No dia seguinte, quando acordo, vejo o lado vazio na cama. Hassan já se levantou. Uma rosa e um bilhete estão no seu travesseiro. Escuto sons no banheiro.
Sorrindo, cheiro a flor e leio o bilhete.
Karina,
Com todas as fibras do meu ser, tenho um suspiro infinito de gratidão por haver te conhecido. Intenso e pleno de alegria, que se reflete em cada estrela e reverbera junto à imensidão do Universo.
Quando estamos juntos, no instante em que nossos lábios se unem, meu corpo sente um prazer infinito. Em sua alma encontro a minha própria alma um dia por mim esquecida.
Suas palavras fazem meu coração acelerar, inflar de alegria. Fico encantada com elas. Ele sai do banheiro de robe branco enxugando os cabelos. Eu sorrio para ele.
— Amei!
Ele senta ao meu lado na cama, e eu me sento. Nos abraçamos. Ele toma minha boca e me beija profundamente. Quando nos afastamos, ele diz:
— Hoje iremos jantar na casa dos Smiths.
— É aquele jantar que não fomos… — não completei a frase. Não tocamos mais no assunto “Helena”.
— Exatamente.
— Que horas está marcado?
— Oito horas, na casa deles.
— Está certo.
Ele beija as minhas mãos e se levanta da cama.
— Levanta. Eu preciso te levar.
Verdade, por isso ele levantou cedo.
— E o segurança, será que ele está aí para levar meu carro?
— Com certeza está.
— Puxa! Você tem uma segurança…
— Porque eles sabem que sou um patrão exigente e justo também.
— Preto no branco.
Hassan se senta.
— Com você tenho sido menos radical, tenho tentado ser cinza também.
Eu me emociono com as falas dele e o abraço.
— Nunca pensei que fosse ser cinza.
Hassan respira fundo abraçado a mim, então se afasta e diz sorrindo:
— Vamos? Estou morrendo de fome.
Eu sorrio.
— Você não jantou. Deve ser por isso.
— Verdade, por isso meu estômago está nas costas.
Eu rio.
Quarenta minutos mais tarde, eu já estava no trabalho. Hassan me deixou e o segurança veio atrás com meu carro e ficou plantado, em pé, dentro da loja. Quando deu nove e meia e as vendedoras começaram a chegar, ele deu um tempo e foi embora. Ana correu até a minha sala.
— Bom dia.
— Bom dia — digo sorrindo, cortando um molde em cima de uma mesa grande.
— E como foi ontem?
— Tudo resolvido. Meu marido é cinza, Ana.
— Cinza?
— Sim, quando conheci Hassan era tudo muito preto no branco. Mas, por causa das nossas diferenças culturais, ele tem se mostrado compreensivo. Tem arrumado alternativas para tudo dar certo entre nós.
— Eu vi o brutamontes que estava aí. Precisa mesmo de um segurança?
— É a forma que ele encontrou para solucionar o problema. São os caminhos alternativos para ele descansar. Sentir que estou segura. Poder ir trabalhar sem se preocupar comigo. Não acho ruim, não. Sabe o que cheguei a pensar? Que ele começaria a implicar com meu trabalho, que ele me proibiria de trabalhar.
— Mas isso seria muito radical!
Eu sorrio.
— Sim, mas para um árabe não. Eles são extremistas com suas mulheres. Eu compreendi muito Hassan depois que fui para o Egito. E sei o quanto ele está se esforçando para me ver feliz. Lá, as mulheres são como cordeirinhas, mansas, aceitam tudo, e ele esteve metade de sua vida convivendo com isso.
Ela suspira.
— Entendi. É, amiga, que bom que vocês estão resolvendo as coisas da melhor forma possível. Você tirou a sorte grande.
— Sim, cada vez mais acredito que sim. Mas dou créditos ao sentimento “amor”. O amor incondicional.
— Espero encontrar alguém assim — ela diz, pensativa.
— Espero que sim.
Cheguei em casa pouco depois das cinco. Tranquila, pude arrumar algumas gavetas no meu closet. Depois tomei um banho demorado — é claro que antes aqueci meu quarto com o ar-condicionado. Então, só de roupão, escolhi a roupa para esta noite.
Vestido, sem chance. Estava nevando lá fora. Então coloquei uma calça preta, grossa, de lã, uma blusa cinza de gola rolê colete de lã preta e uma linda parka vermelha. Botas de cano curto completam o traje.
Eu ainda fechava os botões, quando meu sexto sentido me alerta. Logo pude identificá-lo pelo grande espelho da cômoda. Hassan, parado no vão da porta, me analisando.
O Senhor Smith parece perceber a situação do seu filho sem noção. Ele o pega pelo braço e nos pede licença. Ele se afasta com John, que exibe um sorriso resignado quando segue o pai.
O Senhor Smith volta como se nada tivesse acontecido; ao seu lado, a esposa. Então ele começa a falar da viagem que fez com ela para Nova York.
Aos poucos Hassan vai relaxando, quando vê que o boneco Ken ficou na dele, conversando com as mulheres, esposas de seus maridos despreocupados.
Logo estávamos sentados em volta da mesa de jantar. John realmente estava mais comportado, pois se sentou distante de nós, também eu não olhei para saber. Nem dá, posso sentir o tempo todo os olhos de Hassan em mim.
Deixamos a festa pouco tempo depois. Hassan se desculpa dizendo que tem uma reunião importante pela manhã.
Depois do silêncio pesado no carro, minutos mais tarde estamos de volta à nossa adorável casa. Depois, vestidos com nossos adoráveis pijamas, deitamos na nossa linda cama.
Eu não faço a menor ideia do que se passa na cabeça dele. Ele está carrancudo.
Um mistério.
Mas sei que não é algo bom.
— Não vai falar nada? — quebro o silêncio, antes de ficarmos no escuro do quarto, antes que Hassan apague as luzes do abajur.
— Dizer o quê? Que me segurei o jantar inteiro para não quebrar a cara daquele desgraçado?
Eu pairo sobre Hassan, que está com a cara amarrada.
— Hassan, encontraremos pela frente pessoas sem noção. O que não pode é te afetar desse jeito.
Hassan me encara.
— No meu país há um respeito muito grande com uma mulher casada. Jamais um homem a olharia da forma como aquele cara te olhou.
— O importante sou eu. Não vai me dizer que acha que eu dei bola para o cara?
Hassan finalmente olha para mim.
— Não, é claro que não — diz, seguro.
— Isso é o que importa, não é mesmo? A minha postura diante da situação.
Hassan respira fundo e assente para mim.
— Isso é verdade.
— Então pronto. Esquece isso.
Ele sorri com os lábios retesados.
Então finalmente deitamos.
Apagamos as luzes.
Puxo as cobertas até o queixo. Hassan funga e me abraça.
Durmo em seus braços…
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Egípcio
🙏🏻 Nossa, até que enfim um romance de verdade, literatura de verdade, com uma estória bem desenvolvida, uma redação decente e personagens que, embora tendo defeitos e limitações, evoluem, aprendendo a tomar decisões pesando as consequências e assumindo-as quando estas aparecem... Um romance que trata do desenvolvimento de um RELACIONAMENTO DE VERDADE e não apenas de uma sucessiva descrição de atos e fetiches sexuais, que é o que tem sido ofertado como "romance" hoje em dia no ocidente... Apesar de o protagonista masculino ser bastante fictício, a estória é bem desenvolvida e dá pra pular facilmente as cenas de sexo, que felizmente não são o centro da narrativa. A única coisa que ficou faltando foi um desfecho menos abrupto e melhor detalhado......
* isso é bem a realidade, Raissa... Como alguém que viveu esse "namoro para se conhecer", se casou com 11 meses de namoro e vive há 20 um casamento feliz, confirmo que esse é um caminho bem-sucedido para evitar um relacionamento sem futuro... 🌹...
É engraçado ver o nome do faraó Akhenaton, pai do faraó Tutankamon e marido da rainha Nefertiti, ser usado como sobrenome de árabes... 🤓...
PQP... Só tem mulher fraca das pernas nessas estórias? Tudo animal no cio sem cérebro? Depois não sabe por que se estrepa na vida... Acha que a vida é igual ficção, onde os canalhas mudam... Eu honestamente acho que mulher assim tem que se lascar mesmo, merece......
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Muito bom livro,leria de novo com certeza!...
Muito bom, amei....