Comprei um Gigolô e ele era um Bilionário romance Capítulo 36

O cheiro de churrasco invadiu minhas narinas assim que abri o portão da casa dos meus pais. O almoço de domingo da família Aguilar era uma tradição imutável – meu pai na churrasqueira e minha mãe reclamando que ele estava assando carne demais.

Matheus gritou do quintal:

— Finalmente! Pensei que ia perder a picanha!

Minha mãe apareceu da cozinha, secando as mãos no avental. — Como você está magra! Não tem comido direito naquele apartamento minúsculo? — Bom te ver também, mãe — respondi, deixando a bolsa no sofá.

No quintal, Annelise já servia cerveja ao pai. Dei um beijo na bochecha dele, sentindo o cheiro familiar de fumaça.

— Impossível estar ocupada demais para seu churrasco, pai.

— E você sabe valorizar as coisas boas da vida — Matheus disse. — Ao contrário de certos ricaços por aí que não sabem apreciar uma boa costela.

O olhar significativo que Annelise me lançou não passou despercebido. Qualquer menção a Christian fazia meu estômago dar uma volta completa.

O almoço transcorreu em meio a risadas e histórias familiares. Na sobremesa, minha mãe perguntou sobre o trabalho.

— Estou liderando um evento importante na próxima semana. Na Serra Gaúcha.

— Serra Gaúcha? — Meu pai levantou os olhos da tigela de sorvete. — Onde fica aquela vinícola do Christian?

Um silêncio momentâneo caiu sobre a mesa.

— É a região, pai. Existem centenas de vinícolas lá.

— Vai vê-lo? — Matheus perguntou diretamente.

— É um evento profissional. Se ele estiver lá, será apenas coincidência.

— Talvez seja o destino, filha — minha mãe comentou com aquele olhar sonhador. — Vocês se conheceram tão rapidamente e tudo aconteceu como um furacão. Talvez precisassem desse tempo separados.

— Mãe, por favor...

— Sua mãe tem razão — meu pai interveio. — Vocês jovens são apressados demais. Relacionamentos precisam de tempo para amadurecer.

Felizmente, Annelise desviou a conversa para o aniversário de casamento dos meus pais, e Christian foi momentaneamente esquecido.

Mais tarde, enquanto ajudava meu pai a lavar a louça, aproveitei o momento a sós.

— Pai, o que exatamente Christian disse quando veio falar com você? Suas mãos pararam por um instante, a esponja suspensa sobre um prato.

— Por que pergunta isso agora?

— Curiosidade. Você nunca me contou os detalhes.

Ele continuou lavando, pensativo.

— Ele apareceu aqui numa terça-feira. Eu estava sozinho. — Meu pai enxaguou um prato. — Muito educado, como sempre. Pediu para conversar sobre por que vocês tinham decidido se separar.

— E o que ele disse?

— Que vocês haviam decidido encerrar o relacionamento. Que foi uma decisão mútua.

— Não tenho dúvidas. — Meu pai tocou meu queixo gentilmente. — Olha, filha, um homem não fica com os olhos cheios d'água falando de uma mulher se não sentir algo de verdade por ela.

Aquilo me pegou desprevenida. Christian, com os olhos marejados? O sempre controlado, sempre composto Christian Bellucci?

— Você deve ter interpretado mal — murmurei, mais para mim mesma do que para ele.

— Talvez. — Meu pai deu de ombros. — Mas se tem uma coisa que aprendi em quarenta anos consertando carros, é reconhecer quando uma máquina está funcionando bem e quando está forçando o motor para esconder um problema. E aquele rapaz estava forçando muito para esconder algo.

— Por que está me contando isso agora?

— Porque você perguntou. — Ele me deu um beijo na testa. — E porque nunca te vi olhar para Alex do jeito que olhava para Christian. Nem vi Alex olhar para você do jeito que Christian olhava.

Naquela noite, deitada em minha cama, não consegui dormir. As palavras do meu pai ecoavam na minha mente, misturando-se com as lembranças de Christian.

Era tudo parte do acordo, repetia para mim mesma. Christian era um excelente ator. Tinha vivido o papel à perfeição, até o fim.

Mas então por que meu coração doía ao imaginar seus olhos marejados enquanto falava com meu pai? Por que a ideia de que ele realmente se importava fazia meu peito apertar?

E mais importante: se tudo não passava de um acordo, por que eu ainda sentia essa saudade persistente, essa sensação de perda que nenhum novo emprego ou apartamento conseguia preencher?

A pequena caixa de veludo na mesa de cabeceira parecia quase brilhar no escuro, como se me lembrasse de uma promessa não cumprida.

Logo eu embarcaria para a Serra Gaúcha. Para um evento importante. Para provar meu valor profissional.

E talvez, apenas talvez, para descobrir se havia alguma verdade nas palavras do meu pai.

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