Paloma suspirou.
Era assim seu casamento; seu marido, num impulso, decidira segurar essa areia com as próprias mãos, apenas para descobrir que ela já havia escorregado por entre os dedos.
O telefone já havia sido desligado, e Fausto saíra do quarto sem dizer uma palavra.
Com um sorriso resignado, Paloma rapidamente afastou seus pensamentos daquela situação desagradável.
Por três anos, ela sustentara a casa com o próprio trabalho, vivendo a vida mais modesta entre as damas da alta sociedade da Capital, mas então, um dia, seu marido a acusou de gastar sem pensar e negligenciar os assuntos domésticos.
Não importava.
Ela estava prestes a se deitar novamente quando a porta se abriu abruptamente, e Fausto entrou com suas longas pernas.
Ele segurava uma carteira e dela retirou um cartão.
"Este é meu cartão adicional, para você."
Paloma olhou para o fino pedaço de plástico, sentindo-o como um tapa em seu rosto.
Antes, ao assistir novelas na televisão, achava incrivelmente charmoso quando o protagonista masculino entregava um cartão adicional à protagonista feminina, dizendo-lhe para gastar à vontade. Ela havia ansiado por isso após o casamento.
Não era uma questão de gastar seu dinheiro, mas ela acreditava que um homem que se dispusesse a gastar com uma mulher era um homem que verdadeiramente a amava.
Esse dia finalmente chegara, mas somente depois dela pedir o divórcio.
Paloma aceitou o cartão.
"Obrigada."
As veias da mão de Fausto pulsaram, uma mistura de frustração e algo inexprimível em seu coração.
Ele disse, de maneira rígida: "Se precisar de algo, fale comigo."
Paloma nem levantou os olhos. "Ah."
"Ah? Paloma, seja séria, olhe para mim."
Com uma sensação de resignação, ela finalmente o encarou. "Posso falar sobre qualquer coisa?"
"Claro."
"Então, sobre o que aconteceu hoje, como o Sr. Coelho pretende lidar com isso?"
Fausto, com o rosto cerrado, disse: "Não precisa, da próxima vez, tente não o provocar, senão nem eu posso protegê-la."
Dito isso, ele partiu, deixando um frio no ar.
...
À noite, Pedro fez questão de levar o Velho Senhor até Baía das Esmeraldas.
O Velho Senhor, vestido em um terno cinza estilo republicano, com cabelos brancos e postura ereta, fez Pedro brincar: "Seu avô vem à sua casa com mais formalidade do que se estivesse indo ao Palácio Antigo para uma reunião."
Desde o incidente anterior, Paloma não via mais o Velho Senhor apenas com carinho, mas com uma mistura de respeito e temor, o tipo reservado para aqueles em posições de autoridade.
O Velho Senhor percebeu a mudança, mas optou por não comentar, mantendo-se amável como sempre e elogiando o bom gosto de Paloma na decoração do quarto.
Fausto, num raro momento de brincadeira, disse: "Quem disse que não fui eu quem decorou?"
O Velho Senhor resmungou: "Você nunca teve esse bom gosto. Desde pequeno, seu senso de estética era questionável. Se te pedissem para desenhar um gato, você desenhava um cachorro. Gostava de roupas coloridas e só na idade adulta percebeu que eram de mau gosto, passando a usar apenas camisas brancas."
Com um tom de brincadeira, Fausto retrucou: "Meu senso estético está todo investido na Paloma."
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Não Culpe Minha Partida, Sem Sentir Seu Amor
Nossa que chato, pq não excluem esse sem final!!...
Não terá mais atualização??...