O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR romance Capítulo 182

Celina sentiu uma vontade imensa de chorar naquele instante. Pequenos gestos, pequenas delicadezas, tudo que ela sentia falta há tanto tempo.

— Você é realmente um presente. — disse, segurando o carrinho para que ele colocasse os pacotes.

— E você é meu recomeço também, Celina. Esse momento é dos dois.

— Você não tem ideia do quanto isso me conforta.

Fizeram o pagamento, saíram carregando duas sacolas térmicas e três comuns, e chamaram um Uber para voltar. O céu já começava a escurecer, mesmo sendo ainda meio da tarde — o típico inverno nova-iorquino. Do carro, Celina olhava pela janela e absorvia cada detalhe da cidade, como se estivesse sonhando acordada.

Chegaram ao prédio e subiram com as sacolas. Gabriel começou a guardar tudo e Celina o ajudava, rindo da falta de lógica que ambos tinham com organização.

— A gente precisa de uma rotina. Amanhã, organizamos um cronograma de tarefas. — disse ele.

— Com direito a quem lava a louça e quem faz o jantar?

— Claro. E dia livre pras crises existenciais também. — disse Gabriel rindo.

— Quero pelo menos duas crises por semana. — respondeu Celina, já rindo alto.

Depois de organizarem a despensa, Gabriel colocou água pra ferver e sugeriu um chocolate quente. Celina aceitou na hora. Sentaram-se na pequena mesa da cozinha, as xícaras fumegando nas mãos.

— Essa cidade assusta e abraça ao mesmo tempo. — disse Celina.

— É igual a vida. Mas você não estará sozinha. — respondeu Gabriel com aquela calmaria que ele tinha.

— Eu sei. Sinto que não estou sozinha. E isso… isso me salva.

— E vai ser cada vez melhor. Vamos construir algo leve, bonito. Mesmo que seja só amizade, mesmo que seja só parceria. Mas vai ser bom. Sempre. — disse Gabriel, como se estivesse fazendo uma promessa.

Celina estendeu a mão sobre a mesa e segurou a dele.

— Vai ser especial. Eu sinto.

O relógio marcava 18h42 quando Zoe bateu suavemente na porta da sala de Thor. O final do expediente havia deixado os corredores mais silenciosos, e só o som distante da chuva fina contra as janelas altas quebrava o silêncio opressor que pairava naquele lugar.

— Senhor Thor… — disse ela com a voz baixa, quase receosa. — Tem um homem lá fora dizendo que tem horário com o senhor, mas… ele não quis se identificar.

Thor estava de pé, de costas, com as mãos nos bolsos da calça social. Seus olhos estavam cravados na cidade à frente da parede de vidro. São Paulo, cinza e suada, parecia distante, como se não fizesse mais parte da sua realidade.

— Manda entrar. E pode ir, Zoe. Está dispensada.

Ela assentiu, mesmo sem resposta direta. Voltou para a recepção e encarou o homem alto, discreto, com um sobretudo escuro e uma pasta de couro nas mãos. Com um gesto comedido, ela disse:

Thor não reagiu de imediato. Sua mandíbula apenas se enrijeceu, denunciando a tensão contida sob a fachada de autocontrole.

— Aqui estão. — disse o detetive, abrindo a pasta. Retirou um envelope pardo e o colocou sobre a mesa. — Como o senhor pediu, apenas fotos. Mas também anotei o endereço do apartamento onde eles estão. Está tudo aí dentro.

Thor puxou o envelope sem pressa. Seu olhar estava fixo no rosto do detetive, como se tentasse avaliar o quanto de veneno havia naquelas imagens.

— Pode se retirar. O pagamento vai cair na sua conta ainda hoje.

— À disposição, senhor Thor. Sempre que precisar.

O detetive se retirou com passos firmes e discretos. Ao ouvir a porta se fechar, Thor respirou fundo, abriu o envelope e derramou seu conteúdo sobre a mesa.

A primeira imagem fez sua expressão fechar de imediato: Celina, Tatiana e Roberto almoçando em um restaurante. O riso dela era leve, o rosto iluminado de paz. Um sorriso genuíno. Um que ele já não via há muito tempo. Um que não era mais pra ele.

A segunda mostrava os três no Central Park e a outra, na recepção do hotel, conversando. Tatiana segurava a mão de Celina. Os olhos de Thor desciam de foto em foto como lâminas cortando sua calma.

Então veio a imagem que o fez cerrar os punhos: Gabriel, entrando no hotel. A legenda no canto dizia: "Horário confirmado da chegada do voo e deslocamento até o hotel." Na foto seguinte, Celina saia com a mala, sendo acompanhada por Gabriel até o carro.

Depois, a mais absurda. A mais dolorosa. A mais odiosa: Celina e Gabriel entrando juntos no prédio onde iriam morar.

As mãos de Thor começaram a tremer. Ele continuou olhando, agora com o rosto obscurecido por sombras. As últimas imagens mostravam os dois no supermercado. Estavam lado a lado no corredor de produtos importados, rindo. Gabriel carregava o carrinho de compras, Celina apontava algo na prateleira. O ambiente era tão doméstico que parecia uma cena de casal de longa data.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR