Respirei fundo antes de sair do carro. Fazia tanto tempo que eu não colocava os pés aqui… Era como se um turbilhão de lembranças me puxasse pelos ombros.
O prédio da empresa de Alessandro continuava imponente, cheio de vidro, espelhos e aquela energia de sempre. Mas agora… agora eu era diferente. Eu não era mais a Larissa que saiu dali machucada. Eu estava de volta com outro olhar. Mais firme. Mais madura.
Entrei pela recepção e não demorou para alguns olhares se voltarem pra mim. Gente que já tinha me visto todos os dias e, de repente, desapareci. Cumprimentei alguns com um aceno discreto e um sorriso de canto, e fui direto até o balcão.
— Boa tarde — falei, educada. — Tenho uma reunião agendada com Alessandro, no nome de Diogo.
A recepcionista me olhou com os olhos arregalados, como se estivesse vendo um fantasma.
— Larissa? Meu Deus, você… sumiu! — Ela abaixou um pouco a voz, inclinando-se. — Tá rica agora, foi isso? Casou com um milionário? Tá em Dubai?
Soltei uma risada nasal, discreta.
— Nada disso. Só tô cuidando da empresa da minha família agora. Muito trabalho, sabe como é.
— Menina, mas você tá diferente, viu? Chique. Passa esse segredo!
Antes que eu respondesse, ouvi a voz de Diogo me chamando.
— Larissa! Vem cá.
Ele se aproximou e me puxou pra um abraço rápido, sorrindo.
— Tá pronta?
Assenti.
— Vamos resolver isso logo.
Seguimos juntos para o elevador. No caminho, ele manteve o tom baixo.
— Olha… é capaz dele não aceitar. Você conhece o Alessandro, né? Orgulho puro. Mas é importante, a empresa dele tá por um fio.
— Eu sei — respondi, mantendo os olhos à frente. — Mas se ele quiser se salvar… vai ter que abaixar a guarda.
Chegamos ao andar da diretoria e entramos direto na sala de reuniões. E lá estava ele.
Ele se levantou quando me viu e sorriu. Aquele sorriso de canto que, por muito tempo, me desmontava.
— Larissa — ele disse, se aproximando. — Que bom ver você.
Ele me puxou para um breve abraço. Eu deixei, mas assim que senti o calor do toque dele, recuei com sutileza.
— Alessandro — cumprimentei, neutra.
Nos sentamos e ele manteve os olhos em mim por mais tempo do que deveria, e então olhou para Diogo.
— E aí? Qual é o motivo desse encontro misterioso?
Diogo respirou fundo, se ajeitou na cadeira, e lançou aquele olhar de quem estava tentando encontrar as palavras certas.
— Eu fiquei sabendo… sobre a situação da empresa, Alessandro.
Alessandro imediatamente franziu o cenho, o rosto endurecendo.
— Você anda fuçando nos meus números agora?
— Não fucei nada — Diogo respondeu com calma. — Me contaram. E, bom, eu me preocupo. Você e eu sabemos o quanto essa empresa significa pra você. E sei que, se continuar nesse ritmo, não dura até o fim do ano.
— Eu vou dar um jeito nisso. — Alessandro rebateu de imediato, os olhos faiscando. — Já tenho um plano.
— Que plano, Alessandro? Vender ativo atrás de ativo enquanto as dívidas aumentam? Isso não é plano, é desespero. — Diogo disse com firmeza. — A verdade é que você precisa de ajuda. E a proposta que a gente tem aqui pode salvar sua empresa.
Até aquele momento, eu só observava. Deixei que Diogo conduzisse a conversa. Mas quando vi Alessandro se enrijecer, se fechar na teimosia dele, percebi que talvez, cedo ou tarde, eu teria que intervir.
Mas ainda não. Eu queria ver até onde ia o orgulho dele.
E se ele deixaria, mesmo no limite, o ego vencer o bom senso.
Respirei fundo. Alessandro podia ser teimoso, orgulhoso até o último fio de cabelo, mas não era burro. Ele sabia muito bem a situação em que estava. Só precisava ouvir a verdade… da minha boca.
— Alessandro… — comecei, mantendo o tom firme. — A gente sabe que a situação da sua empresa é delicada. Você pode até estar tentando maquiar os números, esconder dos investidores, mas não tem como ignorar o que está à vista: prejuízo nos últimos três trimestres, fornecedores atrasados, imagem fragilizada no mercado e uma equipe de gestão que, sinceramente, não tem estrutura pra enfrentar uma crise desse porte.
Ele me encarou, mordeu levemente o lábio, mas não disse nada. Continuei:
— O que o Diogo e eu estamos propondo é simples: uma fusão temporária de operações. Unir forças. Nós temos estrutura, visibilidade, estabilidade. Vocês têm nome, tecnologia e know-how em produção. Juntos, conseguimos recuperar o caixa da sua empresa e ainda fortalecer a nossa no mercado externo.
Fiz uma pausa, mas não tirei os olhos dele. O olhar de Alessandro agora era atento, mas ainda cheio de resistência.
— Sei que o seu orgulho está ferido. Mas, Alessandro, você não está mais sozinho nessa. Você tem um filho. Gabriel precisa de um pai presente, mas também precisa de um exemplo. Alguém que mostre pra ele que pedir ajuda, que recomeçar não é fraqueza, é coragem.
Ele passou a mão pelo rosto, respirando pesado.
— Eu… eu prejudiquei sua empresa uma vez. — A voz dele saiu mais baixa, quase um sussurro. — Não sei se mereço essa ajuda.
Inclinei-me levemente.
Ele deu uma risada baixa.
— Se você não tivesse me parado, eu teria feito.
E então ficou me olhando de novo, como se estivesse medindo o momento.
— Larissa… eu sei que talvez não seja o momento certo, mas… Você aceitaria jantar comigo?
Arqueei uma sobrancelha, um tanto surpresa.
— Alessandro… ainda é cedo. Muito cedo.
— Eu sei. — Ele ergueu as mãos em rendição, suspirando. — Não tô pedindo nada além disso. Um jantar. Uma noite pra conversar, só quero dar um passo… e respeitar seu tempo.
Fiquei olhando pra ele por uns instantes. Parecia sincero. Cansado, mas sincero.
— Tá... um jantar. Mas só isso, nada de ilusões e de pressões.
O sorriso que surgiu no rosto dele foi imediato. E bonito.
— Combinado. Eu agendo e te aviso, tá?
Assenti com a cabeça, já me levantando.
— Ah… e falando nisso… O aniversário de Gabriel tá chegando. Faltam só umas quatro semanas. Eu já tô começando a organizar algumas coisas.
Ele me olhou, surpreso, mas animado.
— Você quer que eu participe?
— Quero. Se você quiser também, claro. Posso ir te mostrando as ideias, as temáticas... Vai ser bom pra ele ver a gente unido. Mesmo que seja só nisso.
— Eu quero sim. Quero muito.
Peguei minha bolsa e fui até a porta. Quando já estava saindo, ouvi a voz dele atrás de mim.
— Vou agendar o jantar.
Levantei a mão sem olhar pra trás, ainda de costas.
— Eu espero.
E saí da sala com um sorriso discreto nos lábios… sem que ele visse.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...