— Estamos escassos. — Era o rosto de Gael, passando por todas as curvas luminosas de Starian, fissuras digitais, comunicadores e meio de entretenimento Stariano. Cada cidadão extraterrestre parava de andar, olhava para os hologramas artificiais e o fundo patriota que suas palavras ditavam. — Escassos de vida, escassos de mão de obra e escassos do básico; com a visão de um fim solitário e sofrido bem diante dos nossos olhos. No entanto, a salvação veio com o sangue de um poderoso Paladimus e um ventre humano. — Os Starianos comemoraram, começaram a sorrir enquanto a imagem de Gael tagarelava sobre a nova vida e esperança, usufruindo de um momento de fé e choro coletivo. Mas, o recado ainda não havia sido terminado. — É pelo futuro de nossa raça que eu condeno todo e qualquer integrante que comungar com a rebelião. Pois ao soar da nova era, desprovido da vontade de viver e de um ódio no qual não compartilho, o futuro de Starian sofreu um atentado ainda sendo um pequeno embrião no ventre da nossa esperança. Sem amor à vida e ao vínculo Stariano, a rebelião está sendo condenada por atentar contra a vida de um bebê, por atentar contra a família e o vínculo Stariano. — Gael relatava e expunha os nomes dos traidores e o ato como uma ação hedionda, fazendo o burburinho de felicidade se tornar rostos espantados, desaprovação e dúvidas.
Ao finalizar o recado, Gael desceu do suporte de sua sala enquanto era vigiado pelo irmão e os demais capitães, ainda preocupados com a segurança do lugar. Ele foi mantido sob vigia constante, assim como a humana Elaine e o corpo desacordado de Volkon.
O lugar consistia num acesso ao palácio do Lorde, onde ele usufrui da tecnologia para mandar mensagens imediatas para o povo, quando não se podia estar diretamente com eles. Vestindo seu aporte dourado, os brasões brancos e os cabelos negros preso numa trança comprida, ele tinha as mesmas feições quadradas que Galak. E silenciosamente caminhou até a parede de vidro, admirou os jardins de sua vasta área verde e suspirou sob os olhares cuidadosos dos Starianos presente.
— Agora, comunguem de fé. — pediu pensativo — Há um bebê instável e Stariano no ventre de uma humana desacordada e vinculado a um stariano que não responde à ciência. Que a energia Stariana que habita nossas vidas, tenha misericórdia da criança no ventre da humana, e de todo o resto.
— Quanto ao plano de ataque, ainda pretende esperar? — Questionou Galak, colocando-se ao seu lado e analisando a imagem de perfil do irmão.
— Sim, eu irei esperar.
— Gael, temos a localidade e as pistas certas para… — Gael levantou o rosto, olhou para o irmão e o viu se calar no momento em que seu espelho cruzou com o mesmo olhar dourado. — Irmão, deixe-me tomar a linha de frente e vingar este ato. Traremos os condenados com vida e o faremos passar por um julgamento formal.
— O quanto do general está falando? — Galak franziu o cenho, cerrou o maxilar e olhou confuso para o irmão. — As medidas protetivas estão sendo tomadas, um ataque não irá acontecer com a nossa guarda em alta. Galak, está cego de raiva e, talvez, de ciúmes.
Uma batida na porta soou, interrompeu a nova discussão que iria surgir e com o auxílio dos serviçais, ela foi aberta, mostrando uma jovem empolgada acompanhada de um Sariano da raça Ellidium; e ambos vestidos com um jaleco branco, usando no peito o brasão e o símbolo Stariano.
— Boas notícias, a humana acordou! — anunciaram, esquecendo-se de se curvar diante o Lorde.
(...)
O médico olhava as íris de Elaine, anotava algumas coisas em sua caderneta e sorriu para a magricela baixinha, sentada e tristonha à beira da maca e o quarto privativo. As acomodações humanas precisam ser humanas, ainda que a ciência Stariana não estava totalmente adaptada à vida humanóide, mas estavam em transição.
— Eu já posso ver ele?
— Sugiro que descanse primeiro, coma algo e depois preocupe-se em ir visitar o Stariano Paladimus. — o médico respondeu sério — Tem uma vida milagrosamente viva em seu ventre.
— Com a força da pancada eu devia ter perdido o bebê, mas foi Volkon quem levou toda a pressão da queda. — contou pensativa, recordando-se das suas últimas cenas.
— Ao que me parece, Elaine, o bebê está agindo de forma auto protetiva. Há uma casca ao redor de seu útero, modulando seu ventre e protegendo a semente pequena. Existe muita semelhança com a gestação Stariana, me fazendo pensar que você é apenas um receptor vivo.
— Está me dizendo que minha filha, mesmo sendo minha filha, está agindo apenas com a genética alienígena?
— Exatamente. O baque nem mesmo surtiu efeito, como se os alertas de perigo de Volkon e o vínculo tivessem conectados no embrião e assim feito a casca de proteção interna. Isso só acontece na gestação Stariana. Humanos não são capazes de pensar enquanto estão no formato de um feijão, entende? — Elaine concordou pensativa — Ainda assim, eu sugiro que coma e restabeleça suas forças. Até que tenhamos mais respostas, deve se cuidar conforme nossas rotinas humanas. Mas imagine se pudéssemos saber da vida lá fora, antes mesmo de nascer, esta ciência é incrível…
(...)
O estúdio medicinal para casos urgentes, como o de Volkon, era uma ala completamente fria, de estrutura avermelhada e muito semelhante à brigada científica de um vilão televisivo. O lugar reverberava uma energia negativa, olhares piedosos e na sua frente estava um tubo grande, comportando um líquido vermelho no qual o corpo nu de Volkon estava dentro. Ele tinha várias agulhas presas nos braços e nas costas dos ombros, enviando sinais de fora para dentro e vice-versa. Seus olhos estavam fechados, seus cabelos soltos e havia rachos na sua pele como se seu corpo estivesse rasgado em várias partes, inclusive um uma longa parte da lombar, expondo muita carne.
Era uma visão horrível, e não parecia que estavam curando ele, se parecia muito mais com um experimento macabro. No entanto, a ciência Stariana estava anos luz de avanço da ciência humana. Ela sabia que estavam dando o seu melhor, uma vez que se fosse em situações humanas, já o teriam dado como morto.
— A fórmula na qual ele está submerso impede de que sua situação piore, e isso devia fazer com que ele tivesse uma evolução. No entanto, não é isso o que está acontecendo. Exatamente hoje, o racho na lombar onde está exposto muito de sua carne teve dois dedos de abertura. — um Stariano contou aos visitantes, Elaine e Galak, enquanto ela mal conseguia piscar olhando a cena.
O Stariano continuou a passar informações, enquanto Elaine se aproximava do tubo gigante e devagar levantou as mãos. Ela tinha os olhos marejados vendo a bolha de ar em volta das vias respiratórias do azulado, movendo-se como se fosse uma bolha de sabão soprada. Enchendo e esvaziando devagar, mostrando que ele ainda respirava, mas estava desligado. Ela não podia chamar aquilo de “coma”, porque era algo Stariano demais para ser comparado à ciência humana.
Elaine tocou o vidro, fechou os olhos, deixou uma lágrima escorrer e quando menos percebeu, beijou a parede transparente sentindo o rosto queimar com suas lágrimas.
— Por favor, querido, nós precisamos de você…
Sem que ela pudesse esperar, a humana sentiu uma pontada na barriga, urrou repentinamente de dor e tocou o baixo ventre, caindo de joelhos e sem entender o que houve. Ela se sentiu absurdamente cansada e os aparelhos monitores que circundam a vida de Volkon elevaram os sinais, pra pior. Foi necessário uma equipe para atendê-la, outra para os procedimentos no qual energizam as agulhas e mantinham a vida do Paladimus.
E Elaine se viu afastada, chorando e sem respostas.
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