A sala estava silenciosa, uma quietude que beirava o desolamento.
Ophélia subiu as escadas até o segundo andar e entrou no quarto principal.
As luzes do corredor e do chão estavam acesas, como se fosse um dia qualquer em que ela estivesse em casa, e do banheiro vinha o som abafado de água corrente.
Fazia sentido tomar uma ducha depois de se sujar mexendo nas coisas, mas seus ternos ainda estavam pendurados no armário, nenhum faltando.
A xícara de café meio vazia sobre a mesa, o laptop de trabalho aberto sem ter sido desligado, o casaco jogado sobre o encosto da cadeira, os lençóis na cama, recém-trocados...
E o porta-retratos ao lado da cama, com uma foto deles no topo da Montanha Meteoro.
Todos esses sinais indicavam que ele estava ali não apenas para mover coisas.
Mas por que ele escolheria morar sozinho ali?
A cabeça de Ophélia estava em tumulto, sem conseguir organizar os pensamentos.
Perdida em reflexão, ela não percebeu que o som da água havia parado, e quando se deu conta, já era tarde demais para sair.
De repente, a porta do banheiro se abriu e Gregório saiu enrolado em uma toalha.
Talvez por estar sozinho, ele estava com a toalha amarrada frouxamente na cintura, com o cabelo preto meio seco e molhado, caindo desordenadamente sobre a testa.
A formalidade de seu traje habitual deu lugar a um corpo bem definido, com ombros largos e cintura fina, musculoso e esguio, exibindo uma força bem equilibrada.
De repente, eles se olharam, paralisados.
Gregório a encarou, como se um lago estagnado tivesse sido tocado pelo vento, fazendo com que as ondas se espalhassem.
Ele a observava à luz suave do quarto: "Não sabia que você viria a esta hora. O que faço agora? Quer que eu feche os olhos para você desaparecer?"
Ophélia não esperava que ele dissesse algo assim.
Ele realmente se lembrava daquelas palavras dela.
"Vou te esperar lá embaixo."
Ela se virou e saiu do quarto, sentando-se no sofá da sala com uma almofada, esperando por um tempo. Em seguida, passos preguiçosos soaram na escada.
Gregório apareceu usando roupas casuais, com o cabelo ainda úmido, o que lhe deu um ar mais relaxado e reduziu a sensação de distância entre eles.
Ele trouxe dois copos de água, um quente e outro frio.
Colocando o copo quente na frente de Ophélia, ele perguntou cuidadosamente: "Posso ficar na sua frente ou você prefere que eu fique atrás de você?"
Ophélia ficou meio sem graça, pensando na inutilidade da pergunta.
"Há quanto tempo você está morando aqui?"
Gregório deu um gole na água antes de responder: "Quarenta e um dias."
Ele sempre foi preciso em suas rotinas. Ophélia teve que fazer um cálculo rápido para alinhar-se ao seu cronograma.
Isso significava que, desde o dia em que ele foi até ela com os remédios, ele havia voltado para cá.
Ele não queria se soltar.
Inicialmente, seu único desejo era deixar essa casa para ela, porque tudo ali foi feito pensando nela. Não passava pela sua cabeça que ela realmente a venderia.
Ophélia estava inclinada sobre o celular, tocando na tela, quando levantou os olhos ao ouvir as palavras: "Foi você quem fez questão de dar. Se estiver com pena, pode comprar de volta comigo, eu te dou prioridade."
Gregório murmurou baixinho: "Como se eu não tivesse mais nada para fazer, dando um impulso ao já desanimador mercado imobiliário."
Ophélia não disse mais nada e se levantou.
"Você está indo?" - A voz de Gregório carregava uma forte sensação de querer mais.
Fazia muito tempo que eles não se encontravam assim, cara a cara, em um estado sóbrio, e ele queria muito prolongar esse momento.
"Meu carro está aqui." - disse Ophélia.
Gregório colocou o copo de lado, enfiou as mãos nos bolsos da calça e seguiu-a preguiçosamente.
Quando Ophélia estava prestes a descer os degraus da entrada, ouviu-o dizer algo inesperadamente por trás: "Ophélia, está nevando."
Ela se virou, com um olhar que dizia claramente se ele estava louco: "Você encheu a cabeça de água no banho?"
Ela de fato não se lembrava.
A melancolia indescritível que ela sentia era como suco de limão sendo misturado dentro de Gregório; a única vez que ela não era fria com ele era quando estava bêbada, chegando até a pedir um boneco de neve.
Ele sorriu com um ângulo enigmático nos lábios, filosófico ao dizer: "Da próxima vez que você me xingar, tenha mais cuidado. Pode parecer que você está me xingando, mas talvez esteja xingando a si mesma".
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Volta! Volta!!! A Nossa Casa
Legal, eu estava lendo e gostando, mas não tinha condições pra continuar, tomara q seja uma boa leitura por aqui....