Thor a olhou por um segundo, como se não soubesse se devia sorrir ou chorar.
— É com ela que eu quero tentar. É nela que vejo o agora. Mas... tenho medo de estragar tudo.
— Medo de ser quem era antes?
Thor assentiu lentamente.
— Não quero repetir erros. Não quero me tornar uma prisão pra ela. Ela já viveu isso com o ex-marido. Eu preciso ser melhor.
A sessão seguiu em um tom introspectivo e terminou pontualmente. Embora ele fosse um homem de negócios acostumado a controlar tudo ao seu redor, ali, naquele consultório, ele permitia que suas emoções transbordassem. Era o único lugar onde ele não precisava ser implacável, inflexível, nem esconder o peso que carregava nos ombros desde que assumiu os negócios da família. Ao sair do consultório, ele respirou fundo, ajeitou a gravata com a expressão carregada e voltou direto para a empresa. Ainda havia muito a resolver e, às 17h, ele estaria diante de novos investidores.
Já em sua sala, focado em documentos e revisando números no computador, foi interrompido pelo toque insistente de seu celular. Quando viu o nome na tela, uma onda de estranheza percorreu seu corpo. Seu pai, Raul, raramente ligava. Eles se falavam pontualmente em reuniões familiares ou quando o assunto envolvia diretamente os negócios. Não era de seu feitio fazer ligações sem aviso.
— Alô? — atendeu, imediatamente tenso.
— Thor... — a voz de Raul soava preocupada e baixa. — Preciso que venha agora à mansão. Sua mãe passou mal. Está sendo atendida, mas quero que esteja aqui.
Por um instante, o mundo parou para Thor. Sua respiração travou, o corpo ficou estático. Sua mãe era sua fortaleza emocional, o coração da família. Aquela mulher doce, que sempre o acolheu com carinho e conselhos silenciosos, não podia estar mal. Ele não suportaria.
— Eu... eu já estou indo — respondeu, levantando-se num pulo.
Sem sequer desligar o computador, saiu da sala às pressas. Zoe, que ia em direção à porta dele com uma pasta nas mãos, parou no mesmo instante.
— Senhor Thor?
— Desmarque todos os meus compromissos, agora — disse ele, passando por ela como um furacão.
Zoe ficou sem reação, observando o chefe atravessar o saguão como se o prédio estivesse em chamas. Do lado de fora, com os nervos à flor da pele, Thor tentava ligar para o médico da família, os dedos trêmulos dificultando até mesmo digitar. Enquanto caminhava apressado, olhando para o celular, esbarrou violentamente em alguém. O aparelho voou das suas mãos, mas antes que a pessoa caísse, ele a segurou pela cintura, no reflexo.
— Me desculpe! — exclamou, abaixando os olhos para ver quem havia segurado.
Os olhos dele encontraram os dela. E, naquele momento, o tempo parou.
Celina.
Os olhos verdes dela se arregalaram. Suas mãos estavam apoiadas nos braços dele. A proximidade entre os dois era quase íntima, quase perigosa. Um calor intenso e confuso percorreu seus corpos. Por um momento, não existia mais o mundo, nem preocupações, nem mágoas. Apenas os dois, envolvidos naquela suspensão de realidade. Um instante tão denso quanto um abraço.
Thor a olhava como se estivesse vendo um sonho antigo, uma lembrança viva de tudo que ele tinha perdido. Celina parecia hipnotizada. Mas então, como um raio, a lembrança do telefonema do pai e a imagem da mãe voltaram com força. Ele lembrou do que Celina dissera naquele dia, ao deixá-lo: "Você nunca mais me toca sem minha permissão."
A recepcionista sorriu educadamente.
— Claro, senhora Celina. Só um momento.
Após uma breve ligação, a autorização foi dada.
— Pode subir. Já estão te aguardando.
Celina seguiu para o elevador. Ao entrar, apertou o botão do andar do DP. O elevador começou a subir, e sua mente, inevitavelmente, a traiu. A cena de semanas atrás veio com nitidez. O momento em que Thor travou as portas daquele mesmo elevador para impedir que ela saísse, quando discutiram, trocaram farpas e olhares que diziam tudo o que as palavras não conseguiam. Ela balançou a cabeça, como quem tenta espantar um fantasma.
O elevador anunciou o andar. Celina saiu determinada. Entrou no setor e foi recebida por uma funcionária simpática, que a conduziu até a sala para assinar os papéis da demissão. O processo foi rápido, frio, quase burocrático. Celina assinava cada folha como se assinasse a finalização de um capítulo importante da sua vida. Enquanto fazia isso, um misto de alívio e dor tomava conta de seu peito. Alívio por estar encerrando uma etapa tóxica, dor por tudo que precisou viver ali dentro.
Ao finalizar a última assinatura, entregou a caneta com firmeza e agradeceu.
— Obrigada. Desejo tudo de bom à empresa — disse, educadamente.
— Desejamos o mesmo pra você, Celina.
Ela saiu da sala com a cabeça erguida. Caminhou até o elevador mais uma vez. No caminho, sentia uma espécie de libertação, como se tivesse tirado um peso das costas. Mas o encontro com Thor ainda pulsava em sua mente, repetindo-se em loop como uma lembrança vívida. Aqueles olhos. A forma como ele a segurou. E principalmente, o modo como ele se despediu. Como se houvesse algo por dizer — mas o tempo, mais uma vez, tivesse sido cruel.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...