Leon
Acordo e verifico que já era de noite. Sento na cama rápido e acabo fazendo barulho. A Vanessa me olha assustada.
— Oi! — ela diz.
— Oi. Fiquei muito tempo fora de área?
— Um pouco — ela diz, triste.
— Nada de encontrarem a Duda?
— Nada.
— Vane, por favor, chame a doutora que me atendeu.
— Ela já foi embora, e entrou outro médico no lugar dela — dou graças a Deus por isso.
— Sem problema, eu quero falar com ele.
Olho para o celular e vejo um monte de chamadas perdidas, entre elas da Laura, da minha mãe e da Vanessa.
— Leon, o que você pretende fazer?
— O que deveria ter feito antes de me doparem, vou atrás da minha namorada — ela concorda e sai do quarto.
Verifico que já estou sem aqueles fios do soro, e no lugar deles, um curativo redondo. Reviro os olhos ao sentir uma leve fisgada quando dobro o braço. Desço da maca devagar e vou me segurando. Sigo para o banheiro, lavo o rosto, e fico chocado com a minha aparência.
— Droga, Leon, o cara acabou com você! — resmungo, ao ver que estava com curativos na cabeça. Ouço me chamarem e saio do banheiro, dando de cara com um médico que me olhava meio desconfiado.
— Então, Senhor Vitorino, como o senhor está agora?
A vontade que eu tenho é de dizer que eu não estava nada bem, por causa da minha namorada, e que ele deveria se foder por estar me fazendo perder tempo com besteiras.
— Eu estou bem, doutor…?
— Ah, me desculpa! Eu me chamo Lucas Leão — me cumprimenta estendendo a mão, e vejo que a Vanessa fica corada. Então descubro que é o namorado dela.
— Então você é o namorado da minha secretária e cunhada?
— Ah, sim, ela me contou que você tinha sido internado na mesma unidade em que trabalho.
— E ela também te disse que quero ir embora para procurar a minha namorada?
— Sim, ela me contou, só que não posso te liberar ainda.
— E por que não? — pergunto, louco para estrangular o doutorzinho, mesmo sendo o meu futuro cunhado.
— Eu preciso que você faça dois exames para te liberar.
— E esses exames demoram?
— Leon… — Vane me alerta.
— Leon… Posso te chamar assim, não? — aceno que sim, e ele continua: — Eu não posso te liberar sem fazer esses exames, porque não queremos que você desmaie.
— OK, vamos fazer esses benditos exames, e quanto mais rápido fizer, mais rápido eu saio daqui! — resmungo, e vejo o alívio no rosto da Vanessa. Entendo a sua preocupação.
— Então vamos, que vou te levar para fazer uns raios-X e depois vamos fazer uma tomografia, só para desencargo de consciência.
Pego o meu celular, a carteira e as chaves do carro e entrego para a Vanessa, pedindo:
— Caso a minha mãe ligue, avise-a que logo entro em contato.
— Pode deixar — ela diz, e me acompanha até a sala de exames.
Não demora muito, faço os dois, o bom de ter um médico conhecido é que consigo fazer os exames logo.
Depois seguimos novamente para o meu quarto, e ele diz:
— Bom, dá para ver que não teve nenhuma fratura e não há manchas nos exames, e isso é muito bom!
— Então posso ir embora?
— Leon, quero que você sente na cama só para verificar os seus olhos, e depois sim você vai poder ir — sento rápido na cama, e ele começa a me examinar e fazer perguntas, e eu respondo que estava tudo bem.
— Agora sim!
— E então, agora estou mesmo liberado?
— Sim, está — dou um suspiro de alívio.
— Ótimo, agora posso ir embora.
— Leon, toma cuidado, OK?
— Pode deixar, doutor, eu vou me cuidar — agradeço, e ele escreve algo em uma prancheta e me entrega.
— Esse é o papel de sua alta. E você não vai poder dirigir.
— Por que não?
— Porque você sofreu uma pancada na cabeça e não é bom dirigir.
Mas isso para mim não serve de nada.
— Tudo bem, eu vou chamar um Uber.
— É melhor.
Estendo a mão e agradeço:
— Obrigado, doutor, por ter me liberado!
— Se eu não tivesse feito isso, você teria fugido?
Respondo sem pestanejar:
— Sim, com toda a certeza.
— Eu imaginei. E agora, o que você vai fazer?
— Vou até a faculdade ver se consigo obter o endereço do tal Pedro.
— E você não acha que a polícia já não foi lá?
— Se foi, eu não sei, só sei que vou até lá e vou fazer de tudo para descobrir o endereço daquele filho da puta!
— Então você acha que foi ele?
— Ah, sim, ele parecia surtado de manhã. Eu vou fazer questão de acabar com a raça dele.
— Então, meu amigo, boa sorte! Traz a minha cunhada de volta!
— Nem que seja a última coisa que eu faça nesta vida!
— Leon, quero ir com você! — a Vanessa me olha.
— Vane, eu prefiro que você fique aqui com seu namorado, ou mesmo vai para sua casa.
— Ela é minha irmã! — ela insiste.
— Sei disso, só que vou ficar mais tranquilo com você em segurança.
— Traz a minha irmãzinha, Leon! — ela pede, quase chorando.
— Eu vou trazê-la, Vane!
Pego as minhas coisas, coloco a carteira no bolso da calça, desbloqueio o meu celular e chamo um Uber, colocando o endereço da faculdade. Despeço-me dos dois e sigo para fora do hospital, entregando a minha alta na recepção.
O Uber já estava me esperando, e eu não queria me demorar. O motorista me cumprimenta e pergunta se eu gostaria de ir orientando-o ou se ele poderia seguir o aplicativo.
— Pode seguir o aplicativo.
— OK, daqui a pouco estaremos lá.
Eu não via a hora de encontrar a minha rainha. Sinto tanto a sua falta! De uma coisa eu tinha certeza: ela estava com aquele Pedro. Por que ele fez isso com a minha rainha? Será mesmo que ele tinha a ver com o caso do estupro?
Eu mato aquele desgraçado se foi ele mesmo que fez isso com a minha rainha! Ele vai pagar tão caro! Agora o mais importante era encontrar a minha Duda, e só assim eu me vingaria daquele desgraçado.
— Eu tenho que te contar uma coisa!
— Não quero ouvir nada!
— Ah, mas eu quero contar! Sabe quem tirou a virgindade da sua namoradinha?
— Não quero saber! — e lhe dou mais um soco forte, e mesmo tonto ele ria. O cara gostava mesmo de apanhar.
— Fui eu que tirei a virgindade da sua namoradinha, e uma coisa eu te digo: ela é deliciosa até hoje! — ele ri, e dou-lhe um soco tão forte, que acabo deixando-o desacordado.
Antes de ir atrás da minha rainha, consigo pegar uma faca e saio correndo. Volto para a minha rainha, e quando a encontro eu estou tremendo tanto, que acho que vou desmaiar. Quando ela me vê, o seu alívio é tão grande, que ela começa a chorar.
— Ei, não chora! — eu a consolo dando um beijo nela e passo a faca com força na corda.
— Leon, graças a Deus você conseguiu me achar! — ela diz, chorando, e me abraça dizendo: — Você está machucado?
— Eu estou bem, e se acalme, você está salva! Vamos sair daqui!
— Sim, vamos! — mas antes de sairmos ela me pergunta, com medo: — Cadê o Pedro?
— Minha rainha, eu não quero que você se preocupe com mais nada.
— Leon, ele pode vir atrás da gente!
— Ele vai ficar algumas horas desacordado — aviso, e sinto o seu corpo relaxar.
Levo-a embora dali, e quando estamos andando vejo um táxi passar e o chamo, dando o endereço do hospital.
— Eu não quero ir para o hospital!
— Sinto muito, minha rainha, mas temos que ir, para ver esses ferimentos, e também vou ligar para a sua irmã e ver se ela ainda está lá.
— Sabe do que senti mais falta?
— Do quê?
— De ser chamada de sua rainha.
— Mas você é e sempre será a minha rainha! — aviso, e ela me abraça com força. Então me lembro do que aquele lunático disse sobre tê-la violentado novamente e pergunto, sem jeito: — Ele te machucou em mais algum lugar?
Seu corpo fica tenso e se retrai, e a seguro em meus braços, com medo de que ela fugisse.
— Então ele te contou? — ela pergunta, com vergonha.
— Sim, e você não precisa ter vergonha, quando chegarmos ao hospital quero que faça um exame.
— Que exame? — ela sai dos meus braços, percebe o que estou querendo dizer e então ri: — Você acha que eu fui violentada?
— Você não foi? — e é quando o alívio me inunda.
— Graças a Deus, não! Seria muita falta de sorte eu ter sido violentada duas vezes, não? — ela ri, mas então começa a chorar, e choro junto com ela.
— Eu vou matar aquele cara!
— Não!
— Ele merece morrer por ter mentido para mim, dizendo que te violentou duas vezes. Eu tenho vontade de voltar lá e matá-lo! Por que você não quer que eu o mate?
— Ele vai ter o que merece, e sei que ele apanhou, e muito!
— E por que você acha isso?
— Porque as suas mãos estão machucadas, e também não quero você preso por matar aquele verme.
Chegamos ao hospital, pago a corrida e a levo direto para dentro do prédio. Assim que chegamos ao andar, ligo para a Vane avisando que a tinha encontrado e logo depois para a polícia. Desligo assim que ouço a voz da Vanessa gritar o nome da minha rainha, e ver as duas se abraçando foi a melhor coisa que aconteceu.
Elas se separam, e a Vane me olha e diz:
— Você cumpriu a sua promessa!
— Eu sempre cumpro o que prometo — brinco, e a Vane me dá uns tapinhas e me solta. Puxo a Duda para os meus braços e falo: — E agora estou precisando dos seus beijos novamente, minha linda rainha.
— Eu também preciso dos seus beijos novamente — ela diz, e, com plateia e tudo, ataco a sua boca com fúria, mostrando a todos a quem essa mulher pertencia: somente a mim.
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