Virgínia
Um ânsia de vômito me perseguiu desde o primeiro momento que entrei na sala de cinema e senti o cheiro da pipoca por todo o lugar, mas me contive, não queria estragar o meu programa com a Artemis.
Mas a cada minuto a minha resolução se tornava mais frágil, então quando ainda estava na metade do filme que tínhamos vindo assistir, eu não mais pude me controlar e pedi licença a minha cunhada e saí apressada em direção ao corredor, procurando o banheiro mais próximo.
Depois de colocar tudo o que tinha comido para fora do meu estômago, saí da cabine do banheiro e encontrei a Artemis já à minha espera, em frente a bancada em que estavam instaladas as pias.
Tentei me recompor ao máximo, mas me sentia fraca e tonta, algo que não tinha acontecido mais nos últimos dias, mas que agora voltava com toda a força.
— Sente-se melhor? — a prima do Murilo perguntou, visivelmente preocupada.
— Um pouco — menti, mas logo voltei atrás, ao sentir uma forte tontura —Não… não me sinto nada bem.
— Vou ligar para o Murilo, ele já deve ter saído do jantar de negócios — Artemis sugeriu, em seu rosto uma máscara de angústia — Vamos nos sentar.
Agradeci a sua iniciativa, pois eu não estava em condições nem mesmo de pensar agora e fiquei ainda mais aliviada quando ela disse que o Murilo tinha acabado de chegar ao estacionamento do shopping para nos buscar.
Combinamos que iríamos caminhar até o lugar, para adiantar, mas antes que a gente conseguisse chegar até o local, o Murilo nos encontrou na metade do caminho.
— O que aconteceu? — ele perguntou assim que me viu.
— A Virgínia não está nada bem, Murilo — Artemis conta, apressada.
— É melhor ir até o hospital!
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele já está me colocando em seus braços e caminhando comigo pelos corredores do shopping.
Eu não gostei do fato de estar sendo carregada daquela maneira, mas me sentia fraca demais para protestar, então apenas encostei a cabeça no ombro do meu namorado e segui em silêncio até que chegamos ao seu carro.
— Eu não quero ir ao hospital — ainda consegui recusar, mas a voz foi apenas um sussurro tímido e vacilante.
Murilo tinha me colocado de maneira bastante cuidadosa no banco de trás do carro, e a Artemis sentou ao meu lado, seus olhos apavorados me divertiam um pouco, mas eu não estava conseguindo nem mesmo emitir um pequeno sorriso que fosse, tão mal eu estava.
— Não podemos ir para casa com você desse jeito, Virgínia — Murilo protesta de maneira horrorizada — Jamais poderia ficar tranquilo, além de ser extremamente perigoso, quando não sabemos o motivo desse seu mal estar repentino.
— É apenas um mal estar normal, de uma mulher grávida, meu amor — tentei acalmá-lo.
Ele me encarou com repreensão, mas nada disse, agora que o carro já estava a caminho do nosso destino.
— Só podemos afirmar que é apenas um mal estar comum, depois que o médico te examinar, Virgínia — Artemis diz, pois o Murilo está totalmente concentrado em dirigir agora.
O percurso até o hospital foi consideravelmente curto e fomos rapidamente atendidos, pois o Murilo fez o maior estardalhaço sobre o meu estado de saúde para a equipe de atendimento.
Mas como eu mesma havia garantido para ele, foi apenas uma queda de pressão, e depois de fazer alguns exames, tomar um soro hidratante e receber mais algumas recomendações do médico, eu fui liberada para ir embora.
— Foi realmente um acidente, gente — Mariana diz, mas sua voz é fraca e indecisa, provando que ela não estava nada bem.
— Não tenha medo de falar a verdade, Mariana — Murilo insiste, encarando o Ethan com olhar assassino — Ele não pode mais te atingir, pois todos vamos te proteger agora.
Naquele momento, o homem que os acompanhava toma a frente da situação, se colocando à frente da Mariana e do Ethan.
— Pessoal, não sei o que está acontecendo aqui, mas o Ethan está falando a verdade — ele diz de maneira tranquila, parecendo bastante sincero — Aconteceu realmente um acidente de carro, onde a moça se feriu e agora precisa de atendimento o mais rápido possível. Sei que estão cheios de boas intenções, mas estão retardando o processo.
Apesar de suas palavras serem uma repreensão, ele as disse de maneira bastante educada, mostrando ser também um homem muito gentil e amistoso, e todos nós acabamos nos sentindo culpado, pois aquilo estava nítido nos rostos de todos, até mesmo do Constantino.
— Vamos, Mariana — Ethan tomou a frente, segurando no braço da minha amiga e chamando alguém para atendê-la — Não podemos perder mais tempo.
Depois que eles entraram para a enfermaria, o homem permaneceu ao nosso lado, e todos ficamos nos olhando, acredito que sem saber como agir a partir de agora.
— Quem é você? — Murilo acaba tomando a iniciativa.
— Desculpe não ter me apresentado antes — o homem diz, e parece realmente envergonhado ao estender a mão para cumprimentar Murilo — Sou Joshua Günther.
— Günther? — Murilo repete, e parece intrigado com o nome — Você… era parente da Beatriz?
— Ela era minha irmã — ele confirma a suspeita do Murilo com um tom genuíno de pesar — Você a conhecia?
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