Lurdes teve um sonho.
No sonho, Evandro, de 12 anos, abraçava os joelhos, sentado no chão, imóvel, fixando a porta do armário, como se estivesse à espera de algo.
Ela viu Luiz entrar e chamar por ele, mas ele não reagia, não comia nem bebia, a comida esfriava e era levada embora, e ele permaneceu ali sentado por dois dias, até que Luiz se aproximou e deu-lhe um tapinha no ombro, foi quando percebeu que ele havia chorado até ficar com os olhos vermelhos.
Lurdes o viu desolado, dizendo: "Ela se foi... Ela não me quer mais..."
"Será que sou realmente tão repulsivo? Por isso, até ela não me quer mais..."
"Ela não me quer mais..."
O jovem enterrou o rosto nos joelhos, e com uma voz rouca e embargada, repetia aquela frase, aquela frase tão dolorosa.
Ele se permitiu cair em um abismo escuro, em uma queda livre, e sequer queria se debater, porque, a única pessoa que poderia segurar sua mão e puxá-lo para cima, não o queria mais...
Quando Lurdes acordou, percebeu que havia lágrimas no canto dos seus olhos. Foi lavar o rosto e, olhando para o espelho, para a própria face carregada de preocupação, suspirou profundamente, "Ele não vai realmente acreditar que eu não o quero, vai?"
Lurdes queria convencer a si mesma de que era apenas um sonho, que não era real e que não deveria se preocupar, mas o sonho parecia tão verdadeiro!
E, de fato, ficar sem comer ou beber, sentado teimosamente em frente ao armário à espera dela, era algo que ele faria.
Um sentimento de culpa e auto-reprovação a invadiu, fazendo com que Lurdes quisesse ir imediatamente até ele e dizer que não era nada do que ele estava pensando!
Quanto mais Lurdes pensava, mais angustiada ficava e, com um grito de exasperação, exclamou: "Ah! Que irritação, que irritação, esse garoto! Pura paranoia, quem disse que não o quero?"
No final, a angústia e milhares de palavras se transformaram em um único suspiro.
Lurdes saiu de casa às sete da manhã, com uma mochila simples. Não quis incomodar o pai para levá-la ao aeroporto, então, assim que saiu do condomínio, preparava-se para chamar um carro pelo aplicativo quando um carro parou à sua frente.
De repente, a janela traseira se abaixou e Rafael, vestido casualmente, a cumprimentou com um sorriso: "Agente Lurdes, bom dia!"
Certo, certo, já entendi, já estou até azedo de inveja, cale-se! Pensou Lurdes.
O voo para São Paulo geralmente levava mais de duas horas. Quando chegaram a São Paulo, já eram 11 horas da manhã.
Rafael pegou um táxi, forneceu ao motorista um endereço e seguiu para a casa desocupada de seu tio, localizada no centro da cidade.
Lurdes originalmente não queria tanto incômodo, ela preferiu ir direto ao encontro dos professores Adalgisa e Tarcísio, e após a reunião, pegaria o voo de volta no mesmo dia.
Mas Rafael insistia em complicar as coisas, dizendo que encontrar com sua tia Azevedo não era tão simples quanto parecia, que era necessário agendar e obter a permissão dela, implicando que ela deveria ficar ao menos dois dias em São Paulo.
Considerando que ele tinha "conexões", Lurdes relutantemente concordou em ouvi-lo.
"Agente Lurdes, atravessando esse beco chegaremos lá!"
Rafael caminhava à frente, ansioso, correu para mostrar-lhe o caminho, e Lurdes, ao levantar a cabeça, viu que Rafael já havia virado a esquina.
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