Parte 3...
Bianca desceu da cama em um pulo e foi até Ludimila.
— Você parece comigo - Alan comentou.
Mathias sorriu reconfortado por essa constatação.
— Agora não - ele apontou a cabeça raspada de lado e Alan riu — Sabe, eu tenho uma coleção de soldadinhos de chumbo.
— Que legal. Você me mostra depois?
— Eles estão no meu escritório. Pode ir pegá-los, se quiser.
— Posso brincar com eles? - se animou.
— Claro. Pode ficar com eles também se quiser.
— Oba!
A conversa com o pequeno o animou um pouco mais. Seu filho parecia gostar de ficar ao seu lado. Seu coração se apertou. Só faltava a mãe dele também gostar.
O enfermeiro entrou no quarto e falou com eles. Avisou que o fisioterapeuta estava chegando. Mathias teria algumas sessões em casa e outras no hospital. Ele ficou sério.
— Você não quer fazer o exercício? - Alan perguntou.
— Não - ele resmungou — Mas eu preciso.
— Minha mãe ficou preocupada com você - sentou mais perto na cama — Ela até chorou quando soube que você estava doente.
— Foi mesmo? - fez uma cara mais leve.
— Foi sim - Bianco voltou para o lado dele se apoiando no colchão — Se você fizer o que o moço mandar, vai ficar bom.
Ludimila ouvia tudo e sorria com os dois.
— Ah, então eu vou fazer - ele sorriu de canto.
— Se você fizer, minha mãe vai gostar mais de você - ela disse inocente — Quando meu papai ficou doente, ela cuidou dele.
Ele se recostou nos travesseiros. Imaginar que ela estivesse com outro sempre foi ruim. Mesmo agora que entendia muitas coisas, isso ainda o magoava.
Seu coração se apertou com a ideia, mas ela estava com ele ali agora e só tinha que fazer com que nunca fosse embora.
Pouco depois Anelise entrou acompanhada do fisioterapeuta. As crianças foram até ela e a abraçaram. A intimidade, o carinho e o amor era presente entre eles.
Apesar disso ser bom, pois ela conseguiu o que queria, para ele foi triste. Ele nunca se sentiu ligado assim à própria família. Mesmo pequeno ele percebia problemas que nem sabia o que eram.
O rapaz se apresentou e conversou com ele, explicando como fariam os exercícios em casa.
— Eu não quero fazer terapia nenhuma - ele reclamou.
— Mas vai fazer sim - Anelise disse — É necessário.
— Eu fico com você - Alan falou logo — Posso mãe? - ergueu o rosto.
— Ele pode? - questionou ao fisioterapeuta.
— Pode sim. Pode me ajudar a animar... - ficou sem saber o que dizer.
— Ao pai dele - Anelise completou — Mathias é o pai dele - ela sorriu mexendo no cabelo do filho — E ele vai ajudar sim, com certeza.
— Eu também quero - Bianca pediu.
— Você não, meu amor. Vai me ajudar com outras coisas.
— Sendo assim eu farei - Mathias falou — E vou levantar dessa cama - disse olhando para ela.
— Eu acho ótimo. Ludimila, pode levá-los? Eu quero falar com Mathias.
— Eu vou mostrar onde Felipe instalou o material de fisioterapia - sorriu — Vamos gente?
Passava horas com o filho e sua irmã. Os dois eram muito unidos e era bonito de ver. Ele não era assim com Márcia, infelizmente.
Tinha que suportar a presença de Felipe ou Ludimila. Achava um absurdo, mas entendia o que Anelise pensava. Com toda certeza ela não confiava nele.
Durante as sessões de fisioterapia, Felipe ajudava o médico com os exercícios, ainda que ele não quisesse no começo. Não gostava de depender da ajuda dele, mas aprendeu a aceitar.
Já Anelise era outra coisa. Ela não parava de trabalhar, mesmo estando em sua casa. Estava sempre com o celular por perto e recebia muitas chamadas. Sabia como era isso.
Ele aproveitava cada momento à sós com ela para tentar mostrar que realmente a amava e que tinha mudado, ainda que não de todo, mas em certos pontos sim. Foi preciso sofrer depois que ela foi embora, para entender que a loucura que sentia, na verdade era amor. Assumiu para ele mesmo e queria que ela o entendesse.
O amor pelo filho foi imediato. Logo depois de compreender que Alan era seu filho, algo mudou dentro dele. Só não sabia se podia competir com a imagem do pai que ele conhecia, Haroldo, que o menino falava de modo tão natural, mas que no fundo o magoava.
Ele chegou a comentar sobre isso de um modo até calmo, mas Anelise o cortou.
— Não tente invadir a memória do meu filho sobre Haroldo - ela disse firme — Você não tem esse direito.
— Alan é meu filho - ele rebateu.
— Biológico apenas - ela foi fria — O pai que o amou, cuidou e educou, foi o meu marido - ela andou pelo quarto — Eu não vou admitir que tente mudar isso - parou na frente da cama — Crie seu espaço na vida e no coração de seu filho. Não queira que ele escolha. Eu não vou deixar.
— O que quer dizer? - ele engoliu em seco.
— Se você não respeitar a memória de Haroldo... O pai do Alan... Eu vou afastá-lo de você - completou.
— Sério que... Você está me ameaçando? - ficou abismado.
— Não - o mirou de modo gélido — Estou lhe avisando que nunca mais verá o Alan novamente.
— Não pode fazer isso - sentiu a cabeça doer.
— Não? - ela ergueu uma sobrancelha em desafio, com um sorriso cruel — Experimente querer apagar Haroldo da vida de meu filho e vai ver do que sou capaz.
Ela disse isso e se virou, saindo do quarto sem olhar para trás, deixando-o com a sensação de fraqueza e impotência diante da nova realidade.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Nosso Passado
O poder do perdão é algo muito poderoso é realmente libertador......
Essa coisa de que ela tem q ficar persuadido ele como se ela fosse mãe e ele filho, tá um porre. Homem pode ser machista, liberal, idiota ou o q quiser, mas infantil e inconsequente não dá, pq o azar é dele, mulher não tem q ficar adulando infantilidade....