O relógio marcava três da madrugada, mas nem isso fora o suficiente para impedir que uma mulher enrolada no lençol vagasse pelo cômodo escuro de sua casa. Por mais que Jessy pensasse, não conseguia encontrar uma razão sensata para o que fizera, e permanecer ao lado de Valentin, deitados na mesma cama, apenas lhe deixava enojada de si mesma. Inúmeros sentimentos contraditórios preenchiam o seu ser naquele instante. Frustrada, Jessy sentou-se no sofá, deitando-se em seguida. Ela não conseguia dormir, mas fechar os olhos a fazia se sentir bem. Ela se sentia em meio a um pesadelo que logo acabaria quando abrisse os olhos.
Valentin abriu os olhos deparando-se com o vazio ao seu lado. Fez menção de levantar-se e ir atrás dela, mas logo deu-se conta do ridículo pensamento. Percebeu estar confuso sobre como deveria se sentir naquele instante. Voltou a sua atenção para o teto branco, e em seguida para o quarto a sua volta. Apesar da pouca luz, não era difícil distinguir tudo o que via. As roupas dela estavam jogadas no chão, misturadas com as dele. Ergueu-se se sentando, e com uma expressão indecifrável, caminhou ate a sala onde ficou observando Jessy, deixando-a sozinha com seus pensamentos minutos depois. Valentin retornou ao quarto, pegou as suas roupas, as quais estavam espalhadas e ao parar em frente a um espelho, se olhou por longos instantes ate aproximar-se lentamente dele. O tocou sentindo a frieza do espelho. Levo a sua mão ao reflexo de seu rosto.
–Estaríamos desse jeito agora – Valentin murmurou ao fechar os olhos em seguida. Ao se virar de costas, vislumbrou uma cicatriz em sua costa, e com uma expressão estranha na face, levou a mão ate ela – De alguma forma me sinto próximo a você com isso. – murmurou.
Flashback on
Desde pequenos, os gêmeos Magnos, gostavam de aventurar-se pelos lugares e desbravar o desconhecido sem o conhecimento de sua mãe. Naquela quente primavera, eles caminhavam lado a lado pelo redor da casa de campo de sua família. Por mais que visitassem aquele local, sempre encontravam algo novo. A escócia podia ser o lugar mais aventureiro para duas crianças do que o próprio oceano. O mais novo deles, Victor, sorria discreto ao caminhar sem prestar atenção para onde ia, como estava acostumado a fazer, enquanto Valentin ia logo atrás dele atento. Victor, com seus doze anos de idade já aparentava ser curioso e irresponsável, parou próximo a formação rochosa que apresentava possuir uma queda de 3 metros, ficando em pé na beirada, demonstrando não ter medo.
–Saia daí – Valentin disse temendo pelo irmão sem se aproximar – venha..
–Venha ate aqui, irmão – Victor o chamou sorridente – é bonito. – Valentin como toda criança acabara indo apesar do medo que sentia. Aproximou-se a passos lentos, e logo percebeu que sua altura não era tanta quanto imaginara. Parou ao lado de seu irmão com um sorriso na face – viu? – Victor disse sorridente ao olhar para frente. – vamos pular? – perguntou ao olhar para baixo – é seguro. Tenho certeza que estaremos seguros. Vamos?
–Não acho que seja o melhor... – Valentin disse expressando o seu receio.
–Não seja medroso – Victor provocou ao segurar na mão de Valentin, puxando-o, surpreendendo-o e sem como escapar, Valentin e Victor pularam em direção ao mar. Após alguns segundos submerso, Victor, emergiu com um sorriso travesso – Está vendo que não foi ruim? – disse alto ao olhar para o lado, mas logo o seu sorriso se desfez ao ver o corpo de Valentin boiando na água, a qual possuía presença de sangue. – VALENTIN – gritou em desespero ao nadar ate onde ele estava. Sem saber como, conseguiu tirar seu irmão do mar e buscar por ajuda. Victor não sairá do lado de Valentin por horas após ser levado para o hospital. Aquele episodio havia aproximado ainda mais os irmãos. Toda a vez que Victor via a cicatriz nas costas de seu irmão, lembrava-se do quanto ele era frágil e de como deveria ficar ao seu lado. –Nunca mais... Nunca mais irei fazer nada para lhe machucar – Victor prometeu sinceramente.
Flashback off
Valentin vestiu a sua blusa com o olhar indecifrável. Abotoou a sua camisa, enquanto olhava para a sua imagem no espelho e em seguida para o quarto em que estava. Nada naquele cômodo lembrava-lhe a mulher amargurada que via todos os dias. Os porta-retratos espalhados pelo quarto mostravam uma mulher feliz, amada e serena, algo que ele não conseguia ver nela. Aproximou-se de um dos retratos mantendo o semblante indecifrável ao vê-la abraçada a Victor. A sua copia fiel. Continuou olhando por inúmeros segundos, pegando-se imaginando como seria se o homem naquele foto fosse ele, e não seu irmão.
“O que estou pensando?” se perguntou ao colocar o retrato de volta ao lugar. Olhou pela ultima vez o quarto, antes de pegar as suas coisas e sair, sem olhar para trás. Ao passar na sala, estancou ao ver Jessy deitada no sofá, encolhida como uma criança que necessitava de proteção. Com cuidado, aproximou-se dela, se ajoelhou no chão e sem perceber, levou a mão ao rosto dela, acariciando-o. Observou os traços do seu rosto, dando-se conta que já começara a gravar todos os detalhes. Ele não soube dizer quando começou a reparar nela, mas aos poucos, lentamente, todo o seu rosto, o seu corpo, lhe era familiar. Seus dedos percorreram a extensão dos seus lábios, do seu nariz e de seus olhos. A pouca luz na sala fora suficiente para que ele percebesse o corpo moldado pelo lençol. Pegou-se olhando para ela com malicia.
–Devo estar realmente...ficando louco – sussurrou para si mesmo ao erguer-se, sempre olhando para ela. Suspirou antes de ir em direção a porta e sair. Em contrapartida com o barulho da porta se fechando, uma mulher remexeu-se no sofá, denunciando a verdade.
–Assim como o vento.. – Jessy murmurou ao abrir os olhos. Durante todo o momento ela estava desperta, apenas não quis demonstrar por vergonha e receio – na estação do verão, irá embora. Me deixando com um sentimento estranho. Sou apenas eu que estou tão confusa? – se perguntou ao fechar os olhos com força afim de tirá-lo de sua mente, sem sucesso.
***
Um carro seguia em alta velocidade pelas ruas desertas á aquele horário. O barulho do motor e o som do vento tinham o dom de acalmar o coração e a mente de Valentin, os quais trabalhavam incansavelmente. Ele não conseguia parar de pensar no que acabara de fazer. Por mais que ele falasse a si mesmo que havia sido pela sua vingança, nem ele mesmo acreditava em suas mentiras. O semblante de Jessy fazia com que ele se sentisse mal consigo mesmo.
–Eu não posso.. Eu tenho que odiá-la – repetiu para si mesmo inúmeras vezes afim de que se tornasse realidade. – Não posso fazer isso – disse ao acelerar ainda mais o carro. Ele não sabia em que direção estava seguindo, apenas desejava afastar-se dela. Mais e mais.
***
Grace olhou para Luiza de soslaio ao guardar o celular em sua bolsa. O semblante que outrora demonstrava alegria, transformou-se para ódio e raiva. Grace esboçou um sorriso frio ao olhar para sua futura nora.
–Talvez devêssemos acelerar os preparativos. O que acha? – Grace perguntou a Luiza, a qual apenas assentiu confusa. Em seu intimo, Luiza, desejava conquistar Valentin primeiro. Ela desejava vê-lo apaixonado por ela como todos os homens com quem se relacionara. Ela não aceitaria casar-se com alguém que não pudesse controlar.
–Certo, vou lhe esperar – tornou gentil ao olhar para ela com curiosidade. A viu se afastar com rapidez e logo se viu sozinho. Caminhou ate a cozinha, depositando a sacola em cima da pia de mármore. Retirou tudo, arrumara, não demorando para depositar tudo sobre a mesa de forma organizada. Sentou-se na cadeira com os pensamentos envoltos em recordações.
Jessy deixou o lençol cair sobre o chão do banheiro. Ela não queria ver o seu corpo. Ela não estava pronta para ver as marcas do que fizera. As marcas de sua culpa. Passou direto pelo espelho, ligou o chuveiro sem importar-se com a água gelada. Ela apenas deixou que a água caísse pelo seu corpo. Seu corpo tremia perante a água gelada, mas ela apenas permaneceu com a cabeça de baixo da água. A água caiu pelo seu corpo como um balsamo, pois ao mesmo tempo em que a livrava das sensações que Valentin lhe causara, a deixava mais digna. Digna de estar em frente a Jon.
–Sou realmente má. – sussurrou ao pegar a esponja e a esfregar com força em seu corpo – como posso estar dando esperança a ele quando me entreguei a Valentin de forma tão trivial? Eu..deveria... o que eu deveria fazer? – questionou-se ao sentir a água bater contra o seu corpo, o qual já mostrava algumas partes avermelhadas devido ao modo grosseiro com que estava se tratando.
Jon olhou para o relógio em seu pulso estranhando a demora de Jessy. Já estava se caminhando para o banheiro quando escutou o barulho da porta. A viu sair enrolada em uma toalha felpuda azul clara e olhar para ele de um modo estranho.
–Esta tudo bem? – ele indagou curioso.
–Sim.. Vou me trocar e já volto – apertou a toalha ao caminhar ate o seu quarto, onde o trancou. Aquele pequeno gesto não passara despercebido para Jon, o qual olhou com uma expressão triste para a porta do quarto.
–Ela não confia em mim. – percebeu ao dar as costas e sentar-se onde estará anteriormente – ainda tenho um longo caminho a percorrer.
***
Valentin estacionou o seu carro em sua vaga. Desceu do seu carro esportivo e ao olhar para o estacionamento vazio do hotel, suspirou. Ele sabia que o que estava prestes a fazer não iria ajudar em seus problemas ou ajudar em acalmar seus pensamentos, entretanto focar-se no trabalho era a única coisa que ele conseguia pensar em fazer. Caminhou em direção ao elevador e assim que apertou o botão, as portas se abriram. Entrou, apertou o botão do ultimo andar, e sem perceber desejou vê-la no terraço. De alguma forma, ele começava a compartilhar aquele lugar com ela.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Segunda Chance(Completo)
Amei,me emocionei muito com esta linda história de amor....
ótimo livro!!...
🥰 Amei...