Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 62

Do retrovisor do lado de fora eu os via gritando enquanto eu gritava mais alto, não conseguindo ouvir nada do que eles tentavam gritar. O motorista tentava me alcançar pela lateral.

Olhei para o lado direito e me dei em conta de que podia puxar o freio de mão. E assim o fiz. O carro parou. E ouvi o estrondo dos dois homens batendo na lataria.

- Sua louca. – O motorista abriu a porta e me puxou para o lado de fora, de forma agressiva.

Fui até os outros homens, para me certificar de que estavam bem.

- Você... Não sabe dirigir? Por que não avisou? – Um deles perguntou, tocando o peito, com o semblante de dor.

O outro me fuzilou com o olhar. Ambos entraram no carro no qual estavam e foram embora.

- Eu preciso do seu celular. – Falei para o motorista.

Ele nem olhou na minha direção. Fez uma ligação e parecia ter entrado em contato com algum guincho.

- Senhor, eu preciso mesmo do celular.

- Estou com pouca bateria e o guincho vai demorar. Não vou deixar você usar.

Eu ri, incrédula:

- Eu não tenho que ficar aqui com o senhor. Me deve a corrida. Encontre outro taxista agora.

- Você é uma atrevida. Eu lhe fiz um favor vindo até aqui. Avisei que o carro estava ruim.

- Poderia não ter aceitado a corrida. É seu dever me fazer chegar no destino.

- Sim, se você não tivesse quase ido embora com o meu carro e não fosse tão arrogante.

- Arrogante, eu? Onde estão meus direitos?

- Direitos? – ele gargalhou, indo para dentro do carro e fingindo que eu não estava ali – Em que mundo você vive?

- Eu sou advogada.

- Só se for na sua terra, porque você tem no máximo dezoito anos, menina.

- Sou filha de J.Rockfeller.

Ele riu:

- Jura? Por isso está num táxi, no meio do nada, usando estas roupas? Use seu celular então, madame. Se não bastasse ser louca, ainda é mentirosa.

Naquele momento eu percebi que meu pai havia me deixado exatamente como planejou: sem nada, nem a possibilidade de poder usar meu nome, pois não tinha nada que comprovasse quem eu era.

Não me achei arrogante. Mas se o motorista mencionou aquilo, eu tinha que mudar a tática. Eu dependia daquele homem. Quase que minha vida dependia do celular dele.

Peguei o bolo de dinheiro de bolso e mostrei para ele, que arregalou os olhos:

- Eu preciso chegar na praia...

Ouvi um som e virei, esperançosa. Era o motorista do táxi.

- A senhora... Precisa de ajuda? – Ele perguntou.

Assenti, com a cabeça.

Ele pegou minha mão e ajudou-me a levantar:

- Não sei o que houve, mas...

- Pode me emprestar seu celular, por favor?

- A senhora... Tem dinheiro para pagar a corrida?

- Não... – confessei – Mas eu vou pedir ajuda. E vou pagar... Prometo.

Ele retirou o celular do bolso e me entregou. Respirei fundo, pois parecia um sonho. A questão é que eu não sabia números de telefone de cor. A pessoa que fazia contas com facilidade, transformava dias em horas, minutos e segundos, não decorava o celular dos familiares.

Eu não tinha mais dinheiro, família, os amigos nunca foram verdadeiros. E além do número do meu pai, só havia outro que decorei, de tanto ligar.

- Alô? – Ele atendeu no segundo toque.

- Colin, sou eu. Preciso de ajuda.

- Sabrina?

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