Só Teu! Volume II da Trilogia Doce Desejo. romance Capítulo 22

Poucas horas antes do tiroteio, Nicole sentiu as mãos magras que a sacudiram pelos ombros. Ela se mexeu e olhou dentro dos olhos castanhos da mulher pálida com rugas no canto dos olhos. A senhora de meia-idade segurou Nicole pela mão e a ajudou a se levantar.

― Vem, madame! Vamos aproveitar que o Zé saiu.

― Para onde vamos?

Nicole gemeu baixinho e colocou a mão na frente dos olhos para proteger da luz solar quando chegaram a uma porta de madeira com a parte debaixo danificada.

― Nós vamos atravessar aquele matagal. ― Deram alguns passos por uma viela estreita até chegar ao meio do mato. ― Cuidado com os buracos.

― Por que a senhora está me ajudando?

― A mulher que contratou o Zé exigiu que terminasse o serviço hoje.

― O meu esposo vai pagar o resgate!

― Se liga, madame! ― Empurrou alguns galhos finos de uma planta silvestre, esperou que Nicole passasse. ― Contrataram o meu Zé para matar você.

― A senhora sabe quem é a mandante?

Nicole caminhou devagar ao passar por entre duas pedras.

― Não sei, meu filho não contou. ― Pigarreou e tossiu em seguida. ― Eu sei que essa mulher te odeia e pagou caro para tirar você do caminho dela.

Pouco a pouco o tom alaranjado dava lugar ao breu da noite, os mosquitos picavam a pele do rosto e dos braços. Ambas atravessaram uma pequena vala quando ouviram os primeiros estampidos da troca de tiros.

― Se abaixa, madame!

Nicole deitou de lado no chão ao lado da mulher que a abraçava, não compreendeu como uma pessoa tão boa se envolveu no mundo do crime. Ficaram ali enquanto ouviam os barulhos por quase cinco minutos.

― Vem, madame! ― Ajudou a Nicole a se levantar. ― Apressa os passos. Falta pouco para a estrada, dali você pega o seu rumo.

― Eu não sou madame, moro no subúrbio do Rio.

― O Zé falou que você é esposa do bacanaço.

― Eu era! Estamos separados.

― O doutor é chefão na rede de hospitais da família Bittencourt. ― Tencionou o canto da boca.

― Como seu filho sabia disso?

― Não sei! ― Deu mais alguns passos à frente de Nicole. 

O som dos carros que passavam na rodovia chamou a atenção de Nicole. Olhou para o lado esquerdo.

― Toma cuidado, garota! Agora segue o seu rumo. ― Apontou para a rodovia. ― Volta para a sua vida e vai lá cuidar do teu filho.

― A senhora vai voltar para o casebre?

― Não! Eu tenho mais dois filhos. Preciso pegar eles e fugir.

― Obrigada! ― Nicole a abraçou. ― Qual é o seu nome?

A mulher se afastou de Nicole e correu para o outro lado da rodovia quando viu a movimentação no meio do mato. Em poucos segundos, ela desapareceu no meio da escuridão da noite.

― Podemos discutir sobre isso depois? ― Os lábios se moveram em uma careta irônica. ― Agora eu só quero um bom banho, comida e cama.

Puxou-a para dentro dos braços e a manteve presa por entre os ombros largos que aqueciam o corpo e o coração.

― Nunca mais faça isso! ― sussurrou a voz barítona. ― Você saiu sem avisar para onde ia e eu quase perdi você. ― Beijou-lhe o topo da cabeça e a segurou próxima ao peitoral.

― A Rosa te contou?

Nicole acenou fracamente para a governanta que os observava de longe e afastou Alexander.

― Falamos sobre isso depois. ― Ajudou a esposa a ficar em pé.

Ela pousou a mão direita nas costas. 

― Eu estou fedendo, preciso de um banho urgente!

― Se você quiser, eu te ajudo e depois eu faço uma massagem.

O sorriso de Alexander se abriu em uma curva perfeita.

― Não! Hoje eu só quero dormir, mas eu aceito a massagem.

― Eu só quero dormir agarrado com você ― disse ele sorrindo. 

Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva

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