(Larissa)
A semana passou voando, e agora só faltava um mês e vinte dias para o fim do contrato.
Eu sabia que talvez já estivesse incomodando um pouco ficando na casa da Catherine, mas sinceramente? Não queria nem pensar muito nisso. Se eu tentasse alugar qualquer outro lugar, Alessandro daria um jeito de me deixar na rua. E como esse apartamento está no nome da Cathe, ele não pode fazer nada. Nem um pio. Eu espero.
Mas, mesmo tentando seguir em frente, as lembranças continuavam me perseguindo. Principalmente aquela discussão no escritório dele... Quando ele soltou, meio no impulso, que eu era dele. Como assim “dele”? Desde quando ele acha que tem esse direito? Só ele pode ser feliz, é isso? Só ele pode amar e ser amado, e eu tenho que viver à sombra da vida dele?
— No que você tá pensando tanto aí? — Catherine perguntou, sentando do meu lado no sofá com uma xícara de chá na mão.
— Em tudo... — suspirei. — Será que eu vou conseguir mesmo me livrar do Alessandro?
— Claro que vai, mulher! — ela respondeu, segura, como sempre. — É só esperar esse contrato acabar. Depois disso, a gente vai correr atrás de um cara que preste pra você.
— Ai, não... — fiz uma careta. — Acho que não quero saber de homem por um bom tempo. Sério mesmo.
— Eu entendo — ela deu uma risadinha. — Então vamos focar na janta por enquanto. Tem lasanha!
Assenti, e fomos comer. A noite foi tranquila, com risadas e conversas bobas que ajudaram a aliviar um pouco a tensão.
No dia seguinte, acordei cedinho. Catherine estava dormindo ainda, então preparei o café da manhã pra ela. Era aniversário dela, afinal. Queria fazer uma surpresinha. Depois, saí com minha bolsa para comprar um bolo pequeno e um vinho. Nada extravagante, mas com carinho.
Tava andando distraída pelos corredores do supermercado, empurrando o carrinho com algumas coisas, quando ouvi alguém me chamar.
— Larissa?
Virei na hora. Era o Guilherme. Um pouco mais magro do que eu lembrava, mas ainda com aquele mesmo jeito calmo de sempre.
— Oi, Gui!
— Como você está?
— Tô bem, e você?
— Ah... mais ou menos — ele deu um sorrisinho meio triste. — Minha mãe teve uma recaída. Tenho ido ao hospital quase todo dia.
Meu coração apertou. Dona Fátima sempre foi muito boa comigo, mesmo depois do nosso fim.
— Nossa, por que não me contou? Eu teria ido ficar com meu pai enquanto você ia cuidar de sua mãe.
— Não tem muito o que fazer, minha mãe está internada mas não pode ter acompanhante. Sempre aproveito as brechas que o seu pai dorme e vou visitá-la à tarde. Espero não ter problemas.
— Claro que não! Sei que você cuida muito bem dele… Mas então, tem algo que eu possa fazer para ajudar?
Ele ficou meio sem jeito, coçando a nuca.
— Na real... tem uma coisa sim. Minha mãe sempre fala de você. Ela gostava muito de você, sabe? Ficaria feliz demais se pudesse te ver. Topa ir visitar ela?
Fiquei surpresa. Não esperava esse convite, mas ao mesmo tempo, fiquei tocada.
Dona Fátima sempre me tratou como uma filha, foi um pouco do carinho de uma mãe que senti em toda a vida. Ela não merecia passar por isso sozinha.
— Claro que topo. Será um prazer vê-la de novo. Quando você quer que eu vá?
O sorriso dele foi instantâneo, daqueles que mostram alívio.
— Que tal amanhã à tarde? Seu pai tem quimioterapia no mesmo hospital e você já aproveita e visita os dois.
— Tudo bem, então. Eu disse que iria ficar mais presente na vida do meu pai mas a minha anda tão complicada…
— Entendo, mas não se preocupe, ele sabe que você tem sua própria vida. Então a gente se encontra amanhã.
— Certo.
— Foi muito bom te ver, Lari — ele disse antes de se despedir. — De verdade.
— Você também, Gui. Fica bem, tá? Até amanhã.
Saí do mercado com o coração meio apertado pela situação dele, mas também aquecido. Era bom poder ajudar alguém que já foi tão importante pra mim... E de alguma forma, naquele gesto simples, me senti mais viva.
Talvez eu ainda não tivesse me libertado do Alessandro... mas pelo menos, pra quem merecia, eu ainda podia oferecer o melhor de mim.
— Senhor Álvaro, está na hora da sua medicação.
— Já? — ele resmungou, olhando pra mim com cara de criança contrariada. — Justo agora que a Larissa chegou…
— Vai lá, pai. Depois a gente conversa mais, prometo.
Ele assentiu e foi levado pela enfermeira. Fiquei ali alguns segundos observando ele ir embora, o coração apertado.
— Ele falou bastante de você esses dias — Guilherme comentou, enquanto caminhávamos pelos corredores do hospital. — Parece que ficou muito feliz com sua presença.
— Eu também tô feliz de vê-lo assim…
Ele sorriu, mas desviou o olhar. Em pouco tempo, chegamos ao quarto onde a mãe dele estava internada.
Dona Fátima estava deitada, mexendo no celular com uma expressão emburrada que me fez rir antes mesmo dela perceber minha presença.
— Ah, Guilherme, por que esse celular insiste em mudar o que eu escrevo? — reclamou, bufando.
— A tecnologia tem dessas, Dona Fátima — comentei, rindo. Assim que ela me ouviu, virou o rosto na minha direção e arregalou os olhos de surpresa.
— Larissa? — ela sorriu largo e acenou pra eu me aproximar. — Menina, olha só você! Que linda! Vem cá me dar um abraço!
Me aproximei, emocionada. Apesar do cansaço visível, o carinho dela era o mesmo de sempre.
— Como a senhora tá se sentindo hoje?
— Ah, minha querida, tô levando. Uns dias são mais difíceis que outros… Mas olha, te ver aqui me deu outro ânimo. O Gui me contou que te encontrou e eu fiquei torcendo pra você vir mesmo.
— Eu não podia deixar de vir — sorri, tentando esconder o aperto no peito. — Sempre tive um carinho enorme pela senhora.
Ficamos conversando sobre coisas antigas, e ela se lembrava de detalhes dos nossos tempos de adolescência que eu já tinha até esquecido. Mas logo o clima mudou, e ela me olhou com um brilho diferente nos olhos.
— Você sabe, minha querida… o Guilherme ainda tem sentimentos por você.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...