- Eu não vou desistir de você, Sabrina.
- Não perca seu tempo, Colin.
Desliguei a ligação e não voltei para o jantar. Eu sinceramente não entendia o que se passava com Colin. Ele achava mesmo que poderia haver volta depois do que ele fez?
Não tinha horário para o encontro com “el cantante” no sábado. Ele havia dito que estaria lá desde o nascer do sol. Eu pus o relógio para despertar às seis horas da manhã. Porque queria chegar cedo à praia.
Levantei e toquei o controle, abrindo as cortinas automáticas e deixando o sol brilhante tomar conta do meu quarto.
Seria um lindo dia. O melhor da minha vida. Porque eu encontraria Charles.
Organizei uma pequena mala com biquíni, saída de banho, protetor solar, shampoo, condicionador, hidratantes, óculos e boné. Encontrei uma lingerie rendada que eu havia comprado para a lua de mel e pus por baixo da roupa. Escolhi um macacão em linho, num corte reto e elegante e sandálias de salto quadrado, em tom caramelo, que combinava com o gelo do tecido da roupa. Meus cabelos ficaram soltos e fiz uma maquiagem leve. Não quis marcar cabelos e maquiagem para tão cedo. Também não queria despertar suspeitas. Por isso fiz tudo sozinha.
Claro que não avisei meus pais que eu sairia. Até porque teria que dar satisfações e embora meu pai estivesse convencido de que eu estava voltando a ser quem era antes de tudo acontecer, não me deixaria sair sem o motorista.
Então a intenção era descer e pegar um carro qualquer na garagem. Quem sabe o de Mariane?
Assim que saí na porta do quarto, com a pequena mala de mão, avistei minha irmã saindo no mesmo momento. Ela vestia um terno preto com blusa branca e scarpin preto. Os cabelos estavam presos num rabo de cavalo baixo.
- Vai sair? – Ela olhou no relógio.
- Vou... Dar um passeio com algumas amigas.
- Que amigas?
- Amigas... Não preciso lhe dizer quais são.
- Ok, não precisa ser rude. Foi só uma pergunta.
- Onde você vai?
- Trabalhar.
- No sábado?
- Papai tem uma reunião importante agora às oito horas com um empresário. Eu vou junto.
Respirei fundo. Não esperava encontrar toda a família na mesma hora que eu saísse.
Mariane pôs a mão na minha concha e virou-a para si:
- “CS”. O que seria? – Arqueou a sobrancelha.
- Nada que lhe importe.
- Eu... Não tinha observado você usando isso. É nova?
- Não tanto...
- Tem... Algum significado?
- Sim... “Sabrina Corna”.
Ela revirou os olhos:
- Definitivamente, eu desisto de tentar fazer as pazes com você.
- Enfim! – Falei, andando na frente dela, sem me importar.
Segui com a mala na mão. Não estava pesada. Enquanto descia a escada, pensei em pedir o carro de Mariane emprestado. Ela iria a reunião com nosso pai, então certamente usariam o motorista ou o carro de J.R. E como ela queria ser perdoada, talvez me ajudasse.
Parei no meio da escada, incerta sobre voltar e falar com ela ou ir.
Olhei para baixo e observei a sala, parecendo longe demais. De uma hora para outra, tudo ficou embaçado e lembro de ter visto os coqueiros ao fundo da piscina começarem a balançar com força, tonteando-me.
Larguei a maleta e segurei-me firme ao corrimão.
- Sabrina, está tudo bem? – Mariane perguntou, no topo da escada.
- Não...
Quando fui para o quarto, meus pais e Mariane estavam me esperando, ambos sentados num confortável sofá. Meu pai bebia café puro e minha mãe chá.
Quem conseguia beber dentro de um hospital?
Tentei ir caminhando até a cama, mas não permitiram. As enfermeiras me puseram sobre ela.
- Eu não estou doente. – Afirmei, ao vê-los encarando-me.
- Quem vai dizer é o médico. – Meu pai afirmou.
- Onde você estava indo com uma maleta contendo biquínis e itens de praia? – Minha mãe questionou.
- Mãe... Você abriu as minhas coisas?
- Claro que sim. Estava tentando entender onde você iria tão cedo.
- Eu... Tinha marcado uma praia com as colegas da faculdade. – Menti.
- Por que não nos avisou? – Jordan me fuzilou com o olhar.
- Pai, era só um dia de praia.
- Como você iria?
- Uma delas passaria para me buscar. – Menti, certa de que ele jamais saberia que não era verdade.
Um dos médicos entrou no quarto. Era jovem e bem-apessoado. Moreno, olhos castanhos claros, alto e magro.
- E então, doutor? Está tudo bem com ela? – meu pai levantou, preocupado – Já é a segunda vez que ela passa mal, num curto intervalo de tempo.
- Não houve nenhuma fratura. Somente alguns hematomas nos braços, cotovelos e pernas – ele mostrou ao meu pai, cada um deles – Mas poderia ter sido fatal para o bebê. Não houve sangramento, mas vamos fazer uma ultrassonografia de urgência para confirmar se está tudo certo com a criança.
- Criança? Que criança? – Meu pai falou tão alto que pareceu mais um grito.
Eu fechei meus olhos e recostei-me sobre o travesseiro que estava atrás das minhas costas. Era um sonho... Eu tinha certeza. Logo iria acordar e pegar minhas coisas e ir ao encontro de Charles.
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