Gregório estava falando ao telefone quando uma voz feminina interrompeu do outro lado da linha, perguntando: "Gregório, quer comer um pouco de abacaxi?"
Ophelia parou de falar abruptamente.
Gregório afastou o telefone do ouvido e respondeu, "Não, obrigado." A mulher pareceu dizer algo mais, mas Ophelia não conseguiu ouvir, sua mente zumbindo intensamente.
Até que a voz de Gregório voltou a se tornar clara no telefone: "O que você queria me perguntar?"
Depois de alguns segundos de silêncio.
"Não é nada," disse Ophelia. "Se fala quando você voltar."
Ela desligou o telefone sem esperar por uma resposta dele.
O frio do final do outono era tanto que um simples suéter não oferecia proteção alguma. O corpo de Ophelia estava completamente gelado, o frio penetrando até os ossos.
Suas pontas dos dedos estavam tão frias que quase não sentia mais, e até o gesto de chamar um carro pelo celular se tornou desajeitado.
Ela tremia levemente, talvez por causa do frio.
Um carro preto parou à sua frente, e Lisandro apareceu pela janela abaixada: "Senhora, posso levá-la de volta ao hospital?"
Ophelia não recusou, não tinha motivo para complicar as coisas para si mesma.
O aquecimento do carro estava alto, e logo seu rosto estava quente, embora ainda sentisse frio nos ossos.
Da sede da Fortaleza Finanças S.A. até o hospital, a viagem durava meia hora, e Ophelia permaneceu em silêncio o tempo todo.
Lisandro olhava para ela pelo retrovisor de vez em quando. Ela estava encostada no banco, olhando pela janela, perdida em pensamentos.
Quando chegaram ao estacionamento subterrâneo do hospital e ele desligou o carro, avisou: "Senhora, chegamos."
Ophelia desafivelou o cinto de segurança e colocou novamente seu jaleco branco, abaixando-se para abotoá-lo quando de repente perguntou:
"Lisandro, você já viu a Kristina?"
Lisandro hesitou, sem responder de imediato.
"Parece que sim."
Depois de abotoar o jaleco, Ophelia levantou a cabeça, um sorriso enigmático nos lábios, e perguntou: "Quem é mais bonita, eu ou a Kristina?"
Ela já não queria mais respostas.
Porque sabia que só traria mais humilhação.
Alguns dias depois, numa tarde, Queren ligou.
"Sua tia Esteves faleceu, o memorial será no sábado de manhã. Lembre-se de pedir folga com antecedência, você precisa estar lá."
Ophelia olhou para a agenda sobre a mesa: "Tenho uma cirurgia na quarta-feira de manhã..."
"A cirurgia é mais importante que o memorial do seu tio Esteves?" Queren estava claramente irritada. "Você já é adulta, não entende o básico?"
Ophelia calculou o tempo. A cirurgia marcada para depois de amanhã não era tão complicada, no máximo duraria uma hora. Se ela terminasse a cirurgia a tempo, poderia chegar a tempo para o funeral.
Ela não discutiu mais, apenas respondeu: "Está bem."
Mas como os planos nem sempre acompanham as mudanças, a cirurgia daquele dia correu muito bem, sendo concluída em menos de cinquenta minutos. Contudo, antes que Ophelia pudesse deixar a sala de cirurgia, chegou um paciente com os olhos gravemente feridos por produtos químicos.
Movida pelo seu instinto compassivo de médica, Ophelia não hesitou em ficar para realizar a lavagem de emergência nos olhos do paciente. Assim que terminou, pegou um táxi às pressas e foi para o velório.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Volta! Volta!!! A Nossa Casa
Legal, eu estava lendo e gostando, mas não tinha condições pra continuar, tomara q seja uma boa leitura por aqui....