Finalmente percebi que, apesar de ter trabalhado na Família Ribas por tantos anos, o que eu podia levar embora não preenchia uma caixa de armazenamento.
Assim como meu casamento com Carlito, três anos de convivência diária e de intimidade. Depois, tudo se resumia a algumas malas, suficientes para nos separarmos definitivamente.
“Rosalina.”
Ao meio-dia, Nadir bateu na porta e entrou, segurando o celular ainda aceso nas mãos. Seu semblante era um misto de emoções, e hesitou antes de falar “Então... você conhece o meu ídolo?”
Eu sabia que ela falava de Everaldo, sorri e disse, “Sim, eu já te contei, não foi? Fomos colegas de universidade.”
“Quando ele voltou?”
“Faz pouco tempo.”
Enquanto arrumava minhas coisas, continuei “Pensei que, depois dessa correria, poderia te apresentar a ele.”
“Vocês... não foram juntos a um show? Por que não me chamaram?”
“Você está enganada.”
Expliquei sem querer, “Naquele dia, levei um bolo e acabei encontrando ele na porta. Então assistimos ao show juntos.”
“Sério...”
Observando sua expressão peculiar, perguntei “Sim, o que foi?”
“Nada, é que vi no fórum, e pensei que vocês eram bem próximos.”
Ela forçou um sorriso e perguntou animada “Então, quando você vai nos apresentar?”
“Daqui a um tempo, ele acabou de começar um novo emprego, e deve estar ocupado.” E eu também estava exausta.
“Entendi.”
Ela respondeu em voz baixa. Notou meus movimentos de arrumação e se surpreendeu, “O que você está fazendo?”
“Vou me demitir.”
Parei que estava fazendo para olhá-la, “Mas, Adelina provavelmente não virá à empresa por um tempo. Se vier, será ao escritório da presidência. Não vão te incomodar,e pode ficar tranquila.”
“Você não vai me levar junto?”
“Preciso descansar um pouco.”
Quando cheguei ao hospital, Osmar e meu primo Erasmo Cardoso estavam lá, e minha tia estava deitada na cama.
Ao me ver, ela se surpreendeu e olhou para Osmar, “Eu não disse para não incomodar a Rosalina? Ela tem a vida dela!”
“Não é bem assim que se diz.”
Osmar sentou-se em sua cadeira e cruzou as pernas:, “Nós cuidamos dela por tantos anos. Agora que você está doente, é natural que ela venha te ver.”
“Ela dormia na varanda que é fria no inverno e quente no verão, não tocava na comida. E você ainda tem coragem de dizer que cuidou dela?”
“Eu não a deixei morrer na rua, e ela deveria ser grata!” Osmar balançou a perna, as chaves do cinto chacoalhando.
Eu apertei os lábios e disse, “Tia, tio está certo. Eu deveria mesmo vir lhe ver.”
“Ele não está certo de nada.”
Minha tia, que já não era diferente de antes, pareceu irritada, “Viver alguns anos na varanda para depois dar um dote de um milhão e enviar dinheiro todo mês. Ele ainda quer mais. Essa varanda era feita de ouro, por acaso?!”
“Janaina Castilho, não seja ingrata. Para quem eu te chamei aqui? Por você, não é? Se ela não viesse, amanhã mesmo o hospital te expulsaria!”
Osmar também ficou agitado. Ele levantou-se e olhou para mim, como se o assunto não lhe dissesse respeito. "Câncer de estômago. O médico disse, trezentos mil ou quinhentos mil reais para o tratamento, deixou-nos escolher."
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Quem posso amar com o coração partido?