa. Um negócio que ela tentou esconder nas palavras, mas que o olhar não conseguiu disfarçar.

Pensei em confrontar, em cavar fundo... mas o que eu ia encontrar?

Olhei a pia. Tudo meu. Meus produtos. Minha escova. As coisas dela tinham sumido como se nunca tivessem estado ali. Larissa, caramba... Até ausente, ela conseguia me tirar do sério.

Ela achava que sumir, se afastar, fingir que estava tudo bem ia resolver alguma coisa?

Entrei no banho e deixei a água cair quente nas costas. Tentei relaxar, mas a cabeça não parava. Pensava nela, no olhar dela naquele dia em que desmaiou. Na ficha médica. Na merda da glicemia baixa. Ela estava se matando de cansaço e não tinha coragem de pedir ajuda?

Saí do banho e fui pra cama. Deitei no meu lado, como sempre. Mas não conseguia parar de olhar pro travesseiro dela.

Ficou ali. Cheio do perfume que ela usava. Aquela mistura de avelã com alguma coisa mais suave que grudava em mim mesmo quando ela saía. Eu revirei os olhos de novo, irritado com a mim mesmo, peguei o travesseiro dela e joguei o meu longe. Deitei com ele.

Droga.

Ainda tinha o cheiro dela. E eu senti uma saudade fodida. Mas não podia ser amor. Claro que não. Era só um tipo de apego, né? Quatro anos com a mesma pessoa. Dormindo, comendo, brigando, transando. Era normal sentir falta. Era posse. Costume.

Era só isso.

Tinha que ser.

Fechei os olhos tentando convencer meu coração disso, mas ele parecia ter outros planos.

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