NARRADORA
Lyra franziu a testa ao ver o que o lobo cinza havia carregado até a tribo com muito esforço.
—Ajudem ele! —rugiu o Alfa, todo empolgado.
Primeiro, porque ia se livrar daquela mulher irritante obcecada pelo filho, e segundo, por aquela caça tão maravilhosa!
Se soubesse que a competição pelas fêmeas faria os machos caçarem como loucos suicidas, teria feito isso antes!
Ran voltou à forma humana, todo cheio de si com os olhares e elogios—já o viam como o vencedor.
—Ran, como você conseguiu caçar esse gigante?!
—Ran, você não quer ser meu macho?!
—Sim, Ran, olha só! Não tenho nada que invejar aquela fêmea estrangeira!
O guerreiro olhou com desprezo pras mulheres que se jogavam em cima dele.
Antes até ficaria lisonjeado, mas quem disse que com aquelas manchas escuras, dentes amarelados e cabelo oleoso e embaraçado podiam se comparar à beleza de Lyra?
Mesmo assim, enquanto andava em direção à mulher que já achava sua, lembrou da proposta de Verak.
Mas Ran estava nas nuvens e não queria descer.
A bruxa tinha lhe dado uma poção escura que lhe deu uma energia poderosa; se achava invencível, mesmo com o aviso de que não duraria pra sempre.
Teve sorte de cruzar o caminho com um Brontocérax ferido de alguma batalha.
O bicho fugia quase morrendo, e ele deu o golpe final.
Ninguém precisava saber disso e, ao olhar nos olhos prateados de Lyra, decidiu que se a bruxa lhe deu uma chance, ele não entregaria ela pra Verak.
—Lyra, eu… o que você acha de mim? —Mostrou tudo sem pudor, pra que a fêmea visse bem a “mercadoria” que estava levando.
—Tenho uma cabana, pode se mudar quando quiser…
—Deixa de ser cara de pau e veste alguma coisa —o rosnado da fêmea cortou toda a sedução.
Seu “irmãozinho” encolheu ao ver as presas afiadas da mulher, com medo de ser arrancado numa mordida.
—Você não pode quebrar sua palavra! Cacei o maior animal! Você tem que obedecer às leis da…!
—Pelo amor dos céus, aquele… aquele é o Drakkar…
—O que ele tá segurando na mão?
Ao ouvir os murmúrios, Lyra empurrou aquele lobo exibido e avançou, olhando em direção à entrada da matilha.
Vindo contra a luz do sol, o guerreiro valente caminhava, ainda com sangue escorrendo pelo rosto duro. Parecia mais uma besta que um homem.
Arrastava na mão a pata enorme da presa.
Na outra, o escudo do Brontocérax, rachado em vários lados, mostrando o quão feroz foi a batalha.
Era óbvio quem tinha vencido—e não foi Ran.
—SÓ PODE SER UMA FARSA! É IMPOSSÍVEL QUE O DRAKKAR TENHA CAÇADO UM DRACOTÉLION! CADÊ O RESTO DO CORPO?!
Verak não conseguia acreditar no que via.
A matilha inteira ficou em silêncio, observando aquele drama sem fim.
—Drakkar! —Lyra não se importava com mais nada além dos ferimentos do seu companheiro.
“Ai, olha só como deixaram ele!” Aztoria gritou dramaticamente.
—Eu cacei —ele estufou o peito, encarando o Alfa—. Não consegui trazer o corpo inteiro, mas se correrem pro vale sul, ainda vão encontrá-lo lá.
Quando o Alfa ia abrir a boca pra xingar pela mentira, um uivo interrompeu tudo.
—É VERDADE! —Três guerreiros chegaram correndo atrás de Drakkar.
Dois, transformados em lobos, traziam um Brontocérax e o outro, um pedaço da fêmea predadora.
De novo, a matilha explodiu de emoção.
—Drakkar fez tudo sozinho!
—Matou uma dezena de Brontocérax e vimos com nossos próprios olhos ele matar a Dracotélion!
—Foi brutal!
O olhavam como um deus na terra, com aquelas cenas gravadas na mente e na alma, que com o tempo seriam ainda mais exageradas em cada história contada.
—Eu cacei a criatura mais temida, por isso reivindico o direito de me unir a essa fêmea! —no meio dos murmúrios estupefatos, Drakkar fez sua declaração possessiva.
Seus olhos negros, como a noite, encaravam os prateados de Lyra: intensos, profundos, cheios de medo, mas decididos.
Ele havia feito uma promessa e, mesmo que não pudesse ficar perto como sua alma queria, iria protegê-la e levá-la em segurança pra casa.
O coração da filha de Silas batia acelerado, cheio de amor pelo seu companheiro selvagem. Ele tinha arriscado a vida por ela!
“Pai, cê não tá pensando nisso de verdade, né?” Verak via tudo vermelho.
“Por que não? Drakkar é um grande guerreiro e eu subestimei ele!”
Antes que o Alfa declarasse o vencedor…
—A mão da fêmea Lyra será entregue ao guerreiro Drakkar! —a Curandeira deu um passo à frente, encerrando o assunto.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Rei Lycan e sua Tentação Sombria
Comprei o capítulo e não consigo ler porquê?...
Eu queria continuar lendo...