Jogo de Intrigas romance Capítulo 4

Quando Armando Torres enfia a cabeça branca pela brecha da porta da sua sala, eu tenho a impressão de que aquilo não vai acabar nada bem.

— Vitória, eu preciso falar com você. Agora — ele avisa, antes de voltar para dentro.

Franzo a testa, preocupada. Além disso, sinto que deixei passar alguma coisa. Pelo tom que ele usou, parece que estou prestes a levar uma bronca, mas cheguei cedo essa manhã, antes mesmo das sete. Ainda estou tentando compensar a minha falta, há dois dias, quando Joaquim ficou com febre.

Será por isso que o velho está aborrecido?

Não acho. Embora não tenha ficado muito feliz, foi com a sua permissão que eu me ausentei.

Finalmente, tomo coragem e me levanto da mesa, ajeito o vestido preto simples e caminho até a sala do Sr. Torres, sobre os meus sapatos de salto, fechando a porta atrás de mim.

— Em que posso ajudar?

O velho levanta os olhos do papel que estava analisando.

— Alguma coisa que gostaria de me contar, Vitória?

— Como assim?

Ele fecha os olhos por um segundo, parecendo querer recobrar a paciência perdida.

— Gostaria de saber o que houve entre você e Alberto, ontem.

Não sei se rio ou se choro.

Na verdade, eu fico surpresa que o babaca do Alberto tenha tido coragem de fazer fofoca para o pai, mas uma pequena onda de alívio me invade, porque talvez essa seja a oportunidade de resolver aquele nosso impasse.

Abro a boca para relatar a Armando Torres sobre as indelicadezas do seu filho, mas ele é o primeiro a falar.

— Alberto disse que você tomou certas liberdades com ele.

O meu queixo despenca.

Depois disso, é como se eu tivesse sido jogada em um universo paralelo.

— O que o senhor disse?

— Acho que você ouviu, Vitória. Meu filho disse que você foi... sexualmente atirada com ele. Isso é verdade?

—  Não!

Ele suspira, meneando a cabeça.

— Entenda, eu compreendo que um rapaz com o charme de Alberto possa ter despertado o seu interesse. Especialmente se tratando de alguém com uma condição financeira melhor do que a sua.

Um tremor de raiva sacode o meu corpo.

— O que foi que o senhor disse, Sr. Torres? Acha que estou interessada em dar um golpe no seu filho?

Não acredito.

Pensando bem, até que seria engraçado. Se não fosse tão humilhante.

Eu dando o golpe do baú cretino!

— Não fique chateada, Vitória. Mas você precisa se colocar na minha situação. Eu não acredito que você seja o melhor para o meu filho nesse momento. Ele é jovem e solteiro, enquanto você...

— Enquanto eu o que?

— Você já tem um filho — ele pigarreia, depois gesticula com desdém. — Um filho do qual nunca ouvi falar a respeito do pai, por sinal.

— Eu não sabia que como meu patrão, o senhor deveria estar a par da minha vida particular — resmungo.

Estou fervilhando.

Fervilhando de raiva, mágoa e indignação.

Tenho dado duro nesse escritório e o velho me trata como se fosse uma golpista do baú miserável? Isso como se ele não conhecesse muito bem a laia do seu filho.

— Não é isso – ele nega. — Não seja tão cabeça quente.

Meu sangue é uma mistura de Brazil, Espanha e Itália e, por isso, talvez, eu seja pouquinho esquentada sim.

Mas eu também sou justa.

Digna.

E honesta.

E não aceito ser passada para trás, pisoteada ou humilhada. E de jeito nenhum, vou permitir que ofendam o meu filho.

— Me desculpa, Quim – eu me agacho, segurando seus ombros e olhando dentro dos olhos dele. — Você sabe o pior dia do mundo? — ele dá de ombros, ainda chateado. — Você sabe... o pior dia do mundo quando tudo de ruim acontece e você só quer gritar e surtar com todo mundo.

— Mas é errado.

— É claro que é errado — eu coloco a mão sobre o peito dele. — Nós temos impulsos selvagens, meu filho. Bem aqui dentro. Mas precisamos reprimi-los.

— Porque é isso o que nos torna diferentes dos animais.

— Exato.

Eu olho para o meu filho, emocionada.

Joaquim está ficando esperto.

E Alberto está errado. Não faz falta alguma ao meu filho ter um pai. Se eu continuar ensinando a ele o que eu sei, tudo vai acabar dando certo.

— Para onde nós vamos, mãe?

Eu me viro para o lado, para a única mala e a pequena mochila no chão.

— Vamos para a casa de uns tios.

— Aonde?

— Na Itália, querido. Você vai adorar!

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