O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR romance Capítulo 136

Thor a olhou por um segundo, como se não soubesse se devia sorrir ou chorar.

— É com ela que eu quero tentar. É nela que vejo o agora. Mas... tenho medo de estragar tudo.

— Medo de ser quem era antes?

Thor assentiu lentamente.

— Não quero repetir erros. Não quero me tornar uma prisão pra ela. Ela já viveu isso com o ex-marido. Eu preciso ser melhor.

A sessão seguiu em um tom introspectivo e terminou pontualmente. Embora ele fosse um homem de negócios acostumado a controlar tudo ao seu redor, ali, naquele consultório, ele permitia que suas emoções transbordassem. Era o único lugar onde ele não precisava ser implacável, inflexível, nem esconder o peso que carregava nos ombros desde que assumiu os negócios da família. Ao sair do consultório, ele respirou fundo, ajeitou a gravata com a expressão carregada e voltou direto para a empresa. Ainda havia muito a resolver e, às 17h, ele estaria diante de novos investidores.

Já em sua sala, focado em documentos e revisando números no computador, foi interrompido pelo toque insistente de seu celular. Quando viu o nome na tela, uma onda de estranheza percorreu seu corpo. Seu pai, Raul, raramente ligava. Eles se falavam pontualmente em reuniões familiares ou quando o assunto envolvia diretamente os negócios. Não era de seu feitio fazer ligações sem aviso.

— Alô? — atendeu, imediatamente tenso.

— Thor... — a voz de Raul soava preocupada e baixa. — Preciso que venha agora à mansão. Sua mãe passou mal. Está sendo atendida, mas quero que esteja aqui.

Por um instante, o mundo parou para Thor. Sua respiração travou, o corpo ficou estático. Sua mãe era sua fortaleza emocional, o coração da família. Aquela mulher doce, que sempre o acolheu com carinho e conselhos silenciosos, não podia estar mal. Ele não suportaria.

— Eu... eu já estou indo — respondeu, levantando-se num pulo.

Sem sequer desligar o computador, saiu da sala às pressas. Zoe, que ia em direção à porta dele com uma pasta nas mãos, parou no mesmo instante.

— Senhor Thor?

— Desmarque todos os meus compromissos, agora — disse ele, passando por ela como um furacão.

Zoe ficou sem reação, observando o chefe atravessar o saguão como se o prédio estivesse em chamas. Do lado de fora, com os nervos à flor da pele, Thor tentava ligar para o médico da família, os dedos trêmulos dificultando até mesmo digitar. Enquanto caminhava apressado, olhando para o celular, esbarrou violentamente em alguém. O aparelho voou das suas mãos, mas antes que a pessoa caísse, ele a segurou pela cintura, no reflexo.

— Me desculpe! — exclamou, abaixando os olhos para ver quem havia segurado.

Os olhos dele encontraram os dela. E, naquele momento, o tempo parou.

Celina.

Os olhos verdes dela se arregalaram. Suas mãos estavam apoiadas nos braços dele. A proximidade entre os dois era quase íntima, quase perigosa. Um calor intenso e confuso percorreu seus corpos. Por um momento, não existia mais o mundo, nem preocupações, nem mágoas. Apenas os dois, envolvidos naquela suspensão de realidade. Um instante tão denso quanto um abraço.

Thor a olhava como se estivesse vendo um sonho antigo, uma lembrança viva de tudo que ele tinha perdido. Celina parecia hipnotizada. Mas então, como um raio, a lembrança do telefonema do pai e a imagem da mãe voltaram com força. Ele lembrou do que Celina dissera naquele dia, ao deixá-lo: "Você nunca mais me toca sem minha permissão."

A recepcionista sorriu educadamente.

— Claro, senhora Celina. Só um momento.

Após uma breve ligação, a autorização foi dada.

— Pode subir. Já estão te aguardando.

Celina seguiu para o elevador. Ao entrar, apertou o botão do andar do DP. O elevador começou a subir, e sua mente, inevitavelmente, a traiu. A cena de semanas atrás veio com nitidez. O momento em que Thor travou as portas daquele mesmo elevador para impedir que ela saísse, quando discutiram, trocaram farpas e olhares que diziam tudo o que as palavras não conseguiam. Ela balançou a cabeça, como quem tenta espantar um fantasma.

O elevador anunciou o andar. Celina saiu determinada. Entrou no setor e foi recebida por uma funcionária simpática, que a conduziu até a sala para assinar os papéis da demissão. O processo foi rápido, frio, quase burocrático. Celina assinava cada folha como se assinasse a finalização de um capítulo importante da sua vida. Enquanto fazia isso, um misto de alívio e dor tomava conta de seu peito. Alívio por estar encerrando uma etapa tóxica, dor por tudo que precisou viver ali dentro.

Ao finalizar a última assinatura, entregou a caneta com firmeza e agradeceu.

— Obrigada. Desejo tudo de bom à empresa — disse, educadamente.

— Desejamos o mesmo pra você, Celina.

Ela saiu da sala com a cabeça erguida. Caminhou até o elevador mais uma vez. No caminho, sentia uma espécie de libertação, como se tivesse tirado um peso das costas. Mas o encontro com Thor ainda pulsava em sua mente, repetindo-se em loop como uma lembrança vívida. Aqueles olhos. A forma como ele a segurou. E principalmente, o modo como ele se despediu. Como se houvesse algo por dizer — mas o tempo, mais uma vez, tivesse sido cruel.

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