Me envergonha te contar isso, porque sempre procurei te criar com princípios e retidão. Mas essa é a minha história. E, filha, eu me arrependi. Mudei de vida.
Peguei todo o dinheiro que vinha guardando para a velhice, pedi afastamento do hospital e fugi com você para o sul dos Estados Unidos. Ficamos um tempo na Carolina do Sul, até termos todos os documentos prontos. Gregory conseguiu tudo, ganhei uma nova identidade.
Alguns meses depois, deixei o país. Fui para o Brasil. Era longe o suficiente para ninguém nos encontrar.
E, filha… foi a coisa mais assustadora que já fiz na vida.
Chegar em um país estranho, sem ninguém, sem família, com uma bebê no colo e um passado que eu precisava esconder... foi aterrorizante.
Por mais que eu falasse português, por causa de gostar de aprender outros idiomas, meu sotaque me denunciava. Era impossível disfarçar. Bastava eu abrir a boca e todos sabiam que eu não era brasileira. O medo era constante. O medo de ser descoberta. De te perder. De que tudo fosse desfeito. Mas mesmo com o coração apertado e a alma tremendo, eu segui. Por você.
Fui para o Rio de Janeiro. Aluguei uma casinha simples em Santa Teresa. E foi lá que conheci o seu pai, Carlos Bernardes.
Ele era gentil, calado, sempre pronto a ajudar. Um homem simples, mas com um coração imenso. Começou consertando uma janela quebrada… e acabou consertando o meu coração. Ele te amou desde o primeiro instante. Aos poucos, se tornou minha base. Casamos. E foi ele quem conseguiu, com a ajuda de um amigo, as certidões brasileiras falsas. Aos olhos do mundo, você e eu sempre fomos brasileiras. Mãe e filha legítimas.
Depois mudamos para São Paulo, para recomeçar com mais segurança.
Essa foi a maior mentira da minha vida… e também o maior ato de amor que pude cometer.
Eu nunca quis ser mãe. Nunca sonhei com casamento. Mas o destino me deu você… e com isso, me deu tudo. Eu vivi por você. E morreria por você, se fosse preciso. Seus olhos me encantaram e ao seu pai também.
Me emociono ao lembrar de você ganhando seus primeiros dentinhos, começando a engatinhar, dando os primeiros passinhos…
Sua primeira palavra: “papai”. Como seu pai ficou feliz… como ele te amava, minha querida.
A festinha de um ano com o tema borboleta, seu primeiro dia de aula, seus quinze anos, sua primeira menstruação… Ah, minha filha… como eu sonhei em te ver casar. Como eu queria segurar seu filho no colo um dia.
Só de imaginar que você vai ficar sozinha nesse mundo, meu coração de mãe sangra.
Me perdoa, minha menina, por nunca ter te contado a verdade. Eu simplesmente… não consegui. Seu pai sempre me dizia que devíamos contar. Mas o medo de te perder, de você me rejeitar… foi maior do que tudo.
Talvez, um dia, você sinta vontade de procurar suas origens. E tudo bem. Essa escolha é sua. Você tem esse direito. Eu… só peço que, se esse dia chegar, vá com o coração aberto. Eu não sei se sua mãe biológica ainda está viva. Mas se estiver… eu espero que você consiga perdoá-la. Ela te amou, Celina. Te amou de um jeito que só uma mãe desesperada ama. Preferiu sofrer calada a te ver crescendo em necessidade. Entregou você porque acreditou que era o melhor. Porque te queria segura, cuidada, amada. Não foi abandono. Foi renúncia. Um ato de amor, mesmo que tenha deixado marcas.
Minha doce filha… essa história agora é sua. Só sua. Você pode escolher enterrá-la, guardá-la no silêncio do peito e nunca mais olhar para trás. E se fizer isso, eu entenderei. Porque ninguém tem o direito de exigir que você mexa em feridas que não escolheu carregar.
Mas se um dia sentir que precisa de respostas… vá atrás. Não por mim. Não por ela. Mas por você. Porque às vezes, entender o passado é a única forma de continuar escrevendo o futuro com verdade, mesmo que doa. Mesmo que desestabilize.
E por favor… não me odeie. Nem a ela. Não julgue com os olhos de hoje, escolhas que foram feitas entre lágrimas e desespero, como se a vida fosse feita de caminhos fáceis. Eu também errei, filha. Errei tentando te proteger. Escondi a verdade, não por covardia, mas por medo de te perder. Tudo o que fiz, foi por amor. Um amor real, intenso, cheio de falhas, mas inteiro.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...