“Magda Zapata”
Aquela casa estava muito silenciosa e isso era muito estranho. Na última noite eu até consegui dormir, a Abigail nem gritou, embora eu pudesse ouvir seus gemidos e suas risadas, não se comparava aos gemidos altos e aquelas contagens malucas que ela fazia enquanto a cama batia na parede do quarto e eu acabei pegando no sono, mas me arrependi de ter dormido. Sonhei a noite toda com aquele abdômen trabalhado na academia daquele atrevido do Tomás.
Mas eu mal acordei e já havia uma mensagem do Ulisses em meu celular, avisando que o vôo dele chegaria às dez da manhã e que ele passaria para me pegar. Então, com um suspiro pesado eu me levantei e fui me arrumar. A vida era mesmo injusta, enquanto eu tinha que aguentar o Ulisses, a antipática da Abigail tinha aquele marido alto, forte, que deveria ter mais gominhos na barriga que o Tomás e fazia aquela maldita cama bater na parede por horas todas as noites.
Ai, toda a energia sexual que havia nessa casa estava me atingindo, me deixando carente e eu estava amaldiçoando ainda mais o falecido com sua cláusula estúpida para me manter no celibato. Eu balancei a cabeça para expulsar os pensamentos intrusivos. Era melhor tomar um banho gelado.
Quando eu cheguei na cozinha a gangue dos irmãos estava reunida e eles riam de alguma bobagem que o Tomás tinha falado.
- Bom dia! – Eu entrei e senti todos eles me olharem como se me avaliassem.
- Minha nossa, hein, tia, mas hoje a senhora está de parabéns! – O Tomás se levantou e veio até mim.
Ele parou atrás de mim enquanto eu me servia de café, puxou o meu cabelo para o lado e inspirou o ar ali perto da minha orelha. Me deixando nervosa e trêmula. Então ele deu uma risadinha e tirou a caneca e a jarra da cafeteira das minhas mãos.
- Dá aqui, antes que a senhora derrame tudo. – Ele riu, esse moleque estava debochando de mim, mas eu ia dar uma liçãozinha nele. – Vai passear, tia?
- Vou sair com um amigo. – Respondi mal humorada e ele riu.
- Está muito bonita pra quem vai sair com um amigo. É só um amigo ou é um pretendente? – Ele quis saber e aquilo ali já estava virando um interrogatório.
- Me respeita, garoto! Eu sou uma viúva! – Eu chamei a sua atenção e ele riu mais.
- Viúvo é quem morre, tia! E a senhora está bem vivinha e ainda está inteirona. – Ele me entregou a caneca no momento em que o Enrico entrou na cozinha.
- Bom dia, amigos! – O Enrico entrou muito bem humorado.
- Ué, bonequinho engomado, dormiu no carro de novo? – O Maximilian perguntou.
- Que nada! Levei uma gata pra um hotel e tive uma noite de rei. – O Enrico respondeu e me encarou. – Está indo aonde, mamãe?
- Não te interessa! – Eu respondi irritada, sabendo que o Enrico não tinha deixado sobrar um centavo do dinheiro que eu ainda tinha.
A campainha tocou e eu olhei o relógio, só podia ser o Ulisses, mas antes que eu pudesse me mexer o Tomás já estava passando por mim.
- Eu abro! – Ele falou e com um sorrisinho malicioso me encarou. – Quero conhecer o amigo da tia.
E não demorou para o Ulisses ser introduzido ali na cozinha, com o Tomás ao lado dele, com a mão em seu ombro, e eu percebi a ironia da vida. Um era o oposto do outro. Enquanto o Tomás era jovem, alto, forte e cheio de cabelos, o Ulisses era um tipo compacto, com uma barriguinha proeminente e uma calvície pronunciada, além, é claro, dos seus sessenta e muitos anos.
- Mas quanta juventude nesta casa! – O Ulisses comentou com um sorriso simpático e se aproximou de mim. – Inclusive você, minha querida, parece ainda mais jovem.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...