As viaturas estacionaram no pátio da delegacia quase ao mesmo tempo. Os policiais que haviam efetuado as prisões conduziram os dois casais para dentro, ainda algemados. Poucos minutos depois, lá estavam os quatro estudantes do Delphine’s apresentando documentos e carimbando as digitais nas fichas.
Aquele incidente era o princípio do caos. Uma bola de neve gigantesca que descia ladeira abaixo, se tornando uma avalanche de problemas inimagináveis.
De repente todos pareciam esgotados, acabados. A policial oferecera uma toalha para que Leonel limpasse o sangue no queixo, mas o corte no lábio inferior era visível, sem contar o olho direito roxo. As garotas estavam piores, cabelos completamente desarrumados e expressões exaustas.
O vestido de Trixie tinha a alça arrebentada e a saia rasgada, o olho direito estava inchado e roxo, assim como o do companheiro. A blusa de Isadora havia secado no corpo e ela agora tinha o perfume vinho à distância. Os cabelos agora estavam novamente amarrados em um rabo de cavalo alto, mas o perfume do condicionador tinha sido também trocado pelo cheiro da bebida.
Após preencherem toda a papelada das fichas do Boletim de Ocorrências, a policial explicara que o delegado local não estava de plantão e nem na cidade. O problema nisso é que passariam a noite ali e só teriam direito a sair sob fiança e telefonemas depois que o delegado averiguasse o caso pela manhã.
—Posso os acompanhar até o PS caso queiram fazer exame de corpo delito devido à briga, mas ainda terão de voltar e passar a noite aqui – dissera a mulher – Caso tenham exagerado no álcool essa noite, recomendo pularem essa parte.
Todos se olharam e recusaram. Nenhum dos presentes havia bebido tanto, mas até de manhã os efeitos do álcool no organismo teriam passado. Era melhor evitar mais papeis e burocracias.
A surpresa seguinte para o grupo fora a cela para onde tinham sido levados. Após seguirem por um longo corredor, os quatro se viram em uma sala com uma mesinha num canto e na extremidade oposta, as barras que separavam o local em duas partes. A policial, cujo sobrenome, Valentine, Josh lera na farda, retirara as algemas de todos um a um enquanto os empurrava para dentro do aposento.
—Responsável por um crime com sete letras – dissera um policial gordo que acabara de entrar no local. Valentine havia acabado de trancar a porta da cela.
A morena refletira por um segundo, ainda de olho no grupo que se sentava nos bancos do espaço vazio e gelado.
—Culpado – respondera ela – Estarei lá na frente. Tentem não nos arrumar mais problemas – emendara, agora se dirigindo aos estudantes – Lembrem-se de que quem quer que sejam seus pais ou quem sejam vocês, aqui não significa nada. Só temos essa cela aqui porque as pessoas nesse setor da cidade seguem as leis. Vou deixar os quatro juntos e espero que se comportem até de manhã.
Nem era preciso tal ameaça. Todos tinham ideia da dimensão dos problemas que enfrentariam em breve. A prisão era o menor dos males.
Havia um banco de mármore cinzento com quase seis metros que ocupava a extensão de uma parede. Josh e Isadora haviam se sentado em uma ponta do mesmo enquanto Leonel e Trixie estavam na outra extremidade.
Por trás da expressão séria e calma, Isadora tinha certeza que era, dos três presentes, a mais nervosa. Como explicaria ao pai sobre aquilo? Não conseguia sequer imaginar por onde começar. Tudo que queria naquele momento era poder se desvencilhar do olhar atento de Josh, passar por Leonel e enforcar aquela piranha loira maldita. O que a desgraçada tinha contra ela, afinal de contas?
Os quatro terem se encontrado naquele lugar na mesma noite parecia tudo, menos coincidência. Era óbvio que a vadia sabia que ela estaria ali com Josh e tinha dado um jeitinho de ir com Leonel também. E agora estavam todos ferrados por conta da atitude da megera. Ela própria se sentia culpada, perdera o controle e reagira, Trixie forçara a barra para se colocar de vítima como sempre fazia e com isso, Josh e Leonel haviam brigado.
Isa sentia que Leonel estava de cara virada para ela. Podia ver o olho roxo e o corte no lábio inferior e se sentia mal por isso, embora não fosse sua culpa, não tinha planejado nada daquilo. Em seu íntimo, não sabia o que pensar. Josh a havia defendido e jamais iria querer o ver levando a pior também. Aquele era um grande problema para o qual não havia solução.
O silêncio da madrugada fora quebrado pelo som dos passos da policial que voltava para a sala. A morena fitara o grupo com o olhar frio e se dirigira para o sujeito que vigiava à escrivaninha. Ambos conversaram por alguns instantes em sussurros que os quatro na cela não podiam ouvir e por fim, o sujeito gordo se levantara e saíra pelo mesmo corredor por onde Valentine havia vindo.
A mulher nem se sentara, ficara encostada à mesa mexendo em um celular e finalmente avançara até próximo das grades da cela. Apontara com o indicador para Josh e o chamara para conversar. O rapaz se levantara para ver o que ela queria e os outros três, mesmo não entendendo nada, ficaram onde estavam.
Joshua e a mulher sussurravam tão baixo que ninguém ouvia sobre o que falavam. Isadora vira quando o rapaz apanhara o celular da policial, digitando algo na tela. Estaria lhe passando seu número de celular? Seria uma fã? Aquela era uma hora inoportuna, mas nunca se sabe.
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