O carro avançava pela avenida molhada. Os pneus cortavam a poça d’água com violência. O peito de Arthur parecia prestes a explodir. As luzes dos postes refletiam borradas no para-brisa como fantasmas em fuga. O mundo ao redor dele já não era real. Era barulho, velocidade e culpa.
No cruzamento à frente, o sinal mudava de verde para amarelo. Mas Arthur não freou.
Nem hesitou.
Nem viu.
Tudo era um borrão. Zoe gritando. Aquela frase que ele jamais imaginou que ela descobriria.
— EU VI, ARTHUR! EU VI!
O grito de Zoe ecoou dentro da mente dele como um trovão rasgando o céu. Foi a última coisa que ouviu antes de a luz vermelha explodir à frente. Um clarão. Um buzinaço estridente vindo da esquerda. E então, o impacto.
Um caminhão atingiu o carro com toda a força, bem na lateral do motorista. O som foi seco, brutal. Metal contra metal, vidro estilhaçando, o corpo de Arthur sendo lançado contra o cinto. O carro girou duas vezes no ar e só parou ao bater com a traseira em um poste.
O mundo emudeceu.
Silêncio.
Depois, o cheiro de gasolina. Um filete de sangue escorria da cabeça de Arthur até o queixo. Ele ainda respirava, mas os olhos estavam semicerrados, inertes, como se procurassem Zoe em algum canto daquele caos.
Ele estava vivo, mas algo dentro dele já não estava mais inteiro.
O relógio marcava 23h14 quando a viatura de resgate chegou. As luzes vermelhas e azuis cortavam a escuridão da rua com urgência. Os bombeiros correram até o carro, que estava parcialmente esmagado, o capô fumegando.
— Temos uma vítima presa! — gritou um dos socorristas ao se aproximar.
As ferragens estavam fundidas. O lado do motorista era um pesadelo de aço retorcido. O ar estava carregado com o cheiro de óleo, sangue e destruição.
— Está consciente! Pisca pra mim, amigo. Isso... pisca de novo. Vamos tirar você daqui.
Arthur piscou devagar, as pálpebras pesadas. Queria falar, mas nenhum som saía. Queria se mexer, mas seu corpo não respondia. Tentou mover as pernas. Nada.
— Eu... eu não sinto... — murmurou ele, quase sem voz.
— Fica calmo. Você está em choque. Vamos te tirar daqui. Confia na gente.
Com o equipamento hidráulico, cortaram as portas, removeram o teto. Quarenta minutos depois, Arthur foi retirado e colocado na maca, colar cervical no pescoço, cabeça estabilizada.
Enquanto era colocado na ambulância, uma lágrima escorreu dos olhos semiabertos. Não era pela dor. Era pelo que Zoe viu. E por não saber se ela estaria do outro lado esperando por ele.
A maca entrou pelas portas do pronto-socorro. Médicos e enfermeiros se aproximaram.
— Homem, 35 anos, vítima de colisão lateral com caminhão. Pressão 10 por 6, pupilas reagindo, mas sem sensibilidade nas pernas. Provável trauma medular.
Foi levado direto à cirurgia.
A sala era fria, cheia de luzes cortantes. Arthur foi sedado. O monitor cardíaco emitia bipes ritmados, como se contasse os segundos entre o passado e um futuro incerto.
— Iniciando incisão torácica. Vamos liberar o canal medular.
A tomografia havia mostrado uma compressão severa na vértebra L1. A medula não havia sido seccionada, mas estava gravemente pressionada.
— Precisamos operar imediatamente — disse o médico para a equipe. — Se a compressão continuar, as chances de mobilidade futura caem drasticamente.
— Se conseguirmos descomprimir a tempo, ele pode recuperar os movimentos — disse o cirurgião.
A equipe cirúrgica agia com precisão brutal. O sangue era drenado, as vértebras expostas. O médico respirava fundo, as mãos firmes. Era uma corrida contra o tempo. Eles removeram fragmentos ósseos pressionando a medula, fixaram hastes, alinharam a coluna com parafusos. A lesão não havia seccionado completamente a medula — uma esperança.
Enquanto isso, a notícia corria rápido. Assim que os dados de Arthur foram confirmados, a central médica notificou os contatos de emergência. O primeiro número atendido foi o do pai, Dr. Otto Ferraz, médico renomado, dono da rede de hospitais.
— Aqui é da central do Hospital São Rafael. Seu filho, Arthur Ferraz, deu entrada agora há pouco em estado grave. Acidente de trânsito. Já está em cirurgia.
Otto congelou. O coração disparou. Mas a mente treinada em anos de medicina o fez agir.
— Qual sala?
— Cirurgia 3. Ala de traumas.
Otto saiu de casa às pressas, mas antes de entrar no carro, hesitou. Zoe. Precisava avisá-la. Mas não teve coragem. Foi Eloisa, sua esposa, quem assumiu isso.
Eram 00h42 quando Eloisa chegou na mansão de Arthur. Subiu as escadas com o coração disparado.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
depois que começou a cobrar ficou ruim seguir com a leitura...
Desde quando esse site cobra? Já li inúmeros livros e é a primeira vez que vejo cobrar....
Pq não abre os capítulos? Mesmo pagando?...
Eu comprei os capítulos, mas eles não abrem. Continuam bloqueados, mesmo depois de pago...
Comprei os capítulos, mas não consigo ler. Só abrem depois de 23:00 horas. Não entendi...