Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 157

[Não. Eu ocultei o nome dele. Só vou dizer que estou divorciada, e pronto.]

Daniel olhou para o celular e, sem perceber, deixou escapar um leve sorriso no canto da boca.

“Pelo visto, Beatriz realmente não sentia mais nada por Gabriel. Nem sequer cogitava mencioná-lo em público.”

Mas, logo em seguida, sua expressão se fechou.

Pensando bem, durante aqueles dois anos de casamento, Beatriz e Gabriel nunca pareceram oficialmente casados. Mesmo que ele, Daniel, não tivesse autoridade para ser convidado para um casamento do Grupo Pereira, alguém como Gabriel, herdeiro direto, certamente teria feito algo público. Um anúncio formal, uma nota em jornal, qualquer registro. Mas não. Nada.

Abriu o navegador, buscou o nome de Gabriel nas redes e portais... E confirmou: não era que ele tivesse perdido alguma notícia. Simplesmente, ela nunca existiu.

Sentiu o peito apertado. Escreveu algo no celular, mas apagou antes de enviar.

Beatriz havia amado Gabriel tanto... E mesmo assim, viveu dois anos sem reconhecimento, aceitou o silêncio, suportou a indiferença. Até mesmo a violência. Era quase impossível imaginar como ela sobreviveu a mais de seiscentas noites assim.

Só de pensar, Daniel sentia por ela uma tristeza funda e um nó de revolta.

À tarde, durante a reunião geral do departamento de design.

O diretor Murilo conduziu os primeiros tópicos do encontro. Ao final, deu espaço para Beatriz. Ela se levantou, caminhou até a frente da sala e conectou seu notebook ao projetor.

Assim que os slides começaram a passar, os colegas olharam para a tela, confusos. Aparecia ali o currículo dela.

— Como sou nova na empresa, ainda não tive a oportunidade de me apresentar formalmente. Aproveito essa reunião para fazer uma breve introdução. — Disse Beatriz, com voz firme e pausada.

Todos se viraram para encará-la, atentos.

— Me formei em Mídias Digitais pela Universidade A, na área diretamente ligada ao nosso setor. Durante a graduação, mantive um desempenho acadêmico quase perfeito, conquistando bolsa de excelência todos os anos. A partir do primeiro ano, participei de competições de design em animação como integrante. No segundo, comecei a liderar equipes. No terceiro ano, já conseguia conduzir projetos que conquistaram prêmios nacionais de ouro.

À medida que Beatriz falava, os slides iam avançando. Mostravam imagens de projetos, prêmios, certificados.

Aos poucos, os olhares na sala mudaram. O que antes era dúvida, passou a ser surpresa... E, logo em seguida, respeito.

Surgiram até murmúrios: será que esse Q.I., o famoso quem indica era, na verdade, um boicote? Será que Daniel a trouxera só para escondê-la, para impedi-la de brilhar?

A partir dali, a imagem de Beatriz mudou por completo. De protegida, virou fera silenciosa.

A maioria dos funcionários se calou, pensativa.

Já se dizia pelos corredores que Beatriz seria efetivada como líder do Grupo 3. Agora, todos achavam justo. Com um currículo daqueles, alguém como ela merecia muito mais do que um cargo qualquer.

Seria o mesmo que contratar um ex-executivo de Wall Street para varrer rua.

— Esses são os principais pontos sobre mim. Peço desculpas por ocupar o tempo da reunião com isso. Mas achei necessário, já que, para alguém novo na equipe assumir como líder interina, é natural haver dúvidas. E sou muito grata ao diretor por ter confiado em mim. — Finalizou Beatriz.

O que veio depois foi um aplauso espontâneo. Firme. Prolongado.

Até mesmo quem havia feito a denúncia, e os poucos que ainda torciam o nariz para ela, bateram palmas. Ainda que de forma hesitante, constrangida, não conseguiram se esconder. O olhar deles dizia tudo: foram pegos no pulo.