Ele pareceu em dúvida sobre contar-me ou não.
- Colin, pode me dizer. Nada do que eu saiba sobre os Rockfeller ou a J.R Recording me faria voltar à Noriah Norte.
- Seu pai está praticamente falido.
- Falido? – Eu não consegui esconder um leve sorriso de satisfação, embora por dentro eu gargalhasse.
- Sim.
- Como isso aconteceu?
- A crescente chegada de novos artistas, as inúmeras gravadoras que surgiram nos últimos anos, a internet, que acaba promovendo os artistas mais do que o Marketing que ele pagava... Enfim, tudo se modernizou, mas J.R parou no tempo.
- Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Na minha inocência parecia que aquele negócio era simplesmente perfeito e rentável eternamente.
- E sem contar as questões jurídicas que a J.R Recording se metia, perdendo muito dinheiro. Eu mesmo entrei em causas porque seu pai me obrigou, sabendo que eram perdidas. Ele fez muitos inimigos ao longo dos anos e ficou mal falado entre os artistas do meio, que acabaram procurando outras gravadoras.
- Lembro das questões de quebra de contratos, que ele fazia questão, retirando grandes artistas de outras gravadoras...
- Sim... E pagando um valor absurdo pela quebra. Além do mais, a J.R Recording nunca foi só uma gravadora. Tinha a parte de empresariar artistas junto. Seu pai meio que confundia as coisas, se achando um pouco “dono” não só dos direitos das pessoas que ele contratava, mas das vidas delas.
- Entendo... Mas eu sempre vi este J.R. talvez você não tivesse se dado em conta.
- Na verdade eu sempre soube que ele não era um bom gerenciador de negócios. Embora forte e reconhecido mundialmente, seu pai sempre foi mais “nome” do que capacidade.
- Você... Já pensava isto quando estávamos juntos?
- Sim, mas eu ainda o idolatrava... Porque meu pai me fazia agir assim.
- Sim, eles eram muito amigos. E como estão seus pais?
- Estão bem. Meu pai parou de trabalhar. Agora os dois passam a maior parte do tempo viajando a aproveitando o que não puderam na juventude, em função de priorizarem sempre a vida profissional.
- Eles fazem bem – sorri – Sinto saudades da sua mãe...
- Por que você nunca voltou, Sabrina?
- Ele me mandou embora... E deixou claro que não queria que eu nunca mais voltasse. Fiz o que ele pediu.
- Depois de sua partida, nunca mais se falou sobre você... Nem na mansão, nem na empresa. – Abaixou os olhos, incerto se deveria falar aquilo.
- Ele avisou que faria isso... Mas eu não sabia que teria coragem. – Engoli em seco.
- Eu... Sinto muito, Sabrina... Por tudo... Exatamente tudo que houve.
- Eu já desculpei você, Colin.
- Mas eu não consegui me perdoar... E não sei se algum dia conseguirei. Porque eu perdi o que tinha de mais importante na vida.
- Eu não acho que seja o momento de falarmos sobre isso. Muito tempo se passou. Não há porque retomarmos algo que já está morto e enterrado.
- Talvez você tenha razão, Sabrina.
- Você... Encontrou alguém? Está feliz? – Perguntei, percebendo que a aparência dele estava boa.
Acomodei-me na poltrona, ao lado da minha filha e Guilherme disse:
- Obrigada, Sabrina. Está muito bom.
- Mas não tem marshmellows, Gui. – Melody reclamou.
- Ei, estamos num Hospital, docinho. Quando chegarmos em casa, eu prometo muitos marshmellows no chocolate, ok?
- Gui pode tomar chocolate com a gente na nossa casa? – Melody perguntou, sorrindo na direção dele.
- Você... Conhece tão bem assim a filha da sua professora? – A mãe dele encarou-o, para em seguida olhar na minha direção.
Ouvimos uma batida na porta, e lá estava Colin. Ele ficou imóvel, me olhando.
- Dr. Monaghan, enfim nos encontrou. – Disse a mãe de Guilherme, levantando-se.
- Sabrina? – Ele me olhou, surpreso com o reencontro.
- Vocês... Se conhecem? – Kelly perguntou, enquanto cumprimentava Colin com dois beijos no rosto – É um prazer conhecê-lo pessoalmente.
- Nos conhecemos há alguns anos atrás... Quando eu ainda cursava Direito. – Tratei de dizer, antes de Colin abrisse a boca para falar que um dia fomos noivos.
- Sim... Fizemos algumas aulas juntos. – Ele confirmou.
- Mãe, poderíamos ter esperado para encontrar o Dr. Monaghan fora do Hospital. Aqui não é lugar para falarmos sobre estes assuntos. Já está tarde e Melody é uma criança. – Guilherme reclamou.
- Deveria ter pensado nisto quando aceitou ficar no mesmo quarto da menina. – Kelly me olhou, como que me culpando.
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