- Vamos conversar fora do quarto. – Guilherme tentou levantar-se, mas a mão o impediu.
Colin aproximou-se da cama de Melody e a analisou, oferecendo-lhe a mão:
- Olá, garotinha. Eu sou Colin.
- Eu sou Melody. Mas você pode me chamar de Medy, como todo mundo.
Eles apertaram as mãos, sorrindo.
- Você é muito linda... Embora não se pareça muito com sua mamãe.
- Eu sou parecida com meu papai. – Ela continuou sorrindo, encolhendo os ombros, como se fosse óbvio que se não parecia comigo, era com o pai.
- Bonito nome... Melody. – Ele observou.
- Vem de Melodia... Meu papai gostava do som da melodia da mamãe.
Colin me olhou, ainda com um sorriso no rosto:
- Ela é linda... E falante.
- Sim... E travessa. Caiu da escada. – Observei, apontando para a perna engessada.
- Doeu? – Ele questionou-a.
- Na hora sim. Mas agora não. Sabe que o médico disse que eu sou muito corajosa? E a minha madrinha Yuna ficou junto comigo o tempo todo, porque ela também é médica. Ela é Pediatra... E não tem namorado. – Enfatizou o “não tem namorado”.
- Hum... Que... Legal. – Ele riu, confuso, balançando a cabeça.
- Você tem namorada?
- Medy! – chamei sua atenção - O que conversamos sobre perguntas indiscretas para as pessoas?
- Tudo bem... – ele sorriu – Não me importo em dizer que não tenho namorada.
- Mas você é bonito... Por que não tem uma namorada?
- Porque... Bem... – Ele ficou pensativo.
Levantei e peguei o queixo dela, fazendo-a me olhar:
- Medy, pare, por favor. Está deixando o doutor Monaghan tímido.
Guilherme começou a gargalhar e olhamos para ele:
- Ela é assim mesmo, doutor. Tira tudo de você em minutos... E ainda assim continuará apaixonado por ela.
Melody sorriu, convencida com a fala de Guilherme.
- Então não vou deixar a menina sem resposta, não é mesmo? Eu tive uma namorada uma vez... Há muitos anos atrás – ele me olhou – Nós iríamos nos casar.
- E o que houve com ela? – A menina arqueou a sobrancelha, curiosa, não imaginando que pudesse ser eu.
- Eu não fui um bom namorado.
- Não?
- Não... Na verdade, fui péssimo. Fiz algo que a magoou muito. Então ela me deixou... E foi embora. E nunca encontrei alguém que me fizesse sentir o que eu sentia por ela.
Houve um breve silêncio no quarto antes de Melody dizer:
- Mas era só você ter pedido desculpas.
- Eu pedi... Mas era tarde demais.
Olhei para Guilherme, que observava tudo atentamente.
- Eu não paguei seus honorários para saber sobre seu passado, Dr. Monaghan – Kelly falou altivamente – Sugiro que saiamos para conversar sobre negócios.
- Sim, sim... – Colin ficou encabulado.
- Você vem? – Ela olhou para o filho.
- Ele não pode – me intrometi – Acabou de sofrer um acidente. Olhe para ele. Se pudesse ficar andando por aí, ele não estaria numa cama de hospital – não me contive com a frieza e falta de empatia dela tanto com Colin quanto com o próprio filho.
Ela abriu a boca para falar algo, mas não o fez, desistindo.
- Me perdoa por eu ter caído, mamãe... Eu corri.
- Está perdoada. Mas lembre-se que cada vez que você se machuca, dói em você e na mamãe. Porque eu a amo mais do que tudo, entendeu?
Ela assentiu com a cabeça, a mãozinha alisando meu rosto, os olhos cansados.
Beijei a bochecha dela e comecei a alisar suas pálpebras, até que ela pegou no sono, em poucos minutos.
Olhei para Guilherme, que estava sentado com as pernas para o lado de fora da cama. Os esfolões dos braços dele estavam aparentes e eu imaginei que devia estar doendo muito.
- Às vezes acho que ela tem uns cinco anos mais do que a idade que está na certidão. – Brinquei.
- É uma menina inteligente e dócil. Não tem como não se encantar por ela.
- Sim... Ela é a minha vida todinha, num corpinho de criança.
- O encontrou? – Ele retomou a pergunta.
- Gui, eu sempre fui louca por ele. Não posso lhe dar esperanças, porque elas não existem.
- Se é louca por ele, por que não estão juntos? Você criou Medy sozinha. Onde ele estava, quando você mais precisou? Vai passar uma borracha sobre tudo que ele fez?
- Ele não fez nada... Foram desencontros do destino.
Ele riu debochadamente:
- Isso não existe, porra!
- Gui, controle-se.
- Eu sou louco por você, Sabrina. Se a perder, eu não sei o que sou capaz de fazer.
- Fale baixo, Guilherme. – Amedrontei-me.
- Falar baixo? Eu tenho vontade de gritar ao mundo que eu amo você, Sabrina.
Amor? Ele falou mesmo “amor”? Porra, eu estava fodida!
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