Sterling apertou os lábios, em um misto de hesitação e frustração:
— Vovô, não há mesmo nenhuma chance de reconsiderar essa questão?
Ele sabia muito bem que Túlio era capaz de pegar o telefone e exigir que Teresa devolvesse o bracelete.
— Nenhuma! — Túlio respondeu com firmeza, sua expressão rígida.
O bracelete era para Clarice, e só poderia pertencer a ela.
Isaac, que estava no canto da sala, manteve-se em silêncio, com a cabeça baixa. Ele também achava errado Sterling ter dado o bracelete da Sra. Davis para Teresa, ainda mais agora que o escândalo estava nos holofotes. Mas, como assistente, sabia que não era o seu lugar opinar.
— Talvez... talvez a gente espere a Clarice chegar e decida isso com ela.
A voz de Sterling soou rouca, quase incerta.
Na mente dele, imagens do passado começaram a surgir. Lembrou-se de quando Teresa, anos atrás, havia lhe dado uma pilha de dinheiro. Aqueles trocados, na época, haviam sido sua salvação durante uma fuga desesperada. Ela tinha salvado sua vida. Agora, tudo o que ela queria era um bracelete. Como ele poderia negar algo tão simples?
— Não tem conversa! — Túlio respondeu, irritado. — Sterling, você virou um homem indeciso e tolo?
Antes que Sterling pudesse responder, a porta se abriu. Uma voz suave e melodiosa ecoou pela sala:
— Sterling, cheguei!
Isaac levantou os olhos e viu Teresa entrando. Sterling havia dado instruções claras de que ela tinha passagem livre sempre que quisesse. Agora, ela entrava sem qualquer dificuldade, como se fosse dona do lugar.
Isaac lembrou-se das conversas que ouvira no refeitório. As funcionárias comentavam que Teresa era sortuda por ser a nova Sra. Davis e já planejavam formas de se aproximar dela. Naquele momento, ele se perguntava como reagiriam ao descobrir que a verdadeira Sra. Davis era Clarice.
Sterling ficou levemente surpreso com a chegada de Teresa, mas logo voltou ao normal. Quando olhou para ela, notou que usava apenas um casaco fino. Seu rosto imediatamente carregou uma expressão de desagrado.
— Por que veio até aqui? E como sai de casa vestida assim? Você sabe que sua saúde não é a mesma de antes. Se pegar um resfriado, quem vai sofrer é você! Depois não quero te ouvir choramingando o tempo todo. — Ele falou com um tom de repreensão, mas a preocupação era evidente.
Enquanto falava, caminhou até o cabideiro, pegou uma jaqueta e, com passos rápidos, foi até Teresa. Com gestos cuidadosos, colocou o casaco sobre os ombros dela.
Túlio nem se deu ao trabalho de responder. Com um olhar sério, esticou a mão na direção dela e ordenou:
— Me dá o bracelete!
— Vô! — Sterling protestou, visivelmente incomodado.
Que absurdo era esse de pegar de volta algo que já havia sido dado?
Teresa, percebendo o momento tenso, adotou um tom submisso e colocou o bracelete na mão de Túlio:
— Eu só pedi emprestado porque achei o bracelete bonito. Nunca quis ficar com ele. Agora estou devolvendo ao verdadeiro dono. Vovô, por favor, aceite.
A atitude dela era calculada. Depois da conversa com Clarice, Teresa havia pesado os prós e contras. Embora realmente quisesse o bracelete, havia algo que ela desejava ainda mais: o próprio Sterling.
Devolver o bracelete naquele momento era apenas uma estratégia. Quando Sterling finalmente se divorciasse de Clarice e ela se tornasse oficialmente a Sra. Davis, todos os bens e símbolos da família acabariam em suas mãos de qualquer forma.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um Vício Irresistível
Por favor, cadê o restante do livro???...