Theo sai do quarto antes mesmo que eu consiga chegar às escadas.
Faço o possível para andar mais rápido, mas ele me alcança em dois passos largos, me puxando pelo braço.
Eu encaro o seu semblante furioso.
— Eu posso saber o que deu em você lá dentro?
— Por que decidi me intrometer no seu “de homem para homem”? — faço aspas com os dedos, vendo os olhos dele brilharem perigosamente.
— Quero saber por que você chorou. Está fazendo uma ceninha para que Joaquim sinta pena?
A raiva é tanta que eu chego a perder o ar.
Quando foi que Theodoro se tornou esse cínico? É inacreditável que eu esteja mesmo falando com o homem com quem fui casada por anos!
— Sinto muito desapontá-lo, mas não costumo usar dos seus métodos para conquistar as pessoas.
Ele franze o cenho.
— Do que você está falando?
— Do papel de pai interessado que você desempenhou tão bem agora a pouco.
Theodoro estremece.
Pelo muito que o conheço, sei que esse não é um bom sinal.
— Eu não estava desempenhando nada, tenho um filho que nunca conheci. Por que não deveria estar interessado?
Se eu não estivesse tão irritada, daria uma gargalhada bem agora.
— Eu também tenho um filho, Theo, você sabia? Um filho que eu gerei por nove meses, pari e amamentei. E depois ele foi arrancado de mim sem a menor explicação. Vai mesmo querer discutir sobre isso comigo?
— Não tenho por que discutir com você — ele rosna, aproximando o rosto do meu e abaixando a voz para que Joaquim não nos escute. — Sou o senhor dessa casa e você só está aqui enquanto eu concordar com isso, não se esqueça. Além disso, houve um motivo para você ter sido expulsa daqui e você sabe muito bem qual foi.
— Eu não sei – tento me desvencilhar dele, sua boca tão perto que me deixa tonta. — Me solta, Theo.
Ele passa a língua pelo lábio inferior, depois segura ele entre os dentes.
Minha respiração fica fraca e irregular.
Há quanto tempo não ficamos tão perto? Meus olhos ardem com as lágrimas contidas e eu movo a cabeça um pouco para cima. Seus lábios roçam nos meus por um instante. Há uma fagulha de eletricidade e Theodoro se afasta, surpreso.
— Até quando vai continuar insistindo nisso, Vitória? Bancando a vítima inocente — ele me olha com desprezo. — Isso só torna você uma mulher fraca e patética.
As palavras dele me magoam, mas não vou dar o braço a torcer.
— Sorte a minha que eu não me importo com a sua opinião — eu digo, mas ele nem se abala. — Você está me machucando.
Theodoro me solta bruscamente.
— Essa tarde feliz em família é uma ideia ridícula. Não sou obrigado a perder nem um minuto do meu tempo com você. Diga a Joaquim que mudou de ideia.
— Não.
Ele me encara como sobreaviso.
— Então vou garantir que não possa comparecer.
— E como vai fazer isso? — levanto as sobrancelhas. — Me trancando no quarto?
Theo abre um sorriso torto, cruzando os braços sobre o peito largo.
— Até que enfim teve uma ideia racional.
— Seu filho da...
— Vicenzo!
— Quem é Vicenzo? — pergunto, desconfiada.
— Você já vai descobrir.
Do que é que ele está falando?
Quando enfim compreendo, sou atingida por uma onda de choque e total perplexidade.
— Theo, não seja imbecil...
— Desde quando você pinta o cabelo? — ele murmura, em tom grave.
Franzo a testa.
Do que é que ele está falando agora? Está se referindo as minhas luzes?
— Não é da sua conta, italiano maldito.
O olhar dele se torna intenso.
— Combina com você — Theo chega ainda mais perto. Sua outra mão segura minha garganta, acariciando de leve com o polegar. A veia na lateral do meu pescoço salta e eu fico quente e mole ao mesmo tempo. Ele inclina o rosto para baixo, sua boca outra vez a um centímetro da minha. — Você quer que eu te beije, Vitória?
Aquele sussurro rouco faz minha calcinha ficar ensopada.
É impossível manter a sanidade perto desse homem.
— Quero que você me deixe em paz — balbucio, querendo exatamente o contrário.
O olhar de Theo vacila.
Um segundo depois, meu ex querido esposo me solta de repente, me encarando com amargura.
— Seu desejo é uma ordem nesse caso.
Ele se vira para sair. Então no último minuto, ele olha sobre o ombro como se tivesse lembrado de algo importante.
— Quer saber o que eu disse a Vicenzo?
Eu empino o queixo, irritada.
— Como assim? Do que está falando? Você mandou aquele brutamontes me trancar no quarto.
Theo ri.
— Não, querida. Vicenzo é apenas o motorista — ele dá de ombros, casualmente. — Mandei que ele a levasse até o shopping. Você deveria comprar roupas novas... vai melhorar esse mau humor.
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