Teresa olhou para Sterling com os olhos marejados, sua voz embargada pelo choro.
— Sterling. Não foi culpa da Clarice. Eu que me distraí e acabei caindo. Não precisa pedir desculpas por mim!
Clarice permaneceu em silêncio, observando Teresa com um olhar indiferente. Se ela queria fingir, que fingisse à vontade. Contanto que não a envolvesse, tudo bem.
Sterling lançou um olhar severo para Clarice.
— Você não olha por onde anda?
Clarice, sem paciência para discutir, respondeu de forma sarcástica:
— Tudo bem. Na próxima vez eu presto atenção.
Era Teresa quem tinha esbarrado nela, mas, de alguma forma, a culpa sempre recaía sobre Clarice. Sterling a odiava tanto que até o fato de respirar parecia errado aos olhos dele.
Túlio, que acompanhava a cena, mantinha uma expressão fechada. Seus olhos afiados fitavam Teresa, que continuava no chão. Ele sabia que ela falava de forma ambígua de propósito, só para que Sterling a interpretasse mal. A habilidade de manipulação dela não era pouca coisa. Clarice, por outro lado, era direta demais, nunca seria páreo para uma mulher como Teresa.
Percebendo o olhar penetrante de Túlio, Teresa sentiu o coração disparar. Como foi que pôde esquecer daquele velho insuportável? Ele, obviamente, tinha entendido suas verdadeiras intenções. E se ele resolvesse expô-la?
Assustada com essa possibilidade, Teresa rapidamente mudou de atitude. Levantou-se do chão com os olhos vermelhos e caminhou até Clarice. Parou diante dela, inclinou o corpo em um gesto de desculpas e, com a voz trêmula, disse:
— Clarice. Foi por minha culpa que Sterling te entendeu mal. Eu peço desculpas. Me perdoe, por favor!
Clarice sorriu de canto, mas sua resposta foi cortante:
— Aceito suas desculpas, mas não vou te perdoar.
A dissimulação de Teresa era tão óbvia, mas Sterling parecia cego. Como ele não enxergava isso? Era impressionante.
— Clarice. Não seja tão cruel! — Sterling repreendeu, lançando-lhe um olhar duro, enquanto segurava a mão de Teresa e a puxava para sair dali.
Clarice observou os dois se afastarem e sorriu com desdém.
Bastava que Teresa demonstrasse um pequeno desconforto, e Sterling ficava completamente abalado. Mas, quando Clarice adoeceu e ficou internada, ele sequer apareceu para visitá-la. Aos olhos de Sterling, ela sempre foi invisível.
— Clarice, não diga isso. Você pensa e escolhe com cuidado, mas finge que não. Essa sua atitude de não disputar e não reclamar não é boa para você! — Túlio suspirou, puxando-a para sentar no sofá enquanto abria a caixa de bolo de rolo.
Clarice era assim. Nunca pedia reconhecimento e sempre mantinha uma postura calma e desapegada, não importava a situação. Às vezes, Túlio desejava que ela fosse mais assertiva, que lutasse pelo que queria.
— Vovô, entendi o recado. Vou tentar melhorar. Agora, coma um pouco do bolo de rolo. — Clarice sorriu, mas seus olhos carregavam uma tristeza sutil.
Quando se casou com Sterling, ela o amava. Tinha sonhos para o futuro e acreditava que, com esforço, poderia conquistar o coração dele. Ela já havia lutado, já havia insistido.
Mas, com o tempo, ficou claro que Sterling não a amava. E quanto mais ela tentava, mais insignificante se sentia. Continuar insistindo seria perder o pouco de dignidade que ainda lhe restava.
— Você... — Túlio começou, mas logo desistiu de continuar.
Clarice era esperta. Claro que ela entendia tudo isso. Não era que ela não soubesse lutar. Apenas já tinha desistido. Sterling havia congelado o coração dela completamente.
— Ah, vovô, só para avisar. Estou com muitos casos no escritório e, nos próximos dias, talvez eu não tenha tempo para vir te visitar. Qualquer coisa, me liga, tá? — Clarice avisou, com um tom casual, mas distante.
Ela estava se preparando para o divórcio. Naturalmente, precisava começar a se afastar de Túlio.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um Vício Irresistível
Por favor, cadê o restante do livro???...