Celina sentiu uma vontade imensa de chorar naquele instante. Pequenos gestos, pequenas delicadezas, tudo que ela sentia falta há tanto tempo.
— Você é realmente um presente. — disse, segurando o carrinho para que ele colocasse os pacotes.
— E você é meu recomeço também, Celina. Esse momento é dos dois.
— Você não tem ideia do quanto isso me conforta.
Fizeram o pagamento, saíram carregando duas sacolas térmicas e três comuns, e chamaram um Uber para voltar. O céu já começava a escurecer, mesmo sendo ainda meio da tarde — o típico inverno nova-iorquino. Do carro, Celina olhava pela janela e absorvia cada detalhe da cidade, como se estivesse sonhando acordada.
Chegaram ao prédio e subiram com as sacolas. Gabriel começou a guardar tudo e Celina o ajudava, rindo da falta de lógica que ambos tinham com organização.
— A gente precisa de uma rotina. Amanhã, organizamos um cronograma de tarefas. — disse ele.
— Com direito a quem lava a louça e quem faz o jantar?
— Claro. E dia livre pras crises existenciais também. — disse Gabriel rindo.
— Quero pelo menos duas crises por semana. — respondeu Celina, já rindo alto.
Depois de organizarem a despensa, Gabriel colocou água pra ferver e sugeriu um chocolate quente. Celina aceitou na hora. Sentaram-se na pequena mesa da cozinha, as xícaras fumegando nas mãos.
— Essa cidade assusta e abraça ao mesmo tempo. — disse Celina.
— É igual a vida. Mas você não estará sozinha. — respondeu Gabriel com aquela calmaria que ele tinha.
— Eu sei. Sinto que não estou sozinha. E isso… isso me salva.
— E vai ser cada vez melhor. Vamos construir algo leve, bonito. Mesmo que seja só amizade, mesmo que seja só parceria. Mas vai ser bom. Sempre. — disse Gabriel, como se estivesse fazendo uma promessa.
Celina estendeu a mão sobre a mesa e segurou a dele.
— Vai ser especial. Eu sinto.
O relógio marcava 18h42 quando Zoe bateu suavemente na porta da sala de Thor. O final do expediente havia deixado os corredores mais silenciosos, e só o som distante da chuva fina contra as janelas altas quebrava o silêncio opressor que pairava naquele lugar.
— Senhor Thor… — disse ela com a voz baixa, quase receosa. — Tem um homem lá fora dizendo que tem horário com o senhor, mas… ele não quis se identificar.
Thor estava de pé, de costas, com as mãos nos bolsos da calça social. Seus olhos estavam cravados na cidade à frente da parede de vidro. São Paulo, cinza e suada, parecia distante, como se não fizesse mais parte da sua realidade.
— Manda entrar. E pode ir, Zoe. Está dispensada.
Ela assentiu, mesmo sem resposta direta. Voltou para a recepção e encarou o homem alto, discreto, com um sobretudo escuro e uma pasta de couro nas mãos. Com um gesto comedido, ela disse:
Thor não reagiu de imediato. Sua mandíbula apenas se enrijeceu, denunciando a tensão contida sob a fachada de autocontrole.
— Aqui estão. — disse o detetive, abrindo a pasta. Retirou um envelope pardo e o colocou sobre a mesa. — Como o senhor pediu, apenas fotos. Mas também anotei o endereço do apartamento onde eles estão. Está tudo aí dentro.
Thor puxou o envelope sem pressa. Seu olhar estava fixo no rosto do detetive, como se tentasse avaliar o quanto de veneno havia naquelas imagens.
— Pode se retirar. O pagamento vai cair na sua conta ainda hoje.
— À disposição, senhor Thor. Sempre que precisar.
O detetive se retirou com passos firmes e discretos. Ao ouvir a porta se fechar, Thor respirou fundo, abriu o envelope e derramou seu conteúdo sobre a mesa.
A primeira imagem fez sua expressão fechar de imediato: Celina, Tatiana e Roberto almoçando em um restaurante. O riso dela era leve, o rosto iluminado de paz. Um sorriso genuíno. Um que ele já não via há muito tempo. Um que não era mais pra ele.
A segunda mostrava os três no Central Park e a outra, na recepção do hotel, conversando. Tatiana segurava a mão de Celina. Os olhos de Thor desciam de foto em foto como lâminas cortando sua calma.
Então veio a imagem que o fez cerrar os punhos: Gabriel, entrando no hotel. A legenda no canto dizia: "Horário confirmado da chegada do voo e deslocamento até o hotel." Na foto seguinte, Celina saia com a mala, sendo acompanhada por Gabriel até o carro.
Depois, a mais absurda. A mais dolorosa. A mais odiosa: Celina e Gabriel entrando juntos no prédio onde iriam morar.
As mãos de Thor começaram a tremer. Ele continuou olhando, agora com o rosto obscurecido por sombras. As últimas imagens mostravam os dois no supermercado. Estavam lado a lado no corredor de produtos importados, rindo. Gabriel carregava o carrinho de compras, Celina apontava algo na prateleira. O ambiente era tão doméstico que parecia uma cena de casal de longa data.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...