Quando desci com Melody, todos estavam na sala principal. Ela usava o vestido rosa que amava, cheio de babados e rendas. Não quis esperar a noite de Natal para usar.
- Você está linda! – Charles disse, sem conter a emoção ao vê-la.
Ela rodou várias vezes, fazendo a saia girar:
- Eu sou uma princesa. – Começou a se exibir.
- É a princesa do vovô. – J.R abriu os braços e ela se jogou neles, sendo paparicada e mimada por ele e Calissa.
Eu não conseguia entender como ele conseguia ser tão doce e amável com ela. Sinceramente, eu nunca havia visto aquele J.R na vida: relaxado, cheio de amor e carinho para dar.
Respirei fundo e sentei no sofá, de frente para Charles e Mariane. Yuna estava do meu lado. Guilherme ainda não havia descido.
Mariane levantou o braço de Charles e pôs sobre os ombros dela, deitando no peito dele. Senti o sangue ferver dentro de mim. Olhei para Melody, que estava contando várias histórias ao mesmo tempo para os avós, empolgada.
Deitei a cabeça para trás, olhando para o teto. “Viva com o que você mesma planejou, Sabrina, sua doida.”
J.R e Charles pouco se falavam e isso não era somente naquele momento. Foi desde que chegamos. Mas eu não poderia tirar aquilo por base, pois Calissa também não parecia ter muita intimidade com ele. O que me fazia crer que o relacionamento dele com Mariane fosse bem recente.
Guilherme desceu e sentou-se ao meu lado. Tinha tomado outro banho e estava cheirando bem. Sorri para ele, que pegou minha mão. Respirei fundo, sabendo que a situação poderia explodir a qualquer momento.
Melody viu que seu pai estava sendo requisitado demais pela namorada-tia e desceu do colo de J.R, correndo para o dele, que rapidamente desvencilhou-se de minha irmã e acolheu a filha, sorrindo encantadoramente para ela.
- Você pode cantar uma música para mim, Charlie B.? – Ela pediu.
- Claro que sim, pequena. Quantas você quiser. Vamos comigo buscar o violão?
Ela assentiu com a cabeça e ele pegou-a no colo, subindo as escadas.
- Não se preocupa de ela ficar com ele assim, sendo que é um completo desconhecido para vocês? – Minha mãe perguntou, arqueando a sobrancelha.
- Medy sempre foi assim... E não tivemos muito contato com o sexo masculino nos últimos anos, a não ser Do-Yoon, irmão de Yuna e Gui, que apareceu há poucos meses nas nossas vidas – olhei para ele, que seguiu segurando minha mão – Ao ver a forma como ela age com Gui ou mesmo Charlie B. me pego pensando se o pai não lhe fez mais falta do que eu imagino.
Houve um silêncio não tão breve no ambiente. Yuna quebrou-o:
- Bonita árvore de Natal.
- Fizemos em função de Melody... – Calissa respondeu – Desde a partida de Sabrina os Natais não foram mais comemorados na família Rockfeller.
- Troque o termo “partida” por “expulsão”, mamãe. Afinal, não foi por livre e espontânea vontade.
- Melody iluminou nossas vidas – J.R me olhou – Obrigado por ter aceitado trazê-la.
- Gui, eu estava conversando com meu pai anteriormente. E ele me disse que gostou muito de você. – Debochei.
- Sim, sim... – Ele ficou confuso – Inclusive perguntei à Sabrina sobre o que você faz... Ou... Pretende fazer. – Coçou a cabeça, a voz mais baixa.
- Concluí o Ensino Médio há alguns dias... Aliás, Sabrina era minha professora de Matemática.
- Envolveu-se... Com seu aluno? – Mariane me olhou.
- Sim. – Sorri, debochadamente.
- Eu gosto de andar de skate... Talvez siga com isso.
Ele sorriu e me olhou, começando a tocar “O começo de algo bom”. Deus, eu sabia que aquela música ele tinha composto para mim, com o objetivo de me encontrar. Mal sabia que já tínhamos Melody quando a ouvi pela primeira vez.
A voz de “el cantante” era maravilhosa. E acho que um solo, só ele e o violão, conseguia ser ainda mais perfeito que a versão em estúdio.
Ela falou uma coisa no ouvido de Charles, que sorriu, sem parar de cantar, me encarando sem disfarçar.
- O que ela disse? – Mariane perguntou, sentando-se ao lado deles e tentando fazer carinho em Melody, que a olhou, surpresa.
- Eu disse que lembro desta música... Quando eu estava na barriga da mamãe. – Ela riu, pondo a mão na boca, achando divertido.
Mariane não sorriu. Ficou pálida. Mas engoliu a raiva e perguntou:
- Quer sentar no meu colo?
- Não. – Melody foi direta.
- É impressão minha ou você não gosta muito de mim? – Ela sorriu, aturdida.
- Eu não gosto de você.
- Filha... – Tentei criticar, em tom não muito firme.
- Lembra o que eu disse? – Yuna meteu-se – Ela é sincera... Só isso.
- Eu... Vou me retirar. Estou com sono. – J.R disse, levantando-se.
- Vou acompanhá-lo. – Calissa imediatamente falou.
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