Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 160

Gabriel rangia os dentes. Os punhos estavam cerrados com tanta força que os tendões saltavam sob a pele. O peito ardia, uma mistura de raiva e dor amarga, que parecia prestes a explodir.

Do outro lado da mesa, Rafael já não sabia o que dizer. Diante daquela cena, só conseguia pensar:

“O mundo dá voltas. E às vezes, elas são bem cruéis.”

Afinal... Quem nunca quis assumir a Sra. Beatriz foi o próprio Sr. Gabriel. Ninguém sabia que os dois eram casados. Nem mesmo o estado civil ele mencionava.

E agora... Ele queria que o mundo inteiro soubesse. Ficou furioso porque ela cobriu o nome dele no documento. Morria de ciúmes do Sr. Daniel.

Silenciosamente, Rafael saiu da sala para lhe dar privacidade. Fechou a porta com cuidado e soltou um suspiro pesado, balançando a cabeça.

Dentro do escritório, o silêncio era sufocante. Gabriel continuava sozinho, mergulhado em sentimentos que o corroíam. O peito comprimido, as mãos inquietas. Quase queria sair correndo até a Aurora atrás de Beatriz.

“Quanto mais ela tenta se afastar de mim, mais eu quero que ela olhe pra mim.”

Quase sem pensar, abriu a gaveta. Procurava o documento, a certidão de casamento. Mas ali só havia papéis comuns. Lembrou: estava em casa. Teria que esperar até a noite.

Tomado pela raiva, pegou o telefone e ligou diretamente para o gerente do departamento. A voz saiu fria como gelo:

— Não basta mais interceptar os parceiros da Aurora. Quero aquela empresa inteira como subsidiária do Grupo Pereira. É pra ser nossa.

Desligou logo em seguida.

Na tela do computador, a própria imagem refletida parecia a de um estranho. Olhos escurecidos, rosto tenso, expressão carregada de inveja, frustração... E uma determinação quase doentia.

Tentou se concentrar nos documentos à frente. Forçou-se a continuar o trabalho. Mas sua mente continuava presa na diferença brutal entre como Beatriz o tratava... E como tratava Daniel.

Aos poucos, a raiva foi cedendo lugar a algo mais profundo. Um incômodo no peito. Uma lembrança.

“Tudo o que eu estou sentindo agora... Não é exatamente o que ela sentiu naquela época?”

Ele nunca assumiu Beatriz em público. Viveram um casamento escondido. Enquanto isso, seu nome aparecia nos sites de fofoca, envolvido com escândalos ao lado de Vitória. A esposa legítima nem sequer tinha os direitos de uma amante.

Gabriel cerrou os punhos com força. O que estava sentindo agora, toda essa dor, frustração, angústia, Beatriz com certeza sentira mil vezes mais.

Ela o esbofeteou por causa de Daniel. E ele? Por causa de Vitória, a machucou de verdade. Causou uma fratura, a deixou sozinha com queimaduras, e até durante um vazamento de gás... Simplesmente não a tirou de casa.

Ele não conseguia continuar essa comparação. O coração apertava, a mente fugia. Sentia-se envergonhado. Arrependido.

Mesmo que não fosse por vingança, mesmo que Beatriz não quisesse reconhecê-lo... ele ainda era seu marido. E, como tal, sentia que tinha o direito, ou talvez o dever, de dar a ela o reconhecimento público que nunca teve.

Pena que esse reconhecimento só viesse agora, dois anos atrasado. Não como celebração, mas como um último gesto... E às vésperas de um divórcio.

Quanta ironia amarga.

Ele postou a imagem nos stories. Ficou alguns segundos olhando para a tela, absorto. Então fixou a publicação no topo do perfil, para que ninguém deixasse de ver.

Depois disso, jogou-se no sofá, de costas. Fechou os olhos. A casa estava silenciosa, fria, como se refletisse o vazio que agora preenchia seu peito.

Enquanto isso, do outro lado da cidade...

Beatriz, que originalmente planejava ficar até tarde no escritório, acabou sendo chamada pelos colegas para um jantar de confraternização.

Desde a reunião, depois de ter se posicionado com firmeza, era visível como o clima ao redor dela havia mudado. Os olhares, antes carregados de julgamento ou desconfiança, agora eram mais respeitosos. Até simpáticos.

A atmosfera estava mais leve. As conversas fluíam com naturalidade.

Ela nunca foi fã de ambientes muito barulhentos, tampouco de confraternizações... Mas foi. Porque sabia que precisava se integrar, ao grupo, à rotina, à vida profissional de verdade.