ENTRE O AMOR E O ÓDIO romance Capítulo 193

Naquela noite, marcada por uma tensão e revelações que ecoavam nos corações de Alex e Rebecca, o tempo parecia dilatar-se, prolongando-se em uma sequência de momentos conturbados. Na tranquilidade da madrugada, após horas mergulhados numa correnteza alcoólica que Alex evitava desde a reconciliação com Rebecca, ele decide enviar uma mensagem para ela.

“Me encontre na nossa casa.” — Segurando as chaves do carro, ele deixa seu apartamento, cada passo refletindo os pensamentos tumultuados que o assombravam.

Rebecca, ao deparar-se com aquelas palavras, observa Susan adormecida no sofá. Com cautela para não atrapalhar o sono da amiga, ela deixa o apartamento e dirige-se silenciosamente à casa que é um refúgio compartilhado com Alex. Ao chegar, é surpreendido com ele parado diante da ampla janela da sala de estar, contemplando a escuridão ao seu redor, que agora se transforma em um espetáculo noturno pelas luzes do jardim. Rebecca aproxima-se sem fazer ruídos, envolvendo seus braços ao redor de Alex, apoiando sua cabeça nas costas tensas dele. Ali, no silêncio eloquente, as palavras tornam-se desnecessárias.

— Eu não posso mais fazer isso. — Murmura, puxando-a para sua frente e abraçando-a com uma intensidade que denota o peso emocional que carrega. — Estou à beira de um colapso nervoso.

— Meu amor, tudo isso foi apenas mais uma decepção em nossas vidas. Não permitiremos que esse incidente nos desvie do nosso caminho. — Diz, segurando o rosto dele com ternura.

— Você não entende, eu não sei mais o que fazer. — Fala, afastando-se dela. — As pessoas ao nosso redor não oferecem ajuda, pelo contrário, parecem conspirar contra nós. Olha o tempo passado e eu não tenho nada que possa provar que aquela psicopata é culpada de tudo. Estou cumprindo o que você solicitou, o que, sinceramente, foi um alívio, uma vez que não consigo mais tocar naquela mulher, mas a distância entre mim e ela tem aumentado significativamente. Você pode me considerar horrível, mas vou matá-la. — Afirma, com a escuridão envolvendo o seu olhar, as palavras carregadas de uma intensidade sombria.

— Alex… — Sussurra, uma mistura de preocupação e temor na sua voz.

— Já está decidido. — Declara, interrompendo-a. — Eu não posso confiar em ninguém, nem nas pessoas que cresceram ao meu lado, imagina naquela psicopata. Eu já estou quase com a minha sentença definida, não tenho nenhuma prova que diga que não mandei atacarem você. Seus agressores, incluindo a empregada que as ajudou, devem estar mortos e a vida da Nicole é mais limpa do que uma água cristalina. Eu desisto, serei preso, que seja pela morte dela. Assim, viverei meus dias na prisão em paz, sabendo que vocês estão bem. — Afirma, sentindo-se impotente por não chegar a lugar algum.

Rebecca, com um olhar determinado, avança e o envolve em um abraço apertado. Em contraste com as habituais situações em que é Alex quem a conforta, agora ela se torna a fonte de força. É a primeira vez que ela observa a fragilidade nele, percebendo que esses sentimentos são o medo de perder o que mais ama.

— Alex, serei tua testemunha, se for preciso. Você não será preso. Enfrentaremos isso juntos, como sempre fizemos. Não podemos permitir que a escuridão nos engula. A verdade prevalecerá.

— Você não fará isso, você vai embora com nossos filhos. É isso que você irá fazer. Estou cansado de viver com medo, de pensar que talvez estejamos nos arriscando ao nos encontrarmos. O pavor me consome só em pensar na possibilidade de ela descobri-los. Eu não posso mais viver assim, Rebecca, eu não consigo.

— Meu amor. — Sussurra, segurando o rosto dele com as mãos, fazendo-o encará-la. — Você não é esse homem que desiste. Não importa o que aconteça, nós iremos até o fim. Não acredito que direi isso, mas se você tiver que se envolver com aquela mulher, então envolva-se, mas ela não vai nos vencer. Eu não abdicarei da minha felicidade ao teu lado. Dê o que ela quer em troca da nossa liberdade.

— Não. — Responde, acariciando o rosto dela e envolvendo-a em um beijo apaixonado. — Eu não vou transar com aquela mulher, eu não posso. Cogitei fazer isso antes de você voltar para a minha vida, mas não existe possibilidade de isso acontecer. Tocar os lábios dela era quase o mesmo de beijar um monte de lixo, imagina tocar todo o corpo dela. Você não imagina o controle que eu precisava ter para isso. — Afirma, beijando-a novamente, cada toque um manifesto de resistência. — Minha menina, por favor, aceite isso. Vá embora com nossos filhos. Não quero que eles cresçam num ambiente de constante ameaça.

— Alex, eu farei o que você quiser, mas ainda temos alguns meses. Prometo que, se não tivermos nenhuma prova, eu vou embora com eles. — Afirma, não contendo as lágrimas, abraçando-o com firmeza. Alex, com dedos carinhosos, enxuga as lágrimas que insistem em escapar dos olhos dela.

— Eu te amo. — Sussurra, pegando-a nos braços e conduzindo-a para o quarto.

Enquanto, Ryan e Christine mantiveram-se reclusos nos dias que se seguiram, sobretudo quando os hematomas no rosto de Ryan revelavam as escolhas que fizeram. As cicatrizes físicas são uma representação visível de uma amizade corroída pela traição.

À medida que os dias avançam, Rebecca e Alex decidem retomar as sessões de terapia. Onde enfrentam os traumas, traições, inseguranças, a distância dos filhos e principalmente, o medo do desconhecido. Cada palavra dita é como uma tentativa desesperada de reconstruir o que foi quebrado.

Os dias se transformam em semanas e para Alex, cada amanhecer traz consigo o sabor amargo da derrota. Mesmo com equipes especializadas meticulosamente vasculhando cada pista, não há vestígios que apontem para o envolvimento de Nicole na trama que envolveu sua vida. A incerteza se instala, minando a confiança na análise que um dia julgou certa.

A busca frenética parece dissipar-se na vastidão do desconhecido e Alex, antes confiante em suas decisões, encontra-se envolto pela sombra opressiva da dúvida. Cada passo dado na tentativa de desvendar a verdade parece conduzi-lo a um labirinto de incertezas, onde as certezas sólidas agora se dissolvem como fumaça.

Alex testemunha Rebecca descer as amplas escadas da casa que ela meticulosamente projetou para ambos. Um filme dos sonhos que ele esboçou para eles percorre sua mente. A cena expressa uma complexa mistura de emoções, onde ele imagina seus filhos correndo pelos corredores, as manhãs compartilhadas com o aroma de café e os carinhos trocados que fortalecem seus laços.