“Mônica Vargas”
Eu estava só observando a interação entre o Mário e o Antônio. Na verdade eu estava até gostando dos dois, eles tratavam o Maurice com a mesma arrogância que o Maurice tratava o resto do mundo, inclusive a mim. Seria mais divertido se eu não estivesse sendo ignorada pelos três.
Ao entrar na sala de reuniões eu observei o Antônio se sentar como um rei na cabeceira da mesa, o lugarzinho de ouro do Maurice. Ele não suportava que ninguém tomasse o seu lugar e a naturalidade com que o Antônio fez isso foi hilariante. O Mário se sentou a esquerda do Antônio, a secretária que tomaria notas se sentou logo atrás e o Maurice olhava a situação como se não soubesse se escolhia outro lugar ou se dizia para o Antônio se levantar.
- Ora, Maurice, vai ficar em pé aí como um estagiário novato? Comece essa reunião, homem! – O Antônio era mesmo uma figura, tratava o Maurice como um idiota, parecia ser um desses velhos ricos e hostis.
- Claro, claro. – O Maurice se sentou em minha cadeira, à direita do Antônio e começou a falar. – Mário, assim que eu soube da sua intenção em construir um hotel SPA nas montanhas, eu tive a certeza de que estaria envolvido nesse projeto magnífico. Você vai ficar impressionado com o projeto especial que a Lanoy desenvolveu para você.
O Maurice apertou um botão no controle remoto e a imagem do projeto brilhou na tela atrás de nós.
- Só um minuto, Maurice, sua secretária pode se sentar em outro lugar? A cabeça dela está na frente da imagem e está atrapalhando a minha visão. – O Mário pediu e eu demorei um segundo para perceber que ele se referia a mim.
- Ah, não, mas eu não sou a secretária, sou a arquiteta. Mônica Vargas, muito prazer. – Eu estendi a mão sobre a mesa e abri o meu melhor sorriso.
- Mesmo assim, você poderia se mudar de lugar? Ou será impossível que eu veja esse projeto tão especial que vocês desenvolveram. – O Arrogante do Mário ignorou completamente a minha mão estendida.
- Vai, Mônica, se senta pra lá. – O Maurice me deu um empurrãozinho.
Eu fiquei chocada com o tamanho dos três egos reunidos naquela sala. Mas isso não ia ficar barato, principalmente para o Maurice que não me deu o meu lugar, não se impôs exigindo que me respeitassem. Eu acabei me sentando na outra ponta da mesa, totalmente afastada, e pela hora que se seguiu eu ouvi o Maurice apresentar o projeto cheio de eloquência e orgulho. Quando ele finalmente desligou o projetor, estava com o peito estufado, certo de que tinha sido brilhante. Mas a expressão no rosto do Mário dizia outra coisa.
- Maurice, eu estou em dúvida, você conhece algum dos meus hotéis? – O Mário perguntou franzindo o cenho.
- Sim, claro, já me hospedei em vários. – O Maurice adorava se exibir.
- Então me explica, porque esse projeto destoa tanto do nível de apresentação da minha rede? Sinceramente, seu projeto não se encaixa nos moldes do meu negócio. Falta refinamento, elegância, identidade. É um projeto quase caricato. – O Mário detonou o projeto em apenas cinco segundos.
- Mas, Mário, é clássico, remete a riqueza, ostentação, tudo o que os seus hotéis significam. – O Maurice estava indo por um caminho errado e começou a ficar nervoso.
- Não, não, riqueza e ostentação não, Maurice, meus hotéis remetem a exclusividade, equilíbrio e elegância, é muito diferente disso que você está me apresentando. Esse seu projeto é muito “old money”, totalmente datado, antiquado, com uma estética confusa e excessivamente adornado. Me desculpe, mas eu sinto como se tivesse perdido o meu tempo aqui. – O Mário detonou o Maurice, que estava claramente sem reação.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...