“Manuela”
Estávamos todos na casa do Patrício para um dia de piscina e churrasco. Já tinha uns quinze dias desde que prenderam aquela doida da Nicole e as coisas estavam tranqüilas novamente.
Mesmo assim, notei o Flávio meio agitado, ele se afastou bastante para atender uma ligação e estava bem nervoso. Já tinha um tempo que ele estava assim, distante, agitado e recebendo mensagens e ligações misteriosas. Mas eu achava que era o trabalho dele, então não ficava perguntando.
Virgínia se sentou na espreguiçadeira ao meu lado e chamou minha atenção.
- O que está rolando, Chaveirinho?
- Não está rolando nada, Vi! – Tentei disfarçar.
- Ah, mas está rolando. E você não vai fazer igual a Sam e nos deixar de lado. Quer que eu chame a Melissa agora? – Virgínia ameaçou e eu achei melhor não envolver a Melissa ainda, ela era capaz de submeter o Flávio a torturas até ele confessar inclusive o que não fez.
- Não chama a Mel, não agora. – Falei depressa. – É que o Flávio está estranho.
- Estranho como? – Ela me perguntou olhando na direção em que ele estava. – Quer dizer, eu notei que ele está mais estressado e não saiu do celular e sempre atende mais afastado, mas ele é delegado e a gente sabe que ele é meio estressado mesmo.
- É, mas está diferente, Vi. Não sei o que é... é uma sensação. Mas deve ser só loucura da minha cabeça.
- Você já conversou com ele? – Virgínia continuava observando o Flávio gesticular de forma nervosa.
- Não quero parecer essas namoradas inseguras que ficam fiscalizando tudo. Eu sou bem mais nova que ele e não quero que ele tenha motivo pra me chamar de imatura. – Expliquei.
- Mas você não é imatura, você só observou uma mudança de comportamento e está desconfortável com isso, tem que falar com ele.
- É, você tem razão, vou fazer isso quando chegarmos em casa.
Pouco depois o Flávio veio até mim. Estava irritado, inquieto, nervoso.
- Baixinha, surgiu um problema e eu preciso ir pra delegacia. – Ele se abaixou para me dar um beijo.
- Ah, então me deixa em casa no caminho. – Falei já me levantando.
- Não! – Flávio falou de forma brusca. – Baixinha, fica, está um dia lindo, aproveita com o pessoal.
- Ih, o que foi Manu? Quer fugir com seu bonitão? – Melissa se aproximou.
- Não, Mel, é que o Flávio tem que ir trabalhar e eu pedi pra ele me deixar em casa. – Expliquei.
- Ué, Delegado, não estava de folga? – Melissa estranhou.
- Ossos do ofício, Melissa. Mas estou dizendo pra baixinha ficar e aproveitar o dia. – Flávio passou a mão em meus cabelos.
- Isso mesmo, você fica, Chaveirinho. Depois o Nando e eu te deixamos em casa, é do lado praticamente. – Melissa, como sempre, já tinha resolvido.
- Não precisa, Mel, eu passo aqui pra pegar minha baixinha quando sair da delegacia. – Flávio sorriu pra mim, mas aquele sorriso estava tenso.
- Flávio, está tudo bem? – Perguntei ficando preocupada.
- Está sim, é só rotina. Mas eu queria ficar com você. – Ele me deu um beijo. – Passo pra te pegar mais tarde.
Ele se levantou e se despediu, mas antes de sair puxou discretamente o Patrício pra dentro da casa e falou alguma coisa. Mas não passou despercebido nem pela Melissa e nem por mim.
- Estranho, hein. – Melissa comentou. – O que está rolando, Chaveirinho? E nem adianta dizer que não é nada.
Pronto, nada escapava aos olhos atentos da Melissa, que logo chamou as outras garotas e nos levou para a sauna, vendo que eu estava mesmo preocupada.
Na sauna acabei contando para as garotas do comportamento estranho do Flávio, dos telefonemas estranhos, inclusive no meio da noite, das idas para a delegacia em horários estranhos e dias em que deveria estar de folga e do nervosismo constante que eu notava nele.
- Minha esposa está brava comigo porque eu tive que trabalhar hoje e não pude levá-la para um tal piquenique com uns amigos numa cachoeira ou algo assim. Então preciso me desculpar com ela para não dormir no sofá. – Melissa soltou uma risada divertida.
- Vou te mandar o nome e o telefone de um SPA maravilhoso, liga lá e marca um pacote de casal pra vocês dois, fala que fui que indiquei, eles vão te dar tratamento VIP. Duvido que ela não te perdoe. E se você conseguir pra hoje depois do plantão é melhor. – Melissa sorria.
- Ah, você é maravilhosa, Chefona! Sabe das coisas! – Bonfim riu. – Agora o que eu posso fazer por você?
- Por que você está de plantão hoje, Bonfim? – Melissa perguntou como se não quisesse nada.
- O delegado da outra equipe pegou uma virose e me pediu para trocar o plantão com ele.
- Ah! O Flávio também está trabalhando hoje? – Melissa falava como se não tivesse realmente nenhum interesse.
- Não, o Moreno está de folga. Deve estar curtindo a baixinha dele.
- Aaah! Bonfim, depois eu te falo como você vai me pagar o favorzinho de hoje.
- Combinado, Chefona.
Eles se despediram como grandes amigos e nós estávamos todas olhando pra cara dela.
- Quando foi que você e o Bonfim ficaram tão amigos? – Catarina perguntou surpresa.
- Ah, isso foi durante sua gravidez. Ele estava me mantendo informada sobre a investigação atrás do Junqueira. Acabei conhecendo a família dele e a esposa é maravilhosa. – Melissa sorriu. – Almoço com eles pelo menos uma vez por semana.
- Gente, e como a gente não sabe disso? – Virgínia perguntou.
- Porque nunca perguntaram. – Mel respondeu. – Agora vamos focar no que é importante aqui? Flávio não foi trabalhar, ele está mentindo pra Chaveirinho, hora de pressionar esses idiotas.
Meu coração apertou no peito e eu senti um nó na garganta.
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