Por causa do Sterling, a raiva que ela sentia da confusão no escritório foi, pouco a pouco, desaparecendo.
Às vezes, Clarice pensava que, na verdade, era uma pessoa fácil de agradar. Bastava que Sterling demonstrasse um pouco de sinceridade, só um pouco, e ela já estaria satisfeita. Mas o problema era que ele sequer tinha coração para dar a ela... Quanto mais sinceridade!
Vendo-a tão calada, Sterling desviava o olhar para ela de tempos em tempos. Sempre que via o reflexo daquela expressão serena no vidro do carro, sentia uma tranquilidade estranha, quase inexplicável.
Ele sabia muito bem que não amava Clarice, mas gostava da sensação de paz que a presença dela trazia. Era como se, ao lado dela, o tempo desacelerasse. Tinham se casado há apenas três anos, mas já parecia que dividiam a vida como um casal veterano de décadas.
Sabendo que Clarice estava com pressa, Sterling acelerou o carro. Não demorou muito para que chegassem ao hospital.
Assim que o carro parou, Clarice se despediu apressadamente, abriu a porta e saltou para fora antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer coisa.
Sterling manobrou o carro até o estacionamento. Após estacionar, subiu para encontrá-la. Assim que saiu do elevador, avistou de longe a silhueta dela. Estava parada em frente à porta da sala de emergência, as mãos unidas em prece, o olhar cheio de devoção e ansiedade.
Por um momento, o peito dele se apertou, como se algo o incomodasse. Era uma sensação desconfortável. Em todas as outras vezes... Será que ela também ficou assim, rezando do lado de fora, sozinha?
Ele respirou fundo, desviando o olhar. Caminhou até o final do corredor, tirou uma cigarreira do bolso, acendeu um cigarro e soltou a fumaça lentamente. A pressão no peito foi aliviando, pouco a pouco.
O tempo foi passando, os minutos se transformaram em horas, e, sem perceber, Sterling já havia terminado um maço inteiro de cigarros. Ele abriu a janela para dissipar o cheiro impregnado nas roupas e, só então, voltou até Clarice. Parou atrás dela e, com cuidado, passou um braço pela cintura dela.
Clarice foi pega de surpresa. Instintivamente, segurou o pulso dele, pronta para aplicar um golpe de autodefesa.
— Clarice, sou eu! — A voz tranquila dele a fez parar imediatamente.
Ela piscou, atônita, e virou-se para encará-lo. Quando seus olhos encontraram o rosto bonito e familiar dele, ficou brevemente confusa.
— Você... Não foi embora?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um Vício Irresistível
Por favor, cadê o restante do livro???...