Ficar ou correr? romance Capítulo 590

Eu apenas o olhei, imóvel.

João ficou quieto por um breve momento. “Quando a conheci, ela tinha apenas dezessete anos. Ela morreu na idade em que sua beleza estava no auge. Não quero forçar sua mão, então faça você mesma.”

“Pelo menos me diga sobre quem está falando e por que me escolheu para isso”, perguntei.

Quando ele levantou a cabeça para me olhar, seus olhos pareciam calmos. Na verdade, pareciam desprovidos de emoção.

“Ela era prima de Pedro, Noemi Carvalho. Nunca tive a intenção de machucar você especificamente, Scarlet, mas há um buraco onde meu coração costumava estar. O diabo mora lá agora e não consigo tirá-lo.”

“Então, agora me tornei o cordeiro que precisa ser sacrificado?”, o olhei incrédula.

“Na verdade. Acontece que Pedro está apaixonado por você.” João encolheu os ombros. “Nós somos melhores amigos. Se eu perder alguma coisa, é justo que ele perca algo também. Precisamos partilhar esse sentimento de empatia; caso contrário, ele nunca saberá como é perder o amor de sua vida.”

Sarah mencionou que Carlos teve uma filha quando era mais jovem. Infelizmente, ela faleceu devido a um acidente e ele nunca mais quis ter filhos após isso.

Também soube que meu marido tinha uma prima com quem João namorou. Mas, eu não estava presente durante essa época, logo, não tinha ideia do que havia acontecido no passado.

Não sei o que esse cara sente, mas ele deve ter perdido sua humanidade há muito tempo para tomar tantas medidas extremas.

Ele lamentou: “Você realmente me lembra dela às vezes. Quando me entregou aquelas roupas, eu quase as confundi. Vocês duas são tão gentis. E, após isso, eu queria ajudá-la a deixar Pedro para que pudesse ser livre. Por que você não o deixou?”

Seu olhar para mim era de pena e compaixão, misturado com várias outras emoções complicadas que eu não conseguia identificar.

Mordi meu lábio inferior, sem saber como responder.

João soltou uma risada sem emoção. “Talvez se você o tivesse deixado naquela época, sua vida seria drasticamente diferente. Eu nunca teria te machucado, não teria conhecido Márcia e você não estaria brigando com seus pais…”

Ele parou abruptamente e um sorriso cruel surgiu em seus lábios enquanto seu olhar se tornava afiado.

“Você vê agora? Vê por que Pedro merece morrer? Ele machuca a todos que ama! Ele vincula as pessoas a ele e proclama em voz alta que está fazendo isso por ‘amor’. Não importa o quão depressivo você se sinta, esse cara sempre irá confortá-lo com palavras doces e dirá sobre como sempre irá protegê-lo e tratá-lo bem. E então, chega a um ponto em que você nunca suportará machucá-lo, mesmo que o odeie até a morte.”

Como acreditei nele, assenti com a cabeça.

Me pergunto se aquele taxista chamou a polícia. Provavelmente não. Fui muito imprudente de vir aqui sem informar Marcelo. Se eu morrer agora, ninguém seria capaz de descobrir o que aconteceu comigo.

Não quero ser descoberta como um cadáver em decomposição!

João parecia divertido enquanto me observava olhar atentamente para a garrafa de ácido sulfúrico. “Eu dei a você a escolha de morrer da mesma forma que Noemi. Você deveria estar grata.”

“Acha que me dar opções sobre como me matar é um privilégio?”

“Sim, dá à coisa toda uma sensação de ritualismo. Agora, chega de papo, faça isso.”

Eu não tinha medo de morrer. No entanto, eu detestava pensar que minha morte seria assim. Logo, meus movimentos eram lentos e hesitantes.

Infelizmente, a paciência de João já estava no limite, o homem se levantou exasperadamente e caminhou até a mesa. Ele pegou a garrafa de ácido sulfúrico, girou a tampa lentamente e me encarou.