Minha cabeça virou um emaranhado de histórias que se confundiam. E eu não conseguia entender o sentimento dentro de mim com relação à Mariane: pena, raiva...
- Ela... Nunca mais soube da criança?
- Creio que não. Quando se dá a criança a uma instituição especializada, é tudo feito de forma sigilosa, tanto para a mãe que entrega a criança quanto para a que adota.
- Por isso ela quis roubá-lo... Destruir a J.R Recording. Vingança... Queria que ele sentisse na pele o que é perder tudo que se tem de mais precioso.
- Talvez... Não sei o que se passa na cabeça de Mariane.
- Eu... Não esperava isso. Quer dizer que existe um Rockfeller por aí... Perdido no mundo.
- Ela entregou em Noriah Sul.
- Para não ter a possibilidade de cruzarem com ele nem acidentalmente.
- Creio que sim.
- Quantos anos ele tem agora?
- Em torno de dez anos.
Balancei a cabeça, aturdida.
- Eu não tinha o direito de lhe contar isso... Mas acho justo que saiba, entende?
- Agora explique, Min-ji: o que eu fiz a ela, para transpor toda raiva para mim?
- Talvez tenha sentido inveja pela sua coragem, em sair de casa, não se importando com o que deixava para trás, mas lutando pelo seu bebê. Ela não conseguiu fazer isso.
- E o que o fato de ela ter dormido com Colin tem a ver? Sinceramente, ela é perversa. E isso não tem a ver com o sofrimento que ela possa ter passado. Eu literalmente “comi o pão que o diabo amassou” e não perdi minha dignidade no meio do caminho.
- Não sei, menina... Não sei o que a levou a dormir com seu noivo.
- Bem, vamos pensar que ela dormiu com Colin para que eu dormisse com Charles para que Yuna pudesse dormir com Colin também... E todos nós, exceto ela, fôssemos felizes para sempre.
Min-ji riu:
- Isso é bem estranho.
- A vida é estranha, não é mesmo? – Pus a mão em torno do seu ombro, de forma afetuosa.
- Realmente... Quem diria que minha filha se envolveria com Colin Monaghan?
- No fim, acho que cada um tem o que merece, Min-ji. Yuna merecia uma pessoa legal. E apesar de tudo, Colin sempre foi um homem legal. E sinceramente, acho que ele jamais vai trair Yuna. Porque não haverá uma irmã invejosa querendo puxar o tapete dela por simples crueldade.
- Meu amor, não está muito frio para você aí na rua? – Ouvi a voz de Charles, enquanto ele descia em direção à praia.
Min-ji deu-me um beijo no rosto e subiu. Charles me envolveu em seus braços. Deitei minha cabeça no seu peito, escorando o corpo no dele, contemplando a lua novamente.
- Viu que as estrelas voltaram a brilhar intensamente? – Ele mordeu o lóbulo da minha orelha.
- Elas viram que chegamos... E quiseram nos presentear. Como a lua... – Falei, sentindo meu corpo arrepiar-se.
- Está com frio? – Ele passou a mãos sobre meus braços eriçados.
- Não... Isso é só a sensação que a sua boca me causa.
Ele riu, me abraçando com força, o pau já endurecendo na minha bunda:
- Percebe o que você me causa, garotinha?
- Charles... Você acha que eu sou uma boa pessoa?
Ele pensou um pouco antes de responder:
- Acho que ninguém é de um todo bom... E nem ruim.
- Se eu perdoasse a minha irmã, o que você faria?
Assim que parei em frente à porta, fazendo menção de tocar a campainha, ela foi aberta.
Olhei para o homem de cabelos longos, escuros e malcuidados. Os olhos eram de um verde claro e a boca fina. Usava uma regata, mostrando as inúmeras tatuagens nos braços e pescoço. A calça jeans apertada estava toda rasgada e não sei se era por moda ou porque realmente estava velha. Ele não usava nada nos pés.
Aquele Hardlles não lembrava em nada o que eu via na TV quando era pequena... Nem na adolescência. O tempo havia sido cruel com ele.
- O que você quer? – Perguntou, sem rodeios.
- Sou irmã de...
- Eu sei quem é você – falou de forma rude – A Rockfeller que quer virar famosa, detonando o pai e a irmã em rede nacional.
- Será que... Eu poderia entrar?
Ele saiu da frente da porta, deixando-me passar. O apartamento era grande. Cheguei diretamente na sala, que era toda em vidro, trazendo uma boa vista da cidade. O lugar estava completamente sujo, com caixas de pizzas e garrafas de bebidas por todos os lados. Tinha apenas um sofá horrendo e uma televisão gigantesca em todo o ambiente.
- Se eu soubesse que você viria, teria mandado limpar a casa. Mas como foi surpresa, sabe como é... – Falou em tom de deboche.
- Eu... Não me importo.
- Mas eu me importo. O que você que aqui, afinal? Eu quero distância de você e da sua família.
- Temos algo em comum então: eu também quero distância da minha família.
- Eu não tenho nada a ver com isso. – Ele saiu, pegando um cigarro num balcão que dividia o ambiente sala/cozinha e acendendo, fazendo questão de jogar a fumaça na minha direção:
- Espero que não se importe, em função da gravidez... Mas se importar-se, para mim tanto faz, afinal, estou na minha casa. – Foi rude.
Ele pegou uma guitarra e sentou-se no sofá, começando a afiná-la, sem olhar na minha direção.
- Eu me importaria... Mas como vou ser breve, não fará mal ao meu bebê. – Falei firme, chamando a atenção dele de certa forma.
Hardlles me olhou, com o cigarro no canto da boca, as duas mãos na guitarra, curioso.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão