- Mamãe, nós vamos, não é mesmo? Diga que sim, por favor. – Melody juntou as mãos, em prece.
- Medy... Não tem como.
- Por quê?
Tinhas vezes que eu odiava responder aos porquês dela. E agora era uma destas vezes.
- Porque... – tentei pensar rápido – É longe... E mamãe tem que trabalhar.
- Mas não tem aula no Natal. – Ela arqueou a sobrancelha.
- Esta menina é simplesmente magnífica. – Calissa falou, não conseguindo desviar os olhos da neta.
- Você quer me pegar no colo? – Melody ofereceu-se.
- Eu... Ficaria muito feliz se você deixasse eu pegá-la. – Vi as lágrimas nos olhos de minha mãe, que tentou contê-las em vão.
- Mãe, ela está muito pesada por conta do gesso... Não precisa... – Tentei alertar, mas era tarde. Melody já estava no colo dela.
Calissa Rockfeller estava completamente apaixonada pela neta... Pela minha Medy... Minha filha com “el cantante”.
- Você tem cheiro de...
- Filha – ela completou – Mamãe diz que é o melhor aroma do mundo inteiro. Ela já pensou em pôr num frasco. – Sorriu, orgulhosa.
Calissa me olhou:
- Eu diria que tem cheiro de amor... Misturado com doce e ternura. – Sorriu.
Comprimi os lábios, sentindo meu coração bater fraco, como se estivesse apertado dentro do peito. Minha mãe e minha filha... Ambas tão significativas na minha vida.
- Esta menina não parece ter apenas cinco anos. – Calissa observou.
- Eu faço seis em breve.
- Não... Ainda falta tempo. Mas ela já conta os dias para o próximo aniversário assim que completa anos.
- Você também era assim.
- Eu posso ajudar você a montar a árvore de Natal na casa de praia? – Melody perguntou, com os braços envoltos no pescoço da avó.
- Claro que sim. Vovô pode ajudar?
- Sim... E mamãe e papai também?
Calissa me olhou:
- Seria um prazer... Todos nós, juntos, neste Natal.
- Não... – Falei, com a voz fraca.
- Pense que nunca sabemos quando será o nosso último Natal... E se for este?
- Não se preocupou nos anteriores... Se eu tinha sequer o que comer na ceia.
- Acha mesmo que eu nunca soube sobre você, Sabrina?
Olhei para Min-ji, que abaixou a cabeça.
- Porque sempre há tempo... E é melhor depois de cinco anos do que dez... Ou nunca. Pedidos de desculpas são feitos para reparar erros... Isso quer dizer que errar é do ser humano e sempre aconteceu...
- Não consigo...
- Melody quer ir. Não é justo privá-la da convivência com os avós e a tia. Ela é parte de nós.
- Vocês não a quiseram.
- Eu sempre quis... Você sabe disto. Inclusive tentei vir conhecer Melody. Você não permitiu. E mesmo com o coração partido, eu respeitei sua decisão. Mas cheguei no ponto de perceber que cinco anos é tempo demais. E que não me importa mais o que você pensa sobre mim ou seu pai ou o que sua irmã fez no passado. Porque todos cometemos erros... E você também deve cometer os seus... Porque é humana, porque é mãe, porque é como todos nós...
- Eu vou. – Falei, num impulso, muito mais por ela, “mãe”, do que por J.R e Mariane.
Calissa me abraçou:
- Obrigada!
Minha mãe não ficou muito tempo. Realmente só queria me convencer a passar o Natal com os Rockfeller, na casa de praia, a qual íamos com frequência quando éramos crianças, mas que com o passar do tempo ficou muito mais como uma lembrança distante, já que meu pai preferia hotéis e países diferentes no nosso período de férias.
Assim que fiquei somente com Melody, voltei a fazer o nosso chocolate quente. Entreguei-lhe a caneca fumegante, com o líquido que amávamos.
- Você não pode me dar chocolate muito quente, mamãe. Eu posso queimar a boquinha.
- Eu não faria isso, docinho. – Apertei seu nariz.
- Está saindo fumaça.
- Mas eu já assoprei.
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