Melinda de Sá
Explicar toda a situação de uma forma que
Murilo entendesse era um problema. Passei o caminho da casa dele dizendo que aquela não era a letra do Vicenzo e sim da namorada dele e tudo mais.
Ele estava nervoso ainda, porque, aliás, eu
continuava grávida. Quando eu contei para
ele na noite passada, ele começou a quebrar sua coleção de carrinhos. Ele sempre foi muito protetor. A frase que mais ouvi na minha adolescência dele foi "quando ele quebrar seu coração, não venha chorar pra mim." e eu sempre ia e o Murilo nunca me negou atenção.
- Peça desculpas para o Vicenzo, sabe como é né, fiquei um pouco nervoso. - disse coçando a cabeça quando parei em frente à sua casa.
Apertei os olhos e dei um beijo na sua bochecha.
- Obrigada por cuidar de mim na noite
passada, apesar dessa sua violência! - revirei os olhos.
- Me liga assim que for no médico, ou melhor, quando for ao médico eu quero ir junto, se cuida viu e cuida do meu sobrinho e qualquer coisa que o Vicenzo apronta você me avisa - disse descendo do meu gol.
- Vou pensar! E não se preocupe com a gente, e o Vini não é nem doido de fazer algum mal a mim e ao bebê...
- O Vicenzo não, mas a namorada, toma cuidado viu maninha e qualquer coisa mesmo me liga - ele falou preocupado, meu irmão acredita que ela fez tudo de caso pensado, e não duvido.
- Não se preocupe que eu ligo. Manda um beijo para a Joana e para os meu sobrinhos lindos.
Acenei e dei partida. Liguei o rádio do meu
carro e fui arriscando um inglês falho durante o caminho. Quando entrei no meu apartamento notei o celular do Vicenzo quebrado no chão perto da parede.
Fui até a cozinha para tomar um copo de
água e depois fui tomar um banho. Estava
muito cansada, meu corpo pedia uma folga,
sorte que amanhã era sábado.
A água quente era um alívio para meus pés
inchados, mas deixava minha pele vermelha por conta da temperatura. Apoiei as mãos na parede e deixei a água cair nas minhas costas.
- Mel? - ouvi o Vicenzo me chamando.
- Tomando banho.
Terminei meu banho rápido e me envolvi em uma toalha, joguei meu cabelo para frente e o enrolei em uma toalha também.
Vesti um pijama do Batman e fui para a sala onde o Vicenzo segurava uma caixa de bombons trufados, meus olhos brilharam e minha boca salivou.
Olhei para ele que usava uma bermuda
Marron e uma blusa branca e no rosto uns
óculos escuros, só que não eram nem de longe uma armação bonita.
- Por que você tá usando isso? - apontei
para a armação quadrada de cor vermelha.
sentei ao seu lado e já abri a caixa, comi um
bombom.
- Para esconder o roxo. - levantou o óculos e mostrou.
- Está engraçado. - peguei mais dois bombons.
- Deixa um pra mim. - brigou com minha
mão e pegou um bombom.
- Coloca um filme pra gente assistir! - pedi deitando no sofá e jogando minhas pernas sobre as suas.
- Você não é nada folgada. - apertou meu
tornozelo.
Vicenzo colocou a caixa de bombom na mesa de centro, pegou o controle e colocou no N*****x, escolheu um filme super chato de terror.
- Terror não! - reclamei.
- Medrosa. Isso é Coraline!
- Não é medo, é porque é chato mesmo. Preferia ver Batman!
Ele riu e deu play no filme que eu nem sabia o nome. Na primeira cena do filme uma boneca medonha apareceu, troquei de posição enfiando a cara no ombro dele.
- Não vale esconder o rosto, tem que assistir.
Peguei uma almofada, coloquei no colo dele e deitei. Peguei a mão dele e obriguei começar a fazer cafuné no meu cabelo.
- Ah, o Murilo te pediu desculpas.
- Meu olho não aceitou. - ele riu passando a mão entre os cabelos da raiz próxima a minha nuca.
- Já disse que você está muito engraçado
com esses óculos?
- Já disse, agora assiste ao filme. - apontou
para a tela rindo.
Virei com um olho aberto e outro fechado.
- Esse filme foi feito para criança mesmo?
Olha os olhos dessas coisas. - me encolhi.
Vicenzo riu e uma das suas màos foi parar na minha barriga alisando com carinho, e ficou fazendo carinho na barriga e no cabelo e fui ficando sonolenta, quando meus olhos iam fechando a mulher com os olhos de botão apareceu novamente e eu dei um pulo.
- Calma, menina! - Vicenzo começou a rir.
- Não sério, esse filme não é de Deus não. - virei de costas para a TV. - Não quero mais ver.
- Melinda, isso é um desenho! - ele ria da minha situação.
- Vou ter pesadelos. - choraminguei.
Apertei a cintura dele com os braços. Ele
estava cheirando a sabonete de hortelā, inalei fundo seu cheiro e apertei sua mão contra minha cabeça e ele continuo fazendo carinho até eu pegar no sono.
*****(Sonho)*****
Eu estava soando frio, minhas mãos estavam mais molhadas do que a bacia que servia para esterilizar os materiais.
O médico ergueu minhas pernas e eu tentei
me mexer contra as gazes que amarravam
minha mão na grade da maca. Tentei gritar
mais minha voz era abafada pela escuridão do lugar.
Vi um rosto conhecido trazendo uma bandeja, era a Sara, no lugar dos seus olhos estavam dois botões e sua boca em um sorriso ia entregando os objetos cirúrgicos para o médico. Mexia-me para ele não conseguir fazer o aborto.
Um bisturi atingiu minha intimidade, chorei de dor, meus pés se mexiam em protesto. Mas os objetos continuavam a mutilar meu corpo.
Vi quando o médico colocou um pequeno
bracinho sobre a bandeja que Sara segurava.
- Deus me ajuda! - gritei. Comecei a gritar muito alto, minha garganta chegava a doer, mas não se comparava a dor de ter meu útero e meu coração mutilados.
Gritava e tentava me debater, mas nada
adiantava. O meu filho estava sendo arrancado de mim.
******
- Ei! Calma! - me envolveu em um
abraço.
Olhei para os lados, estava no meu quarto,
Vicenzo estava me abraçando enquanto alisava meu cabelo.
- Foi horrível! - falei chorando.
- Calma, Mel. Está tudo bem, nada de mal
vai te acontecer. Foi só um pesadelo!
- O pior de toda minha vida. - levei a mão até meu ventre. - Queriam tirar meu filho de mim.
Vicenzo encostou-se à cabeceira da cama e
me puxou para o meio do seu corpo. Como
criança apoiei a cabeça no seu ombro me
encolhi.
- Ninguém vai tirar nosso filho de você, me escuta eu não vou deixar ninguém tirar nosso bebê de você - ele falou me abraçando ainda mais forte.
Não tinha sensação pior do que aquela, eu
não tinha ideia do quanto amava aquela
criança até o momento. Passei a mão no meu ventre, minhas mãos tremiam de medo.
- Que horas são? - perguntei sem olhar para ele só olhava para minha barriga.
- Quatro da manhã.
- Preciso saber como está o meu filho. -
pedi.
Ele assentiu e continuou a afagar meu cabelo, balançava meu corpo como se fosse de uma criança. Chorei muito enquanto ele falava palavras de conforto e me embalava em seus braços.
Quando fechava os olhos às imagens do
sonho vinham até minha mente, prontas
para me atormentar. Agarrei forte a gola da
camiseta do Vini, quase implorando para
que ele não me soltasse.
Não consegui mais dormir depois disso, Vicenzo pegou no sono ainda naquela posição, fiquei com dó dele e levantei para tomar um banho. Já era seis da manhã quando entrei no chuveiro.
Meu coração estava apertado, com medo, não sei. Terminei meu banho e assim que sai do chuveiro o telefone fixo tocou. Me enrolei na toalha e corri para atender, mas não deveria ter feito isso.
- Melinda, meu namorado está ai? - a Sara falou do outro lado da linha.
Segurei no balcão, lembrei-me do sorriso dela no sonho. Afastei isso de mim, ela podia ser má, mas não era louca, não iria fazer mal a mim e ao meu filho. Foi só um pesadelo, repetia para mim mesmo.
- Sim. - responde seca.
- Pode chamá-lo, por favor? Eu ligo para ele e o mesmo não está me atendendo - parecia que.qualquer esforço para esconder o cinismo sumiu com a minha resposta.
- Ele ainda está dormindo.
- Se for possível, fale para ele me ligar assim que acordar. É urgente. - ela falou com a voz em um tom irritado e desligou.
Coloquei o telefone na base e fui pegar uma
roupa no meu guarda roupa. Tentei não fazer barulho para não acordar o Vicenzo Vesti um short de tecido bem levinho na cor preta e uma camiseta do Lanterna Verde. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e encarei meus olhos inchados no espelho. Acúmulos de noites mal dormidas tinha me trago olheiras muito feias. Essa história de que grávida fica mais bonita, é uma completa mentira. A única coisa que fiquei foi ainda com mais fome e vou ficar gorda.
Passei no quarto e arrumei os travesseiros
- Deixa que eu tiro. - peguei o celular. - Você vai ficar com esses óculos pra sempre
agora? - Você não espera que eu estampe os quadros com um olho roxo né? O que meu filho vai pensar o de mim se ver isso? Não vamos conta para ele que o tio deu um soco no papai, né filho, você não precisa ver isso - ele falou e beijou a minha barriga
- Aí Vince! - baguncei o cabelo dele, coisa
que ele odiava.
- Não faz isso, Melinda! - reclamou fazendo bico e tentando arrumar o cabelo.
- Por quê? Acendino não gosta que bagunce o cabelo dele? - fui com a mão novamente para balançar, mas ele desviou.
- Você ta pedindo... - falou ameaçador.
Antes que ele pudesse levantar eu corri
para trás do sofá colocando minhas mãos na frente do meu corpo, para impedir qualquer aproximação dele.
- Sou uma mulher grávida, não se aproxime! - corri quando ele veio atrás de mim.
- Essa desculpa não se aplica se o filho for
meu. - ele pulou o sofá e me agarrou. - Acendino? - ele perguntou ele odeia que o chame assim.
Vicenzo começou a fazer cócegas na minha barriga e eu comecei a rir sem parar, mas
estava com vontade de chutar a cara dele.
- Eu te odeio, Vicenzo! - falei entre minha
respiração dificultada pela risada.
Ele me guiou até o sofá e continuou a série de cócegas. Aquilo não iria terminar tão cedo, Vicenzo descobriu as cócegas como meu ponto fraco ainda no início da nossa amizade, e sempre que podia usava isso contra mim.
- Vai bagunçar meu cabelo de novo vai? -
f
alava enquanto seus dedos percorriam meu abdômen. Gritei e levei uma das mãos à barriga.
Vicenzo se afastou de olhos arregalados. Sentei-me curvada para frente ainda com as mãos sobre meu ventre e uma cara de dor.
Assustado o garoto ajoelhou na minha frente colocando as mãos sobre meus joelhos.
Rapidamente levei minhas mãos para seu
cabelo e baguncei, soltei uma gargalhada
enquanto ele se recuperava do susto.
- Vou, vou bagunçar sempre que possivel! - passei a mão mais uma vez.
- Melinda! Isso não vale eu realmente achei que tinha machado vocês - ele reclamou mas caindo na gargalhada também.
Ele deitou no chão e me puxou para o seu
lado. Peguei o celular e fizemos caretas para a foto. Minha barriga já estava doendo de tanto rir.
Fizemos várias outras fotos, como ele
fingindo morder minha barriga, ou tentando colocar a língua no meu umbigo, eu nunca disse que esse menino era normal.
Comecei a soluçar de tanto rir e ele arrumou uma fitinha vermelha babada pra colocar na minha testa, o que gerou mais uma série de fotos. Naquele momento esqueci de qualquer pesadelo, de qualquer medo da minha parte.
- Seremos bons pais. - conclui meus
pensamentos em voz alta.
- Claro que seremos! Você ainda tem dúvida.disso? - respondeu enquanto percorria um caminho imaginário sobre minha barriga... - Quais dessas fotos vão postar?
- Não vamos postar! - respondi na lata. - Sua família e nem a minha sabe de nada.
- Vai ser uma boa forma de contar. - deu de.ombros pegando o celular da minha mão. - Qual vai ser a legenda?
Esse menino realmente não batia bem da
cabeça. E quando minha māe visse aquilo? Ou pior, quando a mãe dele visse aquilo? E todos nossos amigos?
- Não é uma boa ideia, Vicenzo.
- Uma hora todos vão saber e vão julgar
da mesma forma. A única diferença é que
não vamos nos importar com a opinião de
ninguém. - Mostrou a foto que ele fingia
morder minha barriga. - Essa! Agora fala
uma legenda.
Ele estava certo, seríamos julgados de qualquer forma, então simplesmente assenti e concordei com a postagem da foto, com a legenda: "Cuidado, papai morde. Seis meses para provar isso!". Não, não há dúvidas sobre a sanidade mental do meu melhor amigo.
Os comentários seguintes foram como o
esperado, muitos colegas da faculdade
comentavam nos parabenizando, já outros
questionavam se era verdade. Maria, a
sobrinha de Vicenzo, fez um comentário lindo que me arrancou umas lágrimas, desejando inúmeras coisas boas ao meu bebê. A Joyce também deixou uma mensagem linda dizendo que a dinda já amava muito.
Mas então algumas horas depois, quando
Vicenzo já tinha ido embora, uma notificação chegou. Sara tinha comentado a foto. Senti um calafrio percorrer meu corpo. Ela havia comentado "Lindos" e um coração que exalava falsidade.
©©©©©©©©©©©©©©
Continua...
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Engravidei a minha melhor amiga
Cadê os próximos capítulos......
Um livro maravilhoso até agora, não vejo a hora de liberarem mais capítulos...