A tensão no carro era sufocante. O silêncio entre mim e Alessandro estava carregado, como se a qualquer momento pudesse explodir. E, claro, ele foi o primeiro a romper o silêncio.
— Por que diabos você chamou aquele cara para cuidar do seu pai? - Sua voz era firme, mas carregava uma ponta de irritação.
Cruzei os braços, já antecipando onde essa conversa iria dar.
— Porque eu confio nele e sei que meu pai está em boas mãos.
Senti o olhar de Alessandro pesar sobre mim, mas continuei olhando para frente. Ele apertou o volante com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos.
— E como você soube que ele era enfermeiro? Desde quando vocês se aproximaram assim? - Seu tom ficou mais ácido, carregado de desconfiança.
Aproveitando o sinal vermelho, ele se virou para mim, os olhos escuros analisando cada detalhe do meu rosto, como se estivesse tentando arrancar uma verdade escondida.
— Me diz, Larissa… Você tá tendo um caso com aquele enfermeirozinho?
Revirei os olhos, soltando um riso irônico.
— Eu não sou você, Alessandro. Não sou eu quem está tendo um caso com outra pessoa.
O rosto dele ficou ainda mais fechado. Ele respirou fundo, como se estivesse se segurando para não explodir ali mesmo.
— Você é minha esposa. E tem que me dar satisfação sobre qualquer coisa.
A paciência que eu não tinha se esgotou de vez. Me virei para ele, sentindo meu sangue ferver.
— Ah, é? E você também não deveria me dar satisfação? Porque, pelo que eu saiba, você é o meu marido. Mas parece que essa regra só vale para mim, né?
Ele abriu a boca para responder, mas eu continuei.
— Ou será que esqueceu que foi você quem disse que eu sou a amante? Que sou eu quem está no lugar errado nesse casamento? Então, por que diabos você está tão preocupado agora?
Meu tom estava carregado de sarcasmo, e eu vi quando o maxilar dele travou.
As buzinas atrás de nós me fizeram perceber que o sinal já havia aberto. Alessandro xingou baixo e voltou a dirigir. Mas sua irritação não tinha passado nem um pouco.
— Se você ousar me trair com aquele enfermeiro ou qualquer outro homem, você vai pagar caro por isso - ele rosnou entre os dentes, sem tirar os olhos da estrada.
Soltei uma risada incrédula, balançando a cabeça.
— Você tá louco. Eu só quero me livrar de você. E falta tão pouco… — minha voz saiu carregada de alívio e raiva ao mesmo tempo. — Eu não preciso de outro homem agora. Mas depois que a gente assinar o divórcio e o acordo acabar, aí sim, Alessandro. Vou atrás de alguém que realmente me ame e me valorize.
Ele virou o rosto para me encarar, sua expressão carregada de fúria.
— Alessandro, presta atenção na porcaria da rua! — gritei.
Foi por um triz. O carro parou a centímetros de bater no veículo da frente. Meu coração disparou no peito com o susto.
— Você tá maluco?! — gritei, sentindo minha respiração pesada.
Sem pensar duas vezes, desfiz o cinto de segurança e saí do carro, batendo a porta com força. Precisava sair dali, precisava de ar.
Alessandro também saiu, mas não me seguiu. Ele voltou para o carro e arrancou sem olhar para trás.
Respirei fundo, tentando controlar a emoção que apertava meu peito. Que droga de situação.
***
Quando cheguei em casa, Alessandro não estava mais. Ele havia deixado minhas malas e saiu. Quase uma semana se passou e eu sabia que o veria porque o baile estava se aproximando.
Suspirei, indo até o bebedouro e enchendo minha garrafinha com água.
一 Larissa! - Virei, vendo Diogo se aproximando.
一 Olá, Diogo. Discutindo negócios com Alessandro? - Ele assentiu.
一 Eu… ouvi sobre o que aconteceu o seu pai. - começou ele, sua expressão mostrando sua preocupação genuína. 一 Espero que ele fique bem.
一 Obrigada, Diogo.
Diogo hesitou por um momento antes de continuar.
一 Escuta, eu sei que este não é o melhor momento, mas... eu gostaria de te convidar para ir ao baile beneficente comigo. Eu sei que você está passando por um momento difícil e... bem, eu queria te oferecer um pouco de distração, de alegria.
一 Por um acaso, você estava prestando atenção na nossa conversa?
Catherine encolheu os ombros com um sorriso preso nos lábios e revirei os olhos, entrando na minha sala sendo seguida por ela.
一 Ele me chamou para acompanhá-lo a um baile beneficente que vai ter. - Seus olhos se arregalaram e ela se inclinou na minha mesa.
一 Puta merda! Por isso você não queria saber dos caras no clube. Vocês já estão ficando? - Fiz uma careta enquanto negava com a cabeça.
一 Não pense nada disso. Somos apenas amigos há uns anos e ele voltou de viagem e me pegou em um momento ruim. Diogo só quer que eu me divirta.
Seus olhos me avaliaram por um momento e quando estava prestes a perguntar mas, Rafael entrou na minha sala com um sorriso gigante no rosto. Cathe e eu trocamos olhares, esperando que ele iniciasse o que veio dizer.
一 Vocês não vão acreditar!
一 O quê? - Perguntei curiosa.
Rafael se aproximou, colocando o seu celular em cima da minha mesa com uma conversa de chat aberta para a gente ler. Cathe foi subindo a conversa, revelando um b**e-papo quente até demais.
Arregalei os olhos ao ver quem era a outra pessoa que conversava com Rafael. Catherine deu um gritinho, pulando da poltrona e encarando nosso amigo com a mão na boca.
一 Como… isso aconteceu? - Perguntei, olhando para o seu celular, relendo as mensagens mais uma vez.
一 Quando eu estava vindo de Bela Flor a encontrei na estrada. O carro dela tinha parado de funcionar e ofereci uma carona. Nós dois ficamos naquele dia e começamos a conversar depois disso. Ela veio algumas vezes e ficamos mais até que ela me pediu em namoro!
Parece que nem Rafael estava acreditando no que aconteceu com ele.
一 Bem, parece que meu amigo vai namorar uma das cantoras mais famosas do Brasil. Te devo um parabéns? - Ele riu, revirando os olhos e tomando o celular da minha mão.
一 Você não me quis, achei quem queria. - Foi impossível não rir.
Rafael contou mais sobre seus encontros com Sophie e depois cada um voltou ao seu trabalho. Eu estava ansiosa. Hoje era quarta-feira e o baile seria no sábado. Teria que encontrar um vestido e uma máscara.
Ao chegar em casa, a ausência do carro de Alessandro já não me afetava tanto assim. Fui direto para o quarto e tomei um banho, sentindo minhas energias serem renovadas. Olhei para o closet, onde havia várias peças de roupas de Alessandro e suspirei.
Foram quatro anos encarando essas roupas, pensando se um dia ele me deixaria vesti-lo, ajeitar sua gravata ou se faríamos amor aqui. Mas agora, vejo que tudo não passou de um sonho juvenil, onde a realidade era bem mais triste.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...